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Amélia Miller 

Como previsto, minha pequena e suave dor no peito passa em minutos. Não chega nem a ser aquela dor, tá mais para um incômodo de nada. Ok, não é normal sentir dor no coração desse jeito, mas é só a rotina de alguém que tenha DAC – as dores vêm e vão, independente dos remédios que tomo. Eu vou ficar bem, só preciso continuar me tratando.

Paro de pensar no meu coração defeituoso e olho para cima, para Charlie. Ele está encarando o teto já tem quase cinco minutos, enquanto alisa meus braços e meu cabelo todo bagunçado. Agora que toda aquela tensão sexual entre nós já passou – bom, pelo menos por enquanto –, eu não sei como vamos ficar. Na real, estamos precisando conversar, mas sempre que tentamos acabamos sem roupa, em uma cama. Não sei se só estamos fugindo da conversa, ou se só não conseguimos nos controlar.

Lentamente e de uma forma bem preguiçosa, eu me sento na cama e começo a   me mexer para levantar.

  — O que tá fazendo? — Charlie pergunta e franze a testa, apoiando um braço atrás da cabeça enquanto me observa.
  — Me vestindo. — Pego o pedaço de pano que um dia já foi minha camiseta com estampa de abacate, e suspiro; não dá mais pra usar isso. — Tá me devendo um pijama novo.
  — O que é que você tem?

  Dou de ombros e cato meu short no chão, o vestindo rapidamente.

  — Tava chupando meu pau há cinco minutos, e agora tá aí agindo toda estranha. — Charlie se levanta completamente nu e eu desvio o olhar, ficando vermelha, apesar de ter o tocado em todo lugar agora pouco, como acabou de dizer. Ele pega uma cueca limpa dentro do armário, enrolando uma toalha nos quadris depois. — Qual o seu problema?
  — Eu só tô confusa, Charlie 

  Me sento na ponta da cama dele, cobrindo o rosto com as mãos enquanto encaro o carpete cinza.

  — Confusa? Confusa com o quê? — Ele pergunta e se aproxima de mim, apoiando uma mão no quadril.
  — Com tudo, Charlie, com tudo. — Gesticulo com as mãos — Não podemos continuar fazendo isso. Eu não tenho estômago — nem coração, penso, mas não digo. — para continuar com esse joguinho de ioiô. Você me quer? Ok, eu também te quero. Eu também sou louca por você, caralho. Mas nunca vamos sair do lugar, se continuarmos evitando falar sobre isso e ficar na base de pegação o tempo inteiro. 

Charlie passa a língua nos lábios, me encarando por alguns segundos antes de virar o rosto, como se não conseguisse olhar para mim por muito tempo. Eu cruzo os braços, começando a me sentir exposta demais sem camiseta.

  — Então diz pra mim o que você quer que eu faça. — Ele sussurra — O que eu tenho que dizer?
  — Eu não vim com um manual de instruções. Se você quisesse me dizer alguma coisa, já teria dito.

  Eu o quero muito, acho que mais do que qualquer outra coisa que eu já tenha desejado na vida. Mas eu não consigo me livrar desse orgulho estúpido, porque se tem uma coisa que eu aprendi vendo filmes de romance com a Aly, é que quem se declara primeiro sempre se fode depois. Não quero que o Charlie se foda, mas não vou correr esse risco também. Se ele tem algo para me dizer – que quer ficar comigo, por exemplo, e que quer um lance sério –, que diga logo de uma vez.

  — E você? Não é santa nessa história toda, Amélia. — Charlie olha para mim, erguendo uma sobrancelha de forma acusadora. — Você também nunca me diz o que sente, ou o que quer. Parece que tem medo de mim.
  — Como se você não tivesse também. — Desvio o olhar e me levanto. — Pode por favor, me emprestar alguma coisa pra vestir? Não consigo continuar conversando desse jeito.

Christian bufa, se movendo rapidamente pelo quarto. Ele pega um pedaço de tecido azul escuro em cima de um puff lotado de roupa suja, e quando estica para mim, noto que é sua camiseta número um do time. Eu hesito, mas acabo a pegando e vestindo mesmo assim. Inspiro com força o perfume; colônia masculina, grama e suor. Não é um cheiro tão ruim, na verdade temo me distrair e amolecer por estar sentindo meu aroma preferido enquanto discutimos.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora