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Amélia Miller

  — Onde foi que você se meteu?

É a primeira coisa que meu pai me pergunta assim que passo pela porta de casa. Ele parece irritado, com o rosto todo vermelho e os braços cruzados. A casa está vazia, provavelmente porque o chá de bebê já acabou; foi mais rápido do que eu estava esperando.
— Desculpa, eu tava com o Charlie. — Digo baixinho — Devia avisado, mas você estava ocupado.
— Com o Charlie? E desde quando você sai com meninos por aí sem avisar?

Era só o que me faltava...
— E desde quando você se importa com isso? Olha, não precisa nem se preocupar, beleza?

Me viro para subir as escadas e passar logo no meu quarto, antes de ter que sair de novo. Não tô afim de ouvir o sermão do meu pai agora.
— Amélia, eu estou falando com você! — Meu pai grita quando eu já estou quase no topo da escadaria, aparecendo lá no final. — Amélia!
Bato a porta do quarto e respiro fundo. Eu provavelmente estou agindo como uma filha mimada, que acha que sempre tem razão em tudo e blá blá blá, e nem sei porquê, eu deveria era pedir desculpas por ter sumido sem dar nenhuma explicação antes. Mas, como sempre, estou dividida entre ser a filha educada, e entre ser a filha revoltada – a coisa toda é que meu pai estava cagando pra mim quando o assunto era dar uma festa para seu mais novo bebê.

Encosto a cabeça na porta, fechando os olhos momentaneamente. Isso tudo está sendo em vão, já que amanhã eu provavelmente vou pedir desculpas pra ele.
Enfim, vida que segue.
Saio andando pelo meu quarto, procurando minha mochila. Ponho meu desenho inacabado do coração esmagado entre os dedos dentro de um portfólio, para outro dia eu tentar terminar – nem sempre eu termino algum projeto, seja por preguiça, por bloqueio criativo ou simplesmente por me esquecer dele. Tiro as roupas de Alyssa para pôr as minhas próprias, deixando as dela dentro de um cesto de roupas sujas, junto com as que eu estava usando hoje mais cedo. A única coisa que eu continuo usando é a camiseta do Charlie.

Quando termino de arrumar tudo e pegar o que preciso, eu saio do quarto e volto lá pra baixo.  Vou atrás do meu pai, na sala, para dizer onde vou sem que ele tenha um ataque. A primeira coisa que eu vejo é o nome "TODD" estampado bem grande na parede do painel do bebê. Na última vez que vi esse painel, o nome da criança estava escondido atrás de panos azuis e nuvens de papel.

— Hum…fofo. — Murmuro

Passo os olhos pelo restante da sala, mas nem meu pai ou Sofia estão aqui. Suspiro e volto para o corredor, indo em direção a cozinha. Quando chego mais perto dela, escuto vozes e paro antes de aparecer na porta.

— Ela nunca me escuta. — Meu pai reclama e posso notar claramente a amargura em sua voz. — Não sei mais o que eu faço.
— Meu amor, ela tem dezesseis anos, é assim mesmo que funciona. — Diz Sofia, em um tom de voz calmo e sereno. — Uma hora isso passa.
— Passa? Mesmo? Porque parece que sempre foi assim. Não me lembro de uma época em que a Samantha não tenha sido respondona e toda rebeldezinha.

Claro, você era e é até hoje um merda de pai ausente. Me encosto na parede branca e cruzo os braços, ficando apenas para escutar um pouco mais da conversa. Se é isso o que ele pensa de mim, não queria nem ver como seria se ele fosse pai de garotas como Tess e Amanda, que estão sempre fazendo merda.
— Você também deveria sentar e conversar com ela em trégua, não acha? — Sofia continua, e eu fico surpresa por ela estar aparentemente me defendendo. — Que tal escutar como ela está se sentindo? A Lia lida com muita coisa; o divórcio, a…a traição, o bebê que está por vir. E você mesmo me disse que ela era só uma criança quando fez um transplante de coração.

Não sei o que é mais estranho, ela estar do "meu lado", ou entender perfeitamente o quão difícil tudo isso é, embora eu mesma odeie admitir isso. Gostaria de ser mais forte como digo que sou quando o assunto são as emoções, mas na verdade eu só sei fingir muito bem.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora