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Amélia Miller 

Caralho, que frio da porra!

Está ventando muito essa noite, tipo, muito. Mesmo com a meia calça, nas perna é onde sinto mais frio, chegando a tremer um pouco. Eu devia ter vindo de calça, mas não sabia que ia ter que ficar esperando do lado de fora do drive-in por mais de 10 minutos. Muito mais do que 10 minutos.

Pra mim, eu ia estar bem aconchegada no jipe com aquecedor do Charlie. Mas nããão, ele ainda não chegou!

Abraço meu próprio corpo, me encolhendo um pouco quando pego o celular dentro da mochila, para ver as horas. Já vai dar 19:30. Entro na minha caixa de mensagens, mas ele ainda não respondeu nenhuma das 10 que eu enviei. Mando mais uma.

Cadê você???
Por favor, me responde.
Estou preocupada...
Charlie!

Uma não, umas quatro logo de uma vez.

Bloqueio o celular e olho ao redor, mas os poucos carros que estão chegando não é nenhum jipe Land Rover azul. Hummmm, eu vou morrer congelada aqui!

Essa é a pior parte do fim do outono: a chegada do inverno. Sempre neva aqui em Bridgton, tipo, pra caralho. Ainda bem que a temporada de neve só começa na semana do Natal, imagina se estivesse nevando agora? Não gosto nem de pensar nisso.

Meu celular vibra, e rapidamente eu o ligo, com esperança de que seja o Charlie...mas é só minha mãe me lembrando da consulta que vou ter com o cardiologista amanhã de tarde. É um médico novo na cidade, e ele está dando uma olhada nos pacientes mais antigos e frequentes do hospital.

Volto a bloquear o celular e olho para dentro do campo do drive-thru. Está cheio de carros, se o Charlie chegar agora, provavelmente achar uma vaga boa vai ser complicado. Entretanto, a fila para os ingressos e a pipoca já está menor... Melhor já ir comprando, pra poupar tempo.

Ainda abraçada comigo mesma, para tentar diminuir o frio, eu vou caminhando para dentro do campo. Meus tênis fazem barulho nas pedrinhas em que piso, e meu cabelo boa para trás com o vento forte. Há muitos casais sentados na caçamba de caminhonetes, todos abraçadinhos, conversando, comendo pipoca...e eu sou a única idiota solitária e sem carro.

Calma, Lia, ele vai chegar. Ele prometeu. Vai ficar tudo bem.

Entro na fila dos ingressos, esperando que as três pessoas na minha frente andem mais rápido. Ou não. Podem demorar, contando que seja tempo o suficiente para Charlie chegar. Quase meia hora esperando. Olho o celular de novo, mas não há mensagens, então me vejo apertando o botão de chamada.

Chama...chama...chama...chama várias vezes, até cair na caixa postal. Suspiro.

     — Charlie, sou eu. — Digo meio sem graça. — Não sei se você vai conseguir ouvir essa mensagem...ou se deixou o celular em casa...talvez tenha esquecido e voltou pra pegar no meio do caminho. — Dou uma risadinha, mas minha voz ta meio trêmula. — Enfim, eu...eu vou comprar os ingressos agora. Faltam quinze minutos pro filme começar, então...espero que chegue logo. Err... É isso. Tchau.

Sorrio de canto, mesmo que ele não veja, e então desligo o celular.

Sou quase a próxima, tem uma moça e seu bebê na minha frente. Eu fico batendo com o celular na mão, observando o cara da bilheteria brincar com o bebezinho loiro, o fazendo soltar uma risada gostosinha. Me lembra Todd, mesmo que ele ainda não sorria e nem dê risada. Na verdade, ele só dorme, toma leite e suja a fralda...e também chora... muito. Eu quase não o vejo, porque está sempre no quarto do meu pai e da Sofia, também nunca o peguei no colo – tenho medo –, mas gosto de vê-lo balançar as perninhas quando está acordado; é fofo...

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora