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Amélia Miller

Na segunda-feira, Alyssa ainda não mandou mensagem, ligou ou me procurou. Eu também não fui atrás dela, porque achei que o melhor fosse deixá-la ficar um pouco sozinha. Eu só estou esperando que hoje consiga conversar com ela, e que pelo menos não esteja mais um clima estranho entre nós duas. A quem quero enganar? Não vamos voltar a ser como antes depois do que aconteceu.

Quando deixo o carro no estacionamento da escola, eu olho para as pessoas ao redor e suspiro, procurando por qualquer indício de Alyssa Bushnell andando por aí atrás de mim, como sempre foi. Não sabia que haviam tantas garotas de cabelo castanho e curto por aqui. Sem obter sucesso, entro no prédio principal e vou direto até meu armário, ainda de olho nas pessoas para ver se eu consigo achar minha única melhor amiga em algum lugar...
— Aly! — Estou jogando meus livros dentro do armário, quando a vejo passando pelo corredor.
Seu semblante parece normal; nem triste, nem irritado e nem chateado, apenas normal. Mas, quando ela me vê, seu rosto empalidece como se tivesse visto um fantasma assustador. Antes tivesse visto, pelo menos não sairia andando a passos apertados, para longe de mim o quanto antes.
— Alyssa, espera aí! — Tento ir atrás dela, mas a mesma logo se camufla entre os outros alunos e eu a perco de vista.
Meio decepcionada por essa reação, eu suspiro e volto para meu armário. Não acredito que Alyssa ainda não está falando comigo, pensei que a essa altura as coisas já estariam um pouco mais esclarecidas e assim poderíamos conversar melhor. A gente realmente precisa conversar; não quero perde-la por causa de um desentendimento. Desentendimento não, desilusão.

Depois de guardar e organizar todo meu material, eu bato a porta do armário com força e caminho lentamente para ir até minha primeira aula do dia. Ainda falta alguns minutos para o sinal tocar, mas estou sozinha e não tem nada pra fazer, então é melhor já ir garantir o meu lugar na sala.
  Viro o corredor para subir as escadas do segundo andar, mas me deparo com Charlie e seus amigos idiotas sentados por lá em grupo, enquanto fazem as mesmas idiotices de sempre. Ele está rindo, mas isso só até me ver. Na verdade, todos eles param de rir junto e seguem o olhar dele até mim. Não estou olhando para o Nate, mas vejo quando ele cutuca Charlie com o cotovelo várias vezes, até lavar um tapa no braço.
  — Para com isso. — Sussurra Charlie
Ele sustenta meu olhar, encarando-me como se não soubesse o que dizer ou o que fazer. Eu sou a primeira a quebrar a troca constrangedora de olhares, agora encarando os rostos de seus amigos. Eles parecem meio desconfortáveis com a situação, embora alguns estejam sorrindo cheios de intenção e malícia. Será que Charlie falou com eles sobre tudo o que aconteceu?
Olho para ele uma última vez, então me viro e saio correndo na direção contrária. Achei que ia lidar com tudo numa boa, e que ia falar com Alyssa para resolver tudo e voltar ao normal, mas só olhar para o Charlie me lembra o motivo de eu ter gostado tanto de o beijar mais de uma vez. Me lembra de ser uma péssima amiga ao pensar mais no que aconteceria entre nós dois agora, ao invés de pensar mais em como Aly devia estar se sentindo.
  — Amélia, espera ai! — Ouço Charlie gritar e logo depois ele vem correndo atrás de mim, mas eu tento apertar o passo, despista-lo como Alyssa fez agora pouco comigo. Mas eu não consigo.

Ele me agarra pelo pulso e me para, puxando-me para um canto apertado e isolado do corredor, onde ninguém vai atrapalhar o que quer que aconteça aqui.

  — O que você quer, Charlie?! — Resmungo toda nervosa, sem nem conseguir olhar em seus olhos.
  — A gente pode conversar? — Ele segura suavemente meu queixo entre o dedo indicador e o polegar, puxando meu rosto para que eu olhe pra ele.
  — Não a gente não pode. Sempre faço besteira quando fico a sós com você.
Tento ir embora, mas ele me segura de novo, dessa vez ainda mais perto. Engulo em seco, olhando fundo em suas íris castanhas esverdeadas. A respiração dele é quente, suave, batendo contra meu rosto e tornando esse momento tão real quanto suas mãos me segurando.
— É rápido. — Charlie insiste — Por favor?
  — Não, não… — Balanço a cabeça negativamente e fecho os olhos com força. — Já magoamos a Aly, se a gente continuar se vendo desse jeito — Volto a abrir os olhos e faço um gesto com a mão que relacione nós dois. —, nunca vamos sair do lugar.
  — Esquece isso; pensa no que você quer.
  — Esse é o problema; eu sempre penso em mim. Se eu tivesse ligado um pouco mais para os sentimentos da Aly antes, isso não estaria acontecendo.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora