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Amélia Miller

O The Jhon’s Roller está cheio, como sempre fica aos sábados a noite, ainda mais hojes, que é noite de desconto para crianças menores de 10 anos; os pais adoram essas promoções.

Entre gritos, falatório e música tocando de fundo, Alyssa e eu atravessamos toda a área coberta por mesas, sofás e a lanchonete, indo até às arquibancadas da pista. É lá onde encontramos Charlie, junto com Tristan, Tess, Scott e Amanda. Aí, como esse grupinho me irrita. É Tess que vê Alyssa e eu primeiro, quando ficamos mais próximas de onde eles estão. Ela abre um sorriso de quem está aprontando alguma coisa, e depois cutuca Brady com o ombro e acena com a cabeça na nossa direção. Ele sorri quando nos vê, se levantando para vir até nós.

– Olha só quem resolveu aparecer – Ele caçoa de mim e eu reviro os olhos.
– Só podemos acabar logo com isso? – Pergunto, já querendo ir embora só de sentir o olhar da víbora da Tess sobre nós.
– Tudo bem, vamos lá;

Ele estica o braço para que eu vá na frente, mas eu cruzo os meus e ergo uma sobrancelha, sem nem ao menos sair do olhar. Charlie ri baixinho, enfiando as mãos nos bolsos do casaco moletom branco antes de sair andando. Alyssa e eu vamos logo atrás.

– Como você atura ele todos os dias? – Sussurro para ela.
– Eu não aturo, eu sobrevivo.

Dou uma risada.

Pegamos uma mesa perto da lanchonete, onde tem bastante movimento, enquanto Alyssa vai pegar patins para ir patinar. Não importa o quanto tente mantê-la ficar conosco, ela cismou que eu e Charlie precisamos fazer o trabalho a sós.

– Você trouxe as perguntas? – Pergunto a ele assim que sentamos, percebendo que ele não trouxe nenhuma mochila, ou caderno ou se quer um lápis.
– Estão aqui – Ele tira o celular do bolso, balançando entre os dedos. Reviro os olhos de leve – Você revirou os olhos. Por que você tá sempre revirando os olhos para mim?
– Por que você é irresponsável? – Abro um sorriso nada agradável, pegando meu caderno e meu estojo na mochila.
– Nunca vou entender sua implicância comigo.

Ele me olha nos olhos ao se encostar na cadeira e cruzar os braços, passando a língua nos lábios de forma rápida quando termina de falar.

– Ok, quer ir primeiro? Ou eu posso começar? Ou podemos ir fazendo ao mesmo tempo – Mordo a borrachinha do meu lápis enquanto leio as perguntas, e depois olho para Charlie, que está mordendo o lábio inferior enquanto me encara com a cabeça semi baixa. Ficamos assim por alguns segundos; eu mordendo o lápis e ele me encarando.
Isso até eu ficar cheia de vergonha e voltar a olhar para as perguntas.
– Fazer ao mesmo tempo parece legal – ele diz, mas sua voz sai meio estranha, meio…rouca? Quer dizer, mais do que o normal.
– Ok. Hum…primeira pergunta: Seu nome completo. Essa eu sei.

Anoto Charlie Vincent Bushnell no caderno, enquanto ele provavelmente anota o meu no celular. É isso ou ele está mandando mensagem.

– Por que não gosta do King? – Ele me pergunta, mas sem tirar os olhos do celular.
– Isso é mesmo relevante? A pergunta só tá pedindo o nome…
– Olha só, gata, se quer fazer isso funcionar, tem que cooperar.

Charlie se inclina sobre a mesa, abaixando a cabeça para falar comigo. Meu cérebro entra em pane só de ouvir ele me chamar de gata, mas não é porque eu gostei – Mas sim porque ele chama todas as garotas assim e eu odeio isso.

– Não me chama de gata – Advirto.

Ele parece se divertir com meu pedido contraditório, sorrindo e mordendo o lábio enquanto tenta não rir.

– Qual o problema com gata?
– É muito…automático – Estreito os olhos e estalo a língua no céu da boca – É, por aí. Não gosto.
– Beleza então. Só Lia.
– Também não me chama de Lia. É sério, não chama – Arregalo os olhos para ele.
– E qual o problema com Lia? – Brady revira os olhos.
– É só para os íntimos – Sorrio e mordo o lápis mais uma última vez – Continuando…
– Não. Você ainda não respondeu a minha pergunta! Por que não gosta do King?

Encaro Charlie, o conhecendo o suficiente para saber que ele não vai desistir até ter sua resposta. Largo o lápis em cima do caderno, apoiando meus braços na mesa para me inclinar em sua direção, exatamente como ele está fazendo agora.

– Eu só não gosto de King. É um sobrenome muito estranho, não acha?
– Significa rei. Por que você não gostaria de ser da realeza? – Parece que, pela primeira vez nessa semana, Charlie está apenas sorrindo por sorrir, e não adicionando doses de malícia, erros e charme aos sorrisos.
– Porque não gosto de atenção – sorrio de volta – Agora podemos voltar ao trabalho?
– Claro…

Ele volta a se inclinar para trás, pegando o celular e eu faço mesmo, mas pego um lápis ao invés do celular.

– Seu estilo musical favorito? – Ele me pergunta e eu começo a pensar, porque curto vários estilos diferentes de música – Tic tac, tic tac, tic tac…e o tempo continua passando. Não é difícil, King.
– Hum…Acho que um pouco de pop, mas também o rap e a eletrônica
– Ok. Indecisa.

E é exatamente isso que Brady escreve no celular, me fazendo balançar a cabeça.

– Não, espera, eu vou escolher um – digo.
– Não vai, não. Você é muito indecisa – ele ri baixinho e olha para mim – Minha vez: Eu não ouço música. Simples.
– O que? Como assim? Ouvir música é a melhor coisa do mundo!

Como ele pode não ouvir música?
Eu, por exemplo, faço absolutamente quase tudo ouvindo música. Eu desenho, tomo banho, lavo louça, limpo casa e estudo ouvindo música. Eu nem saio de casa sem meus fones de ouvido.

– Não exagera – Charlie suspira e abre um sorriso de canto – É só música.
– Só música? – Arregalo meus olhos para ele, espalmando as mãos na mesa – Tá, eu não termino esse trabalho até você ouvir música comigo.

Ele olha para mim e levanta a sobrancelha.
– Tá – ele revira os olhos – mas só uma.

Sorrio feliz e pego meu celular na mochila, junto com os fones, que na verdade já está conectado na entrada de fone. Entrego um lado para Charlie, que arrasta a cadeira para mais perto de mim, e fico com o outro lado. Ponho a última música que eu estava escutando, que é Nobody Compares To You, do Gryffin e Katie Pearman. Ele faz uma careta.

– Vamos ouvir essa coisa melosa? – ele questiona.
– Para isso funcionar, você precisa cooperar – uso suas palavras contra ele, e em seguida dou risada.
– Não pode usar minhas frases contra mim.

– E aí, gatinho – E, assim do nada, Tess surge e senta ao lado de Charlie. – Sobre o que estavam falando?
– Nada – ele olha para ela, que sorri e o segura pela nuca antes de beijá-lo.

Desvio o olhar enquanto suas línguas se encostam, me sentindo mal de repente.

– Você já pode ir? – Ela murmura para ele e, com o canto dos olhos, eu a vejo esfregar a mão na coxa dele. Charlie morde o lábio inferior, sussurrando algo para ela em seu ouvido – É exatamente isso que eu quero.

Os dois riem baixinho e eu tenho que fazer um barulho estranho com a garganta, para lembrá-los de que eu ainda estou na mesa com eles. Tess, que ainda segura Charlie pela cabeça, olha para mim e sorri de forma cínica.

– Ah sim, desculpa –ela diz entre uma risada, arregalando os olhos – se importa se eu rouar ele agora? Vocês podem terminar depois, certo?

Afirmo com a cabeça, embora eu queira mandá-la ir dar para outro. Nossa, como seria bom dizer isso…mas eu ainda respeito a Tess, apesar de tudo.

– Te mando mensagem com o restante das respostas mais tarde , beleza, King? – Charlie tira o fone do ouvido e guarda o celular no bolso, enquanto Tess o puxa pela camiseta para que se levante.
– Uhum, tá, pode ser – Afirmo com a cabeça e tento sorrir.

Ele sorri de volta e se inclina, deixando um beijinho de borboleta na minha bochecha e uma piscadela para mim. Isso só faz Tess o puxar com mais força, até ele ir embora com ela. Suspiro observando os dois irem, me sentindo um balão murcho pela segunda vez essa semana.

Queria falar nada não, mas o beijo deles já tá escrito 🤭

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora