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Amélia Miller

Ainda estou confusa no dia seguinte. Só um pouco, mas ainda confusa.

Charlie disse que olha para mim sem eu perceber e que quer ser meu amigo, basicamente no mesmo momento. Tipo, isso não faz o mínimo sentido; ele nunca quer ser só amigo das meninas, e eu não quero ser mais um troféu para a coleção sexual do Charlie. Se ele quisesse mesmo ser meu amigo, teria dito a muito tempo.

Na manhã de sábado, eu acordo com o despertador, porque preciso ir bem cedo para a casa da minha mãe. Levanto da cama igual a um zumbi, porque ainda estou morrendo de sono, já que fui dormir tarde ontem a noite – saí da festa cedo, mas ainda rolei muito na cama até pegar no sono, enfim.

Saio do meu quarto e vou até o banheiro e bato algumas vezes, até ouvir a voz de Sofia:

– Só um minutinho! – ela grita. Aposto que está tentando se abaixar para pegar a toalha que caiu no chão de novo,  porque a barriga é quase um obstáculo para seus movimentos.

Me encosto na parede do lado da porta, escondendo o rosto na minha toalha verde. Estou morrendo de cansaço, porque, por mais que eu não tenha ficado por muito tempo, uma festa pode cansar muito bem uma adolescente sedentária como eu.

A porta do banheiro se abre, e o vapor lá de dentro invade o corredor, esquentando mais ainda mais. Argh, Sofia e sua mania de tomar banho pelando. Ela sai do banheiro com a toalha cobrindo seu corpo, e seus cabelos castanhos estão caindo ao redor de seus ombros.

– Está escorregando lá dentro, cuidado – Ela solta uma risadinha e eu reviro os olhos, batendo a porta quando entro no banheiro.

Como Sofia usou toda a água quente, tenho que tomar um banho frio e por consequência, bem rápido também. O lado bom, é que tomar banho frio me acorda um pouco mais do meu estado sonolento.

Para ir à casa da minha mãe, eu visto um shortinho de moletom preto, e um casaco de moletom vermelho. Nos pés, um par de All Star vermelho e então volto para o banheiro, onde arrumo meu cabelo – arrumar: praticamente amarrar em um coque.

Depois de verificar se eu tinha posto tudo que vou usar durante o final de semana dentro da minha mochila, eu a jogo nas costas e desço para tomar café da manhã.

– Bom dia, Lia – Diz meu pai assim que me vê entrando na cozinha.
– Bom dia – murmuro e me sento a mesa, já pondo um monte de bacon no prato.

Meu pai sai da frente do fogão, da a volta na mesa e para atrás de mim, tudo isso para tirar o bacon de mim. Faço uma careta.

– Ei – resmungo – Meu bacon.
– Você sabe que não pode comer – ele substitui meu prato por uma tigela de salada de frutas. – E eu sei que não está tomando seus remédios. Já falei com a sua mãe.

Suspiro e mordo um pedaço de morango, mesmo que contra minha vontade. Não sei porque ainda forçam esses remédios minha goela abaixo; eu estou bem. Sei lá, talvez meus pais só tenham medo da forma como eu cuido de mim mesma – não faço exercícios, não me alimento bem – e se sintam aliviados em saber que os remédios ajudam a estabilizar o coração que não é meu de verdade.
Mas, como a maioria dos remédios, os que eu tomo tem efeitos colaterais horríveis e desconfortáveis.

– Não precisa falar com ela – murmuro enquanto reviro minha tigela de frutas. Até perdi a fome – Eu estou bem, não estou?
– Mas pode ficar ruim a qualquer minuto, e eu não quero que isso aconteça, entende? – Ele está falando sério agora, mas não olha para mim, porque está terminando de esquentar o café. – Essas comidas que você come podem causar outra taquicardia quando você menos esperar.
– Não vou ter um ataque cardíaco por comer Doritos, fala sério.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora