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Amélia Miller

É terça-feira e tudo parece tranquilo, pelo menos entre mim e Charlie. Não brigamos outra vez por esse lance de "namorada e namorado", talvez porque só tenha se passado um dia desde a "briga" e mal nos falamos na escola hoje. Daqui a pouco a gente já tá brigando de novo, sempre foi assim.

Por exemplo, um pouco depois que eu fiquei amiga da Alyssa, mesmo que eu e ele não trocássemos uma palavra sequer, a gente teve uma leve briga por causa do controle remoto. Era fim de semana e também a primeira vez que eu iria dormir na casa da Aly, e até aí estava indo tudo bem. Só que à noite, quando fomos assistir um filme na sala – se eu bem me lembro, era alguma comédia do Adam Sandler –, Charlie simplesmente sentou no sofá e roubou o controle da mão irmã, mudando o canal de filmes para o de esportes. Nossa, Alyssa ficou puta. Ela até tentou pegar o controle de volta, mas Charlie já era alto pra caralho desde aquela época, bastou ficar de pé e levantar o braço para não deixar pegarmos o controle, então Alyssa gritou com ele e foi atrás dos pais no andar de cima. Foi a primeira vez que eu fiquei sozinha com o Charlie, e já fui logo arranjando briga.

— Você é tão chato, garoto. Devolve logo a porcaria do controle. — Eu disse, e me lembro até hoje de sentir o rosto queimando de raiva. — A gente chegou aqui primeiro.
— Dane-se, eu quero ver o jogo. — Charlie abriu um daqueles sorrisinhos despretensiosos, porque ele nunca prestou – nunca. Isso me deixou ainda mais puta.
     — Me devolve!
Me joguei em cima de Charlie, e eu me lembro de cair no chão junto com ele. A pestinha de 13 anos conseguiu me tirar de cima dele, mas depois começamos os dois a gritar um com o outro...por causa de um controle remoto. Levou 10 minutos até Donna se irritar conosco, e nos separar. Acabou que ninguém assistiu TV naquela noite, e Alyssa ignorou Charlie por uma semana, mas eu nem precisava disso; não éramos próximos mesmo.

Agora, quando penso nessa lembrança, não consigo evitar o sorriso. Charlie e eu ainda brigamos por muito pouco, talvez por sermos os dois orgulhosos demais, mas acho que podemos conseguir fazer isso dar certo. Todo mundo consegue, por que nós também não? Na verdade, nenhum relacionamento é perfeito, todos sempre brigam alguma vez. Pelo menos é assim que eu prefiro pensar.

— Que sorrisinho besta é esse aí? — Alyssa me tira dos meus pensamentos, jogando uma bolinha de chocolate em mim.


  Eu paro de olhar para a porta fechada de uma sala vazia, bem na nossa frente, e viro o rosto para ela.
— Hã? Que sorriso? — Pego a bolinha de chocolate que caiu no meu colo, e a coloco na boca para comer.
     — Esse daí todo... bonitinho. — Alyssa gesticula na direção do meu rosto, erguendo uma sobrancelha.
Eu suspiro e volto a olhar para a porta. É o nosso tempo livre depois do almoço, e eu não quis ir assistir ao treino de futebol, porque sei como fico louca vendo o Charlie todo suado e sem camisa. E não sou a única ficar assim. Enfim, nós duas ficamos sentadas no corredor mesmo, encostadas na parede e de frente para a sala vazia de artes.
— Nada, ué. — Dou de ombros, sorrindo de canto antes de pegar outra bolinha de chocolate com ela.

Eu tenho que contar para Alyssa sobre o que está acontecendo entre mim e Charlie, não posso esperar para sempre. Não sei como ela está lidando com esse lance de ter – ou quando tinha – sentimentos por mim, mas até agora as coisas estão normais entre nós. Nunca mais tocamos nesse assunto. De qualquer maneira, ela goste ou não dá notícia, eu preciso contar.

— Não...na verdade, tem sim uma coisa. — Suspiro e viro meu corpo na direção de Alyssa, ficando cara a cara com ela. — Mas primeiro, quero que saiba que eu não contei antes porque não sabia como contar, e não porque eu estava escondendo, ok?
Lentamente, Alyssa afirma com a cabeça, mas há uma expressão completamente neutra em seu rosto. Achei que ela fosse surtar só por eu começar a conversa desse jeito, ansiosa e escandalosa como ela é...
— Você e o Charlie estão tendo um caso. — Diz Alyssa, e eu chego a ficar mais surpresa com a calmaria dela, do que com a outra coisa. — Eu sei.
     — O... quê? Como? — Franzo a testa. Christian e eu não ficamos de "chamego" pela escola, pelo menos não em público.
     — Você deixou seu elástico de cabelo dos anos noventa no chuveiro. — Ela abre um sorriso, e meu rosto esquenta. — E tá faltando roupa na minha gaveta, quero de volta. Além disso, minha mãe contou que você esteve lá em casa no domingo...com o Charlie.


ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora