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Amélia Miller

Charlie e eu terminamos o trabalho no domingo, mas por mensagem, o que eu acho que foi muito melhor do que pessoalmente; foi rápido e prático. Eu anotei tudo no meu caderno bem bonito, apesar de ainda estar muito seco e sem conteúdo. Não sei se ele é muito chato, ou se só não quis detalhar melhor suas respostas.

Enfim, na segunda de manhã, quando chego na escola, a primeira coisa que eu faço é ir atrás do Charlie para pegar a parte dele do trabalho. Eu geralmente não vou atrás dele na escola – a quem eu quero enganar? Eu nunca vou atrás dele na escola –, então tento não ficar muito nervosa enquanto vou até ele pelos corredores.

Cutuco suas costas, mantendo uma distância segura entre nós, e Charlie para de revirar seu armário. Quando vê que sou eu, ele abre um sorriso charmoso e passa a mão no cabelo.

– King. A que devo a honra? – Ele diz.
– Seu trabalho. Preciso da sua parte – Estico a mão, esperando ele me entregar a folha.
– Tipo agora? É que eu meio que ainda ia passar para o papel.

Abaixo o braço e faço bico.

– Você teve um dia inteiro para fazer isso e ainda não fez? Qual o problema com você?
– Calma ai, estressadinha – ele dá risada e me segura pelos ombros, puxando-me para um pouco mais perto dele – cada um tem o seu tempo, certo?
– É, mas eu não tenho paciência com o tempo das outras pessoas, principalmente quando a você.

Ele ri outra vez, e eu reviro os olhos, me soltando de suas mãos.

– Eu quero o trabalho antes da aula de biologia, entendeu?

Me afasto antes que Charlie me dê a resposta, crente de que ele entendeu.

….

Mas ele não entendeu.

O idiota não me entregou a parte dele do trabalho, e já estamos entrando na aula de biologia, dessa vez com a Srta. Todd sentada na mesa do professor. Nada de dupla com Charlie Bushnell nada de estresse e nada dos apitos do treinador. A paz volta a reinar nessa escola.

Me sento no meu antigo lugar, e sorrio para Noah, que sorri de volta enquanto se ajeita.

– Nossa, como senti falta da minha mesa – Passo a mão pelo mármore, que é exatamente igual ao da mesa onde me sentei com Charlie semana passada.
– Foi tão ruim assim fazer dupla com o Bushnell? – Pergunta Noah.
– Foi terrível – resmungo – ele sabe como tirar uma garota do sério.

Noah apenas ri, mas não diz nada a respeito.

Olho para a mesa ao lado, onde Charlie está sentado junto com Derek, quieto enquanto o amigo fala sobre alguma coisa. Ele parece tão despreocupado em não ter entregue o trabalho…

A Srta. Todd começa a falar, se desculpando por ter sumido durante uma semana, e pede para que deixemos os trabalhos em cima de sua mesa, que ele os entregará para o treinador Harper. Eu me levanto, olhando com o canto dos olhos para Charlie, que apenas balança a cabeça e sorri. Na mesa, só na mesa, nós juntamos nossos trabalhos e deixamos junto com os outros. E eu nem li o que ele escreveu sobre mim naquela folha.

….

– Por que o treinador está chamando a gente na sala dele? – Questiono Charlie, um pouco mais tarde, enquanto caminhamos lado a lado pelos corredores vazios da escola.
– E você acha que eu sei?

Reviro os olhos, ficando quieta até chegarmos na respectiva sala do treinador. É uma sala pequena, mas que ele soube deixar aconchegante…bom, para ele mesmo, já que eu e Charlie tivemos que ficar de pé. E bem apertados também.

– Vocês devem estar se perguntando por que chamei vocês aqui – Diz o treinador, pousando as mãos em cima da mesa.
– Na verdade não – digo, e com sinceridade.
– É, ela tem razão, eu só quero ir embora.

Charlie afirma com a cabeça e o treinador Harper suspira, esfregando a careca com uma mão antes de continuar falando.

– O trabalho de vocês está muito…vazio.

Que?

– Sem conteúdo, muito simples – ele gesticula com as mãos enquanto fala – Principalmente o seu, Miller.

Quando ele aponta para mim, eu me controlo ao máximo para não revirar os olhos. Se minha parte do trabalho está muito ruim, a culpa é toda do Charlie, que me dava respostas rasas e sem fundamentos

– Você pegou o básico do Charlie. Ok. É, eu sei que é chato, mas podia ter ido mais fundo. – Charlie olha para mim, sorri e ergue uma sobrancelha ao mesmo tempo. – Quero respostas mais fundamentais para amanhã. Tente se importar mais com ele…

O treinador me entrega minha folha de trabalho, agora toda amassada, e eu resmungo baixinho. Eu passo uma semana e um fim de semana sendo a pessoa que mais se importava com esse trabalho, e agora eu vou ter que refazer?

– Estão liberados – ele assopra o apito e nem isso me incomoda agora, como sempre, porque já estou irritada demais.

Olhando para Charlie, eu amasso o papel entre os dedos e saio da sala do treinador, atendo duro com os pés no chão. Em poucos segundos ele já está caminhando ao meu lado, e eu tento apertar o passo para me afastar dele o mais rápido possível.

– Dá para parar de tentar fugir de mim? – Charlie revira os olhos e agarra meu pulso. – Está irritada só por que vai precisar refazer esse trabalho idiota? Por que não esquece isso?
– Por que para você é facil falar – puxo meu pulso.

Charlie suspira e trava o maxilar, virando a cabeça para o outro lado.

– Eu respondi todas as perguntas, assim como você fez
– O que você colocou no seu trabalho? – cruzo os braços – eu quero ver.
– Não. Você não vai ver – Ele nega com a cabeça, e penso vê-lo corar um pouco, mas acho que é só impressão minha – já entreguei; já era. Mas, agora, você precisa refazer seu trabalho. E é para amanhã.

Minha cabeça dói só de imaginar ter que passar mais tempo com Charlie para isso…

– Me manda as respostas completas e “ menos vazias” – reviro os olhos, já me virando para ir embora. Mas isso só até ele agarrar meu pulso outra vez – O que foi?
– Nada de mensagem. Você tem que me fazer as perguntas pessoalmente – ele afirma – só assim vai dar certo, King.
– Eu tentei fazer isso antes
– Eu sei, vamos fazer isso agora.


ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora