ALL FOR US - Charlie Bushnell

018

Amélia Miller

Quando eu finalmente encontro Alyssa nas arquibancadas, para assistir ao treino de futebol, Charlie já está em campo dando voltas. Derek corre ao lado dele enquanto tagarela, mas o mesmo permanece em silêncio.
— Vou me arrepender se eu perguntar por que você estava demorando? — Alyssa cruza os braços para mim. — Não, não, melhor: vou me arrepender se eu perguntar por que você e o Charlie demoraram para aparecer? Coincidência, né?

  Ela estreita os olhos pra mim de forma desconfiada e eu sorrio de canto, tentando não parecer suspeita.
  — Não viaja, ok? Eu estava no banheiro. — Digo, fingindo estar mais interessada nos meninos dando a volta no campo. — Charlie devia tá por aí comendo a Tess em uma sala vazia.
  — Não, a Tess estava aqui. Mas ela foi embora quando o Charlie chegou. Ela tinha sangue nos olhos, parecia que ia matar alguém!

  Quando Alyssa ri, me sinto um pouco mais tranquila em pensar que ela não está desconfiando de nada. Tudo bem que eu e Charlie estávamos apenas conversando, mas até onde ela sabe, eu e ele "não temos assunto em comum".
  — Bom, se ela estava irritada, o Charlie deve estar mesmo comendo alguém por aí. — Dou de ombros
  Como Alyssa não toca mais no assunto depois dessa, presumo que a desconfiança já tenha passado. Estou louca pra contar para ela sobre as ameaças da Tess, e como estou me sentindo, mas sei que no minuto em que fizer isso, as coisas vão ficar estranhas entre nós duas. Não posso ser só mais uma garota da lista do Charlie, quando eu frequento a casa dele e sou melhor amiga de sua irmã gêmea. Isso ia estragar tudo.

  Continuo observando o treino dos meninos, me perguntando o que aconteceria se eu virasse agora e dissesse: "Eu beijei o Charlie. Não só uma, mas duas vezes. A Tess sabe e me ameaçou por isso, duas vezes também. Tem até foto."

….

  E os dias e as semanas passam mais tranquilas do que eu imaginava que aconteceria. Aparentemente, Charlie resolveu parar de "tentar" vir atrás de mim, porque não falo com ele já faz bastante tempo. Com isso, Tess também nunca mais veio atrás de mim, e está grudada no Charlie como se ele fosse uma criança de 5 anos com o hábito de se perder – o hábito de se perder: ir atrás de um rabo de saia qualquer, e esquecer que a Tess existe.

  Pra ser sincera, eu acho que as coisas estão melhores assim; Charlie não me beija, Tess não me ameaça, Alyssa não descobre e todo mundo evita estresse desnecessário. Mesmo que às vezes – bem às vezes – eu pegue Charlie me olhando de longe, ou até mesmo eu olhe um pouquinho pra ele também. Não é nada demais.
  E hoje, nesta noite de sexta-feira antes da noite de Peter K com a Alyssa, vai ter o grande jogo de futebol na escola.

  Os jogos são algo extremamente importantes para a gente, ainda mais quando são contra o South High School, os maiores inimigos da nossa escola. E eu tenho espírito esportivo, então me arrumo toda para ir assistir ao jogo, como toda a escola faz.
  Na frente do espelho do meu quarto, eu prendo meu cabelo em marias-chiquinhas perfeitamente partidas ao meio, usando fitas azuis e vermelhas para se misturarem entre meus fios loiros. Como ainda estou aprendendo, a única "molécula" de maquiagem que eu passo no rosto é rímel e olhe lá. Também pinto as bochechas com duas listras em cada lado, uma azul e outra vermelha; cores padrões da nossa escola. De roupa, visto uma saia curta de pregas azul e um moletom vermelho de EF que a nossa escola distribui, só que ela está bem limpinha e cheirosa, já que eu não nunca uso.

Ainda me olhando no espelho, sorrio para o resultado. Isso sim é que é espírito escolar.
  Uma vez já pronta, eu apenas pego minha mochila com as coisas da noite do Peter K dentro, e as chaves da moto, descendo as escadas até a sala.

  — Pai, eu já tô indo. — Digo. Meu pai está sentado no sofá e lendo o jornal pelo tablet, enquanto Sofia devora um pote inteiro de manteiga de amendoim e assiste a TV.
  — Você está linda, Lia...  — Sofia sorri para mim, fazendo joinha como se aprovasse o look para as noites de jogos. Eu apenas abro um meio sorrisinho sem graça.
  — Tudo bem, divirta-se. E não dê muito trabalho aos Bushnell!
  — Tá bom! — Grito quando já estou praticamente saindo pela porta.
….