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Amélia Miller

Alyssa e eu somos melhores amigas desde que ela e Charlie se mudaram para a nossa escola. Ao contrário do que muita gente pensa, nós não ficamos amigas de imediato, muito pelo contrário, eu e ela não nos demos muito bem no início. Não me lembro direito o porque, mas sei que todo mundo do sexto ano achou que a qualquer minuto iríamos sair na porrada.

Isso só mudou graças a Tess, que começou a agir como uma vaca com a Alyssa por causa do Charlie – O garoto causava tragédias hormonais nas garotas desde os doze anos, vai entender.

Era uma tarde tediosa e quente, e quase o sexto ano inteiro estava enfurnado no refeitório para o almoço. Eu estava sentada em uma mesa, ouvindo música enquanto comia – naquela época, já havia me afastado um pouco de Tess – foi quando vi Tess empurrando Alyssa para o lado, porque ela queria ficar perto de Charlie. Ele até tentou fazer alguma coisa, mas Tess não deu ouvidos – como sempre.
Como eu era uma mini-curiosa-de-maria-chiquinha, eu fui até lá e me meti na briga, perguntando o que estava acontecendo. Foi assim que Tess respondeu:

– Não é da sua conta, sai daqui esquisita.

Isso não me ofendeu, é claro, mas ofendeu Alyssa. Ela se colocou na minha frente e disse a seguinte frase:

– Você é uma vaca! Deixa ela em paz!

É claro que fiquei surpresa, afinal, Alyssa e eu não nos dávamos tão bem assim na época. Na verdade, acho que todos os seres humanos do sexto ano que estavam ao nosso redor, observando, ficaram surpresos.

E então, logo depois de dizer o que disse, Alyssa empurrou Tess de volta. Não sei o que aconteceu direito, que as duas começaram a brigar, arrancando gritos de euforia de todo mundo naquele refeitório. Era um puxa de cabelo pra lá, um tapa aqui, e até rolar no chão elas rolaram. tess ficou com um arranhão enorme na bochecha, enquanto Alyssa com um olho roxo. E quem separou a briga do Charlie, que puxou a irmã para longe da futura “amiga colorida”.

Foi divertido.

Enfim, desde aquele dia em diante, Alyssa e eu somos inseparáveis. Até hoje ela odeia Tess, que nem olha mais na minha cara e provavelmente já esqueceu que um dia fomos amigas. Eu não a odeio, apesar de tudo, apenas não entendo o que aconteceu com a gente. Mas, por sorte, o destino colocou Alyssa na minha vida e agora tenho alguém com quem dividir fofocas e rosquinhas recheadas.

– Ele é um gostoso. – Alyssa apoia os cotovelos nos joelhos, inclinando a coluna para frente.
Sigo seu olhar até o meio da quadra, onde Noah e Scott Lewis se alongam para a educação física. Scott é outro gostosão, e não estou falando nem de corpo, porque ele é um tanto magro, mas estou falando de beleza. De face. De rosto. De voz. De cabelo. De tudo! O cara é lindo, toca violão, canta e joga lacrosse no time da nossa escola. Ele é aquele cara da qual todas as garotas já tiveram um crush, mas que hoje em dia só acham ele bonitinho e um bom amigo – exceto Alyssa, que está decidida de que quer se casar com ele, ter três filhos, um cachorro, um gato e morar em Nova York.

– Soube que ele está namorando Amanda Backer, do South High. – South High é a escola do sul, e é a maior rival da nossa escola quando o assunto são competições. Tipo, todas as competições.
– Não tá nada, ele tá namorando comigo – Alyssa faz bico – só não sabe disso ainda.

Dou risada, voltando a prestar atenção no restante dos alunos na quadra. Eu não faço EF, e já faz anos que eu estou nessa mesma. A culpa disso é da Doença Arterial Coronariana (DAC) – para resumir bem, essa doença basicamente interrompe o fluxo sanguíneo nas artérias que levam sangue ao coração. É algo muito comum entre gente velha, mas eu nasci toda errada, então é claro que eu tinha que ter algum problema. E, quando tinha 11 anos, eu literalmente quase morri por causa dessa doença idiota, então fiz um transplante de coração. Naquela época, minha vida mudou de ruim para pior, e eu comecei a sentir como se não fosse eu mesma, afinal, o coração não era meu.
Conforme fui crescendo, aceitei o meu destino de ser uma garota com uma doença que poderia voltar a qualquer momento. Eu tenho muita sorte por ter conseguido um coração novo e, ainda melhor, continuar fazendo com que ele funcione direito; já não tenho problemas já faz anos.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora