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Amélia Miller 

 — Vai mais rápido! — Grito para Charlie, e, mais uma vez, minha cabeça dói.
    — Eu tô indo o mais rápido que eu posso, não me apressa cacete!

Ele está tão nervoso, que até parece que é a pessoa que está quase parindo aqui dentro do carro.

Sofia aperta minha mão com força quando outra contração vem – elas estão vindo em um intervalo de três minutos, o que é assustador –, grunhindo e arranhando o estofado do banco com a outra mão.

 — Calma, vai ficar tudo bem. — Eu digo a ela. — Só respira bem fundo e tenta pensar em coisas boas.

Toda ofegante, Sofia puxa e solta o ar com força, provavelmente tentando se acalmar; imagino que seja bem difícil, eu não sei, nunca dei a luz a nenhum ser humano.

 — Não dá, eu não consigo. — Ela murmura sem forças. — Eu quero tirar essa coisa de dentro de mim. Agora!

Sua mão esmaga a minha mais uma vez, e eu pressiono os lábios, sentindo a dor ir direto para minha cabeça. Essa noite não podia estar sendo mais movimentada. Estou praticamente vivendo um roteiro de filme.

 — Falta muito pra chegar? — Pergunto a Charlie, tentando distrair a mim, porque também estou bem nervosa aqui atrás.
    — Eu não sei... não, não falta. — Ele olha para nós pelo espelhinho, bem rápido, depois volta a focar na estrada.

De repente, Sofia grita de dor outra vez, fazendo a mim e a Christian gritamos juntos, mas de susto – ou em parte susto, porque também sinto dor toda vez que ela aperta minha mão.

— Essa criança não era só pra daqui a duas semanas? — Eu pergunto, e Sofia olha para mim; há uma veia saltando em sua testa, e ela fica mais vermelha a cada contração.
    — Aparentemente ele resolveu sair mais cedo. — Ela praticamente rosna pra mim, como se eu estivesse sendo incoveniente. Me inclino um pouco para trás. — Dá pra ir mais rápido? Isso dói muito!

Charlie não diz nada, apenas pisa no acelerador poucos segundos antes do sinal fechar, o ultrapassando a tempo – estou me sentindo em Velozes e Furiosos. Já consigo ver o hospital daqui, o que é ótimo, porque o tempo de intervalo entre as contratações está ficando cada vez menor.

— Quase lá! — Charlie grita para nós, e, no mesmo instante, Sofia contrai toda, resmungando de dor enquanto vem outra contração; essa parece forte.
    — Aí, meu Deus! — Ela grita

Tenho a impressão de que minha mão vai ficar dolorida pelo resto da noite, depois dessa.

Suspiro aliviada quando o carro entra no estacionamento do hospital. Charlie estaciona de qualquer jeito, e eu mal vejo quando pula para fora do carro, abrindo a porta de trás. Ele segura as mãos de Sofia e a ajuda a sair do carro, a mesma respirar fundo várias vezes, bufando enquanto tenta andar.

— Vou na frente! — Eu digo, a euforia toma conta do meu corpo, e então saio correndo pelo estacionamento.

Estou sem fôlego quando chego na recepção do hospital. Eu espalmo as mãos no balcão de madeira polida, os pés escorregando no chão quando eu paro de correr brutalmente. Karen, a enfermeira e colega de trabalho da minha mãe, para e olha pra mim com os olhos arregalados de susto.

— Amélia? O que foi? — Ela abaixa o telefone que estava segurando, depois de pedir um segundo para a pessoa do outro lado da linha.
    — Madrasta... grávida...parindo. — Eu arfo entre as palavras, mal conseguindo formar uma frase completa. — Deixa eu respirar...

Ergo o dedo indicador, como se pedisse um segundo para mim. Respiro fundo, puxando o ar, sentindo as batidas aceleradas do meu coração, como se fosse sair pela boca. Quando consigo me recuperar mais ou menos, inspiro e expiro forte, suspirando em seguida.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora