Amélia Miller
— Ei, sumida! — É a primeira coisa que eu digo assim que vejo Alyssa no corredor da escola, já na sexta-feira.
Ela, que está sentada perto da janela que mostra um pequeno jardim entre quatro paredes, ergue o olhar do celular e olha pra mim. Um sorriso pequeno se forma em seus lábios, o que eu já acho bem estranho, já que geralmente Alyssa sempre demonstra exagero até nos pequenos detalhes.
— E aí?! — Ela diz, abaixando as pernas para que eu me sente no banquinho ao seu lado.
— Você tá bem? Sumiu durante dois dias por causa de uma cólica.
— Você sabe que meu útero não simpatiza comigo. — Fazendo uma careta, Alyssa alisa a área citada por cima das roupas. — Mas já estou melhor... sangrando feito um porco no abate, mas melhor.Dou risada, mas ela só continua sorrindo meio sem graça. O que ela tem hoje?
— Tá tudo bem mesmo? — Toco seu ombro gentilmente, e Alyssa segue o olhar até minha mão. — Você parece meio...abalada. É a Lauren? Vocês brigaram ou coisa do tipo?
— Ok, primeiro: pra a gente brigar, teríamos que estar namorando, e não é isso o que estamos fazendo. — Ela ergue uma sobrancelha para mim, sorrindo daquele jeitinho "maluco" tipo Alyssa. — Segundo: eu estou bem, só é um porre acordar cedo. Quem parece que acabou de sair de um enterro é você, que tá aí toda acabada.
Alyssa faz um gesto com a mão na minha direção, e eu concordo com a cabeça lentamente, sorrindo de canto.
— É...passei quase a noite inteira acordada, ouvindo aquele bebê chorão no quarto ao lado. — Resmungo e cubro o rosto com as mãos. Todd é o bebê mais chorarão que eu já conheci, e ele grita mesmo, usa todo o ar do pulmão pra chorar; é irritante. — E eu ainda fui deitar tarde, porque tive que terminar alguns trabalhos.Além disso, fiquei trocando mensagens com o Charlie. Mas eu não vou dizer isso, embora tenha absoluta e plena certeza de que Alyssa saiba sobre nosso namoro – só não conversamos sobre isso ainda.
— Trabalho, que trabalho? — Alyssa arregala os olhos pra mim, ficando tensa, e eu começo a dar risada.
— Relaxa, é da aula de latim; você faz francês.
— Ah... é, verdade. — Ela relaxa mais o corpo, respirando fundo. Isso me faz rir um pouquinho mais. — Mas ainda preciso pegar a matéria que eu perdi nos dois últimos dias, ninguém merece.
— Uh! — Sorrio de repente, segurando suas mãos de forma animada — A gente podia ir no shopping depois da aula, preciso fazer compras e a gente aproveita pra estudar juntas depois.
Alyssa franze a testa, soltando uma mão para tocar minha testa com seu dorso.— Tá doente? — Ela pergunta e continua passando a mão no meu rosto, como se quisesse sentir minha temperatura. Eu a seguro pelo pulso, afastando-a logo em seguida. — Você não gosta de ir fazer compras no shopping, porque é preguiçosa e não gosta de andar muito.
Dou de ombros, sorrindo como se fosse inocente.— Meu pai já mandou a pensão pra minha mãe, e ela me deu cem pratas pra gastar com alguma coisa, então, por que não com o shopping? — Preciso de lingerie nova. Lingerie nova, sexy e bonita, que me faz parecer menos como se tivesse 13 anos, e mais como se tivesse 18. Eu geralmente não dou a mínima para o que os garotos pensam sobre mim, mas eu adoraria surpreender Charlie quando eu tirasse a camiseta e estivesse usando um sutiã de renda.
— Hum... não sei, Lia. — Aly me surpreende quando dá de ombros, totalmente desanimada com a ideia de ir ao shopping – geralmente é ao contrário. — Por que não me passa a matéria por mensagem? Vai ser melhor.E, de repente, toda a ideia de passar um tempo com minha melhor amiga é dissolvida da minha mente. Não sei o que está acontecendo com Alyssa, mas ela está agindo como se eu fosse uma colega qualquer da escola, e não a garota que passou quase a noite inteira com ela numa fila para comprar ingressos da pré-estréia de Animais Fantásticos e Onde Habitam. Seguro sua mão outra vez, puxando-a gentilmente para que olhe pra mim.
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ALL FOR US - Charlie Bushnell
Hayran KurguAmélia é invisível. Não literalmente, mas, para os grupos sociais da Bridgestone High, ela é completamente invisível. Mas ser invisível ou não é a última coisa com a qual a adolescente se importaria. Na verdade, Amélia nunca se importou muito em ir...