Amélia Miller
Minha primeira aula do dia é de história, com o professor Daniel, de vinte e poucos anos. Ele é legal, não julgo, mas a aula dele é um porre. Quando não estou dormindo, estou tentando fazer os exercícios, ou conversando por bilhetinhos com a Aly, ou desenhando alguma coisa no final do caderno. Desenhar agora parece ser a melhor opção, porque não me sentei no fundo da sala o suficiente para dormir em paz.
Enquanto Daniel fala e fala sobre a colônia inglesa no território que hoje chamamos de Estados Unidos da América, eu apoio o caderno na barra da minha mesa e rabisco nossa sala de aula com uma caneta azul. Uso meu ponto de vista – da onde estou sentada –, para desenhar. As pessoas são apenas silhuetas; deitadas com a cabeça na mesa, olhando para frente, escrevendo no caderno ou viajando na maionese enquanto olham pela janela. Até o professor é apenas uma silhueta de cabelos grandes, sentado em cima mesa enquanto olha para nós e fala. Os mínimos detalhes estão na sala ao redor, como nas mesas, nas janelas, os pôsteres de incentivo ridículos colados na parede. Estou tão absorta no que estou fazendo, que nem entendo o que Daniel fala.
Olho para Charlie, que teve de sentar lá na frente depois que chegou atrasado na aula. Ele está com uma mão apoiada na cabeça, entre os fios castanhos de cabelo, o bíceps flexionado e apertando a manga da camiseta branca. Parece distraído enquanto escreve no caderno com a outra mão. Uma correntinha de prata balança em seu pescoço a cada escrita bruta, como se ele estivesse passando para o papel palavras de raiva. Mal consigo ver seu semblante daqui, porque o braço cobre o rosto, mas vez ou outra há um ângulo que me permite a visão perfeita, ainda mais porque a luz do sol da manhã está batendo direto nele.
Penso em como eu adoraria desenhá-lo agora, tão distraído e tão natural e bonito. Eu o manteria nessa mesma pose concentrada, e a luz do sol entrando pela janela luminária ompletamente o espaço atrás dele. Eu usaria um lápis fino, e seria uma das minhas obras mais delicadas.
De repente, Charlie levanta o rosto e seu olhar vira-se para trás. Ele me encara e eu encaro de volta, mordendo a ponta da minha caneta. Por causa da luz do sol, seus olhos estão mais claros por conta do sol. Sustento o olhar por tempo suficiente, até lembrar de que estou com raiva por ele ser um idiota, então volto a prestar atenção no meu desenho.Respiro pela boca entreaberta, sentindo as batidas do meu coração tão fortes que é como se ele fosse sair para fora do meu corpo.
♥O professor Daniel me chama para ir até a mesa dele, quando a aula chega ao fim.
— Percebi que você não tem prestado muita atenção na minha aula desde o início do ano letivo. — Ele diz, mas não olha para mim porque está mexendo num monte de pasta e papéis. — O que tá acontecendo?
Nesse minuto, me vejo presa a um dilema: contar pra ele que a aula é chata pra caralho, ou mentir e dizer que eu só não estou num bom momento. Se bem que eu não estaria mentindo, de qualquer jeito.
— Olha, eu sei que seus pais se separaram no início do ano, certo? Lá para março, se eu não me engano. — Continua o professor. É claro que ele sabe disso, é o conselheiro da escola. — Se estiver precisando conversar sobre alguma coisa, eu estou aqui. Só peço para que não se deixe perder durante as aulas.
— Ah…ok. Obrigada.Abro um meio sorrisinho, e me viro para ir antes que eu receba uma palestra grátis sobre como lidar com um pós-divórcio. Eu sei lidar com isso muito bem, obrigada.
Caminho pelo corredor, mexendo na minha mochila-pasta – porque minha mochila de verdade está lavando –, atrás do desenho idiota que eu fiz durante a aula de história. Sem olhar por onde vou, acho o papel amassado e o puxo, olhando para os rabiscos preguiçosos que fiz. Só agora percebo que o verdadeiro detalhe do desenho é o Christian, porque ele não é uma silhueta comos os outros; ele é um desenho quase completo...
— Opa, o que temos aqui? — Tess rouba o desenho da minha mão e eu levo um susto. — Que fofo, ela fez um desenho do namoradinho dela.
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ALL FOR US - Charlie Bushnell
FanficAmélia é invisível. Não literalmente, mas, para os grupos sociais da Bridgestone High, ela é completamente invisível. Mas ser invisível ou não é a última coisa com a qual a adolescente se importaria. Na verdade, Amélia nunca se importou muito em ir...