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Amélia Miller

Como eu não vejo Charlie em lugar algum na hora do almoço, eu me sento sozinha. Enquanto eu reviro minha salada de vagem com cenoura, um ventinho gelado sopra meus cabelos para trás, marcando a chegada do inverno daqui algumas semanas. Eu não vejo a hora de ter neve logo, pra eu poder ficar em casa maratonando Um Maluco No Pedaço, usando meu pijama gigante do Stitch e enchendo o cu de chocolate quente. Só a imagem disso já me faz sorrir – quase tudo tá me fazendo sorrir hoje.

Mordo um pedaço da cenoura – que tá seca e eu só to comendo pra não ficar com fome –, e depois bebo um pouco de água.

— Olha só, se não é a namoradinha do Charlie.

Vejo Scott Lewis se aproximando da mesa – infelizmente, é um encosto –, apoiando a mesa na mesma ao parar do meu lado. Ele está acompanhado por Noah, que parece estressado pelo "melhor amigo".

 — Pena que ele logo vai enjoar de você.

 Eu respiro fundo, largando meu garfo de plástico na bandeja. Olho para Scott.

— Você fala tanto do Charlie, e me perturba tanto por estar com ele — Digo e abro um sorrisinho debochado, tentando não demonstrar que estou ficando puta por Scott ter vindo atrapalhar minha paz. —, estou começando a achar que você está louco para estar no meu lugar.

Scott entreabre os lábios, pego completamente de surpresa, depois franze a testa em uma expressão irritada. Atrás dele, Noah segura uma risada, o que só torna o momento ainda melhor.

— Olha só, sua vadiazinha — Scott inclina o corpo na minha direção e aponta o dedo pra mim, como se isso fosse me assustar – ele não assusta nem uma mosca. —, você já tá brincando com fogo desde que falou aquela merda para a Amanda. Sorte que ela estava bêbada, e esqueceu de tudo.

Puts, se ele pensasse assim, teria medo de ser sua namorada e ficar sozinha com ele.

Antes de responder, eu termino de beber minha água, e, então – só então –, eu seguro o dedo indicador que ele aponta para mim. Eu o aperto com força, torcendo-o para trás, o que faz com que Scott faça uma careta de dor.

— Se apontar esse dedo pra mim de novo, eu arranco ele fora. — Digo, mas mantenho minha voz plena e tranquila, até mesmo quando o solto junto de um empurrãozinho. Volto a comer meu almoço como se nada tivesse acontecido.
    — Caralho...quanta classe. — Scott resmunga, e mexe o dedo que agora parece dolorido.
    — Não sou a porra da rainha da Inglaterra pra ter classe.

Se antes eu estava de bom humor, agora estou bem longe disso. É incrível como algumas pessoas simplesmente sugam a porra da felicidade de você. Eu só queria ter um almoço tranquilo, mas parece que, quando se trata dos amigos do Charlie, isso é impossível.

  — E você? Tá rindo do quê? — Ainda irritado, Scott dá um tapinha na nuca de Noah, que se cala e encara o "amigo" com fúria nos olhos.

Fico esperando que diga algo para se defender, que pelo menos mande o Scott ir à merda, mas Noah fica calado como um mímico. Não gosto desse jeito abusivo como Scott o trata, é como se ele fosse seu capacho e não seu amigo. Pra falar a verdade, nem sei porquê andam juntos.

Já que Noah não diz nada, eu digo.

— Qual é o seu problema? — Estreito os olhos para Scott, que ergue uma sobrancelha. — Por que trata ele assim?
    — Fica fora disso, ok? — Ele responde, e isso me faz quase pular em seu pescoço magro.
    — Não, não fico. Você trata o Alec como se fosse propriedade sua, e eu aposto que ele tem vontades próprias.

ALL FOR US - Charlie BushnellOnde histórias criam vida. Descubra agora