Amélia Miller
Na manhã de segunda-feira – a manhã seguinte –, ainda está chovendo. Não está tão forte como estava a noite, mas o suficiente para fazer correr um ventinho frio para dentro do meu quarto, quando abro a janela.
É por isso que, depois do banho, eu decidi vestir algo um pouco mais quentinho do que o normal – uma jardineira jeans e por baixo um moletom amarelo, com uma simples regatinha apertada por baixo; camada por camada. Essa chuva toda, com ventania e baixa temperatura só pode significar a chegada do inverno, afinal entramos em dezembro ainda ontem – puxa, como o tempo está passando rápido.
As provas finais do bimestre começam semana que vem, o que significa que eu preciso me concentrar em tirar notas boas, como sempre. Eu geralmente sou uma boa aluna – tiro notas boas, faço todos os trabalhos e todos os exercícios pra casa, nunca falto, nunca me atraso, sou dedicada –, e apesar de ainda estar chegando perto do final do segundo ano, quero garantir um histórico escolar perfeito para quando chegar a hora de escolher uma boa faculdade. Isso é importante pra mim, eu só preciso relaxar um pouco.
Quando estou pronta, eu pego minha mochila e vou direto para a cozinha. Minha mãe está sentada à mesa, tomando o café e já vestida com o uniforme de enfermeira – geralmente uma roupa colorida, por cima de uma camiseta branca de manga longa. Ela sorri pra mim quando me sento para tomar café também.
— Já separei seus remédios. — Ela diz e aponta para os frascos em cima da mesa. Suspiro. — E você vai comer omelete hoje, nada de bacon gorduroso.
— Comer bacon não vai me matar, mãe. — Digo antes de jogar um comprimido na boca, engolindo com um gole de suco.
— Vai, vai sim.Reviro os olhos, dando uma leve risadinha.
Depois do café, espero minha mãe terminar de se arrumar para trabalhar, porque é ela quem vai me dar uma carona hoje. Com as pistas muito molhadas, eu sinto um pouco de medo de dirigir, principalmente com risco de cair outro temporal no meio do caminho e eu ficar encharcada. Não, prefiro ir com a minha mãe e voltar no ônibus da escola.O caminho é silencioso, mas de forma agradável. Minha mãe me deixa na porta da escola e eu me despeço com um beijo em seu rosto, antes de sair do carro. Debaixo dos finos pingos de chuva, eu corro para dentro do prédio principal e já mando uma mensagem para Alyssa.
Já chegou?
Ela me responde rápido, como se já estivesse esperando por essa mensagem.
A: Te encontro no seu armário!
Sorrio de canto, enfiando as mãos nos bolsos da jardineira enquanto caminho devagar pelo corredor lotado. Durante todo o caminho, vim escutando música nos fones, e agora está tocando um remix não oficial estilo 80s de Summertime Sadness, que eu baixei direto do YouTube. Apesar da letra ser melancólica, a batida me deixa feliz e com pique pra seguir o dia com muito bom humor.Começo a pensar em Charlie. Lembrar de ontem faz as borboletas no meu estômago voarem euforicamente, mas pensar em como o dia de hoje pode ser é assustador. As coisas vão ser diferentes entre nós agora? Ou vamos continuar sendo o que éramos antes da palavra "paixão" criar raízes em nós? Devíamos ter conversado sobre isso antes.
Como prometido, encontro Alyssa encostada na porta do meu armário. Eu desligo a música no celular, e abaixo os fones quando me aproximo.
— Cheguei primeiro hoje. Xeque-mate. — Ela sorri com convicção, se afastando da porta do armário para que eu possa abri-lo.
— Não se acostuma não, só me atrasei porque vim com a minha mãe hoje. — Lhe dou língua e Alyssa ri baixinho.
— E aí? Como foi o chá de bebê ontem?Olho para Alyssa e dou de ombros, ao mesmo tempo em que tiro o livro de história de dentro do armário. Eu provavelmente deveria contar a ela sobre o Charlie – e eu vou. Só preciso achar uma maneira de contar, porque não acho que seja possível que os sentimentos dela simplesmente tenham se dissolvido assim tão fácil, e eu não quero chateá-la com esse lance. Vou contar, mas não exatamente agora.
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ALL FOR US - Charlie Bushnell
FanfictionAmélia é invisível. Não literalmente, mas, para os grupos sociais da Bridgestone High, ela é completamente invisível. Mas ser invisível ou não é a última coisa com a qual a adolescente se importaria. Na verdade, Amélia nunca se importou muito em ir...