013

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Amélia Miller

Charlie para o jipe de frente para o apartamento da minha mãe. Em silêncio, eu pego minhas coisas dentro da bolsa de Alyssa, que ainda está desmaiada de sono, e até ronca às vezes. Minha mente ainda está um pouco nublada, e eu tenho a impressão de que se eu sair do carro, vou estar tonta e cambaleante; preciso de um café.

Abro a porta do jipe, para sair, mas Charlie me impede antes.

– Espera aí – Ele diz, apoiando o braço no outro banco enquanto se vira para olhar para mim. É a primeira vez que fala comigo desde que saímos da festa da Tess.
– Hã…o que foi? – A porta do carro está aberta, estou apenas esperando ele.
– Você tá menos bêbada agora?

Vamos ver; minha cabeça dói, mas não estou mais pensando em alcaçuz como um pau de velho murcho. Estou meio tonta e com certa moleza. É deprimente. No estágio final da pessoa bebum.

– É…mais ou menos – Olho para Charlie e mordo o lábio inferior. Há um estranho ar vergonhoso pairando entre nossos, e isso me deixa muito aflita, de certa forma.
– Tudo bem, boa noite.

Balanço a cabeça, mas não digo nada enquanto saio do jipe, quase caindo por causa da altura entre o banco e a calçada, além da embriaguez não ajudar. Finjo que isso não aconteceu, e caminho rapidamente para a portaria do prédio, onde o porteiro assiste a gravação de algum jogo qualquer da NBA. Da onde ficam os dois únicos elevadores, posso ver o jipe de Charlie dar partida e ir embora.

Solto um suspiro e entro no elevador que eu chamei, apertando o botão do andar da minha mãe.

Enquanto caminho pelo corredor, indo em direção ao apartamento, a velhinha do 30E me espia por uma fresta da porta, provavelmente me ouviu chegando – o fabuloso som da chegada de Amélia Miller. Como está tudo muito silencioso, qualquer movimento ecoa pelos apartamentos desse andar, e não só eu faço barulho, como também posso ouvir a velinha resmungar enquanto me espia descaradamente.

– Olha só, essa pouca vergonha Chegando essa hora da noite e quase sem roupa – A ouço dizer e reviro os olhos.

Enfio a chave na abertura da maçaneta. Ou melhor, eu tento. Não estou enxergando direito, apesar das luzes no corredor, e minha cabeça gira tanto que meu corpo quer acompanhar. Tento outra vez, mas acerto a bochecha na madeira, fazendo a dor de cabeça pulsar intensamente.

– Olha só…onde essa geração vai parar?

Olho para a velhinha do 30E e levanto o dedo do meio para ela, fazendo cara feia.

– Vai a merda – Grito e logo depois ela entra, batendo a porta enquanto cita Deus e um monte de outros nomes.

Quando enfim consigo acertar o buraco da maçaneta e entrar em casa, tento não fazer muito barulho, porque não quero chamar atenção da minha mãe. Tínhamos combinado meia-noite, então tecnicamente eu cheguei bem antes do horário, mas não quero que ela me veja bêbada desse jeito; eu ficaria muito encrencada.

Acendo uma luz do abajur e levo um susto ao ver minha mãe saindo do corredor só de roupão, e carregando um taco de hóquei de gelo na mão – ela é canadense de sangue e, como uma canadense, adora hóquei de gelo. Quando vê que sou eu, ela abaixa o taco e apoia uma mão no coração, suspirando.

– Meu Deus, Amélia, que susto – Ela diz e eu estreito os olhos, sentindo dor de cabeça.
– Shhhhh! Fala baixo – Peço em um sussurro.

Caminho até a cozinha e minha mãe me segue.

– Você está bêbada?

Olho para ela e dou de ombros, depois abro a geladeira atrás de um pouco de água, porque estou com a garganta seca desde que beijei Charlie. Eu beijei Charlie Bushnell. Eu, Amélia Miller, beijei o irmão gato da minha melhor amiga. É impossível não sorrir de canto ao me lembrar disso.

– Não acredito que você andou bebendo – minha mãe apoia uma mão no quadril, me olhando com raiva – Você não tem idade para isso, e mesmo se tivesse, deveria tomar cuidado com a quantidade de álcool que ingere.
– Eu sei, eu sei…

Encho um copo com água até a boca e depois bebo tudo de uma vez só. Faço uma careta quando meu cérebro congela com a água gelada.

– Não tem esse de “eu sei”. Eu me preocupo com você. Quem te trouxe em casa?
– O Charlie – prolongo o nome dele, terminando com um sorrisinho. Falar que ele me trouxe em casa soou de forma tão simples, que parece até que isso acontece com tanta frequência, quando na verdade eu nunca aceito uma carona de Charlie Bushnell. Ai meu Deus, eu aceitei uma carona dele
– O Charlie te trouxe em casa? Ele bebeu também?

Nego com a cabeça, porque ainda estou chocada demais com o fato de ter aceitado uma carona dele, para conseguir falar alguma coisa.

– Ah, bom, isso foi gentil da parte dele. Te trazer em casa, quero dizer – Minha mãe senta na mesa, pondo o taco de hóquei em cima dela. A sigo com um olhar preguiçoso. – A não ser que vocês tenham transado. Aí ele é um idiota corrompendo minha menininha. Olha, precisamos falar sobre gravidez e…
– Não! mãe – Tampo meus ouvidos com as palmas da minha mão, me recusando a ouvir minha mãe falar sobre sexo. Isso é nojento – Eu sou virgem.
– Ah…eu quero que saiba que não tem ninguém te pressionando, ok? – ela sorri, falando de uma forma tão gentil, que nem parece que está agindo feito louca – E se você quer transar com o Charlie, eu vou entender. Ele só vai continuar sendo um idiota por romper seu hímem…

Por que todo mundo acha que eu quero transar com o Charlie?

– Eu não nasci para isso, meu Deus – murmuro e fecho os olhos – Olha só, mãe. Eu não tô transando nem com o Charlie, e nem com ninguém. E eu não quero transar com ele. Será que podemos mudar de assunto?
– Tudo bem, eu entendi – ela levanta os braços em rendição – mas ainda estou brava por você ter bebido. Isso faz mal não só para o seu figado, mas para o seu coração também, meu amor.
– Eu sei. Nunca mais vou beber.

Choramingo e minha mãe sorri de canto, como se eu fosse um bebê de um aninho outra vez.

– Vem cá.

Ela abre os braços e eu caminho a passos preguiçosos até onde está sentada. Ajoelhada no chão, deito a cabeça em suas pernas e minha mãe me abraça, começando uma carícia bem gostosinha com as pontas dos dedos na minha nuca.

– Como os adultos conseguem beber tanto? É desgastante ter que aturar tanta falta de caráter depois de três cervejas – Murmuro ainda de forma chorosa.
– É realmente um porre.

Ela ri do trocadilho, mas eu só consigo abrir um sorrisinho. Talvez eu só esteja precisando de uma noite de sono, porque estou morta de cansaço. Aconteceu muita coisa para uma noite só, e isso confunde a mente bêbada de qualquer pessoa, escurecendo seus pensamentos a um ponto em que posso até me esquecer de como se fala.

– Lia? – Minha mãe chama, e eu emito um ruido estranho como resposta – Cadê seu tutu?

Olho para minhas pernas, mas não vejo meu tutu preto. Faço uma careta.

– Eu perdi meu tutu – Digo, com o rosto escondido no colo aconchegante da minha mãe – e minha jaqueta também. Eu perdi meu tutuuuu!

Conhecendo bem dona Sally, sei que ela provavelmente está segurando a risada agora, apesar de também estar preocupada com meu estado chapado.

– Eu compro um tutu novo para você. Vem, levanta; você precisa se limpar e se ajeitar para ter uma boa noite de sono.

Segurando meus braços, minha mãe me puxa para cima e me guia pelo corredor do apartamento até o banheiro.

….

A: Eu tô morrendo
A: Minha cabeça parece uma bomba relógio
A: Hummmmmm

Aly me envia um emoji com o termômetro na boca, o que significa que ela está passando mal, ou está com mal estar. Envio outro de volta, mas ainda estou com medo dela perguntar alguma coisa do tipo “ei, meu irmão estava te beijando em cima da pia?”

Acordou agora?
A: Deveria ter acordado mais tarde, mas Charlie veio bater na minha porta. Eu vou matar aquele filho da puta.
Eu tô morta também. Como foi a festa para você
A: Eu não lembro de nadaaaaa
A: Só de poucas coisas, como ter chego na festa e ter dito algumas coisas.
A: E de vomitar.



ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora