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Amélia Miller


No dia seguinte, na escola, eu decido que minha nova profissão vai ser "ninja profissional", porque estou indo muito bem evitando Tess pelos corredores. Ainda não sei se ela viu a foto que Amanda tirou, ou se está atrás de mim ou se já resolveu isso com o Charlie, mas acho que é melhor prevenir do que remediar.

Entre a aula de história e a de artes, eu corro para o meu armário, para poder deixar a maior parte das minhas coisas pesadas dentro dele. Enquanto faço essa troca toda de livros, cadernos e materiais, me vejo desistindo da profissão de ninja.
  Tess acaba de entrar no corredor e está olhando para mim com veneno suficiente nos olhos para matar uma manada de elefantes. Finjo que não é comigo, e literalmente enfio a cabeça dentro do armário, esperando que ela passe direto por mim e que esteja planejando matar outra garota no momento…

Prendo o fôlego quando sinto sua unha cutucar meu ombro. Lentamente, tiro a cabeça de dentro do armário e me viro, dando de cara com a expressão furiosa nos olhos azuis da Tess. Na verdade, ela parece tão, mas tão irritada, que até seu cabelo preto caindo ao redor do rosto da ênfase a fera a procura da presa. A presa, no caso, sou eu.

  — Qual parte do "fica fora do meu caminho", você não entendeu? — Ela rosna — Que porra é essa, Miller?

  Ela ergue o celular na direção do meu rosto, mostrando-me a foto que a porra da Amanda Baker tirou no The Jhon's Roller. Engulo em seco, não conseguindo encarar por muito tempo a imagem que demostra meu lado mais "safado" junto com Charlie Bushnell.
  — Em minha defesa, você não é a dona dele, Tess. —  Agora já era, meu pescoço já está na corda, basta Tess puxar pra acabar com isso de uma vez. — E foi ele quem me beijou.
  — Corta essa, garota! Ele me disse que você o beijou primeiro.
  — É, mas eu não sei se você percebeu — Viro a mão dela contra seu próprio rosto, praticamente esfregando a foto nela. —, mas esse aqui é o segundo beijo. Seu futuro "namorado" estava me beijando pela segunda vez, Tess. E você vai fazer o quê? Cortar os freios do meu carro? Colocar vidro no meu iogurte? Se toca, isso aqui não é Gossip Girl, onde você precisa brigar por um cara que não tá nem aí pra você. Isso é a vida real.

  Bato a porta do meu armário com força, me virando para ir embora e deixar a maluca da Tess falando sozinha. Como que em pleno século XXI, alguém ainda fica brigando por macho? Será que ela é tão trouxa assim ao ponto de notar que o Charlie nunca vai querer algo sério, com absolutamente ninguém dessa escola? Ele é o tipo de cara que não se amarra a sentimentos; um lance é um lance e ponto.

  — Espera ai, ainda não terminei falar com você! — Ela me puxa pela manga do meu moletom amarelo, o que tem o desenho de um planeta no meio. — Da última vez, a gente tava só batendo um papo sobre você manter distância do Charlie. Agora isso é um ultimato; fica longe dele, ou essa foto vai parar nas mãos da sua preciosa Aly.

  Tess sorri ardilosamente, balançando o celular entre os dedos antes de se virar para ir embora. Ela anda com tanta calma, com tanta classe, que nem parece que se tornou a pior pessoa que eu conheço. É verdade quando dizem que ninguém permanece igual para sempre, eu só gostaria que existisse algumas excessões.


  A hora do almoço na Bridgton é como uma hierarquia social montada pelos lugares onde você senta, com quem você senta e o que você come. Por exemplo, os matletas sentam no fundo do refeitório, mas ninguém de "fora" se mistura com eles. O pessoal do blog da escola senta no meio, porque dali eles conseguem enxergar toda a fofoca rolando, para depois espalharem por aí. Garotos do time de futebol americano sentam com os populares, que é constituído pela maioria dos atletas, líderes de torcida ou repetentes que são descolados e por isso levam na boa terem 19 anos, estando no segundo do médio.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora