Capítulo 12

178 10 0
                                    

Ela apertou o vidro contra a mão e por um instante não me encarou. A discussão anterior parecia ter sido esquecida, completamente apagada após a estranha descoberta. Ver Julia segurando aquele vidrinho despertava uma sensação pior do que eu tivera quando vira Pedro com ele. Julia era minha melhor amiga, me conhecia desde sempre e com certeza não pensava que aquilo era um anabolizante.

- Me devolve.

- Desde quando...?

- Você nem sabe o que é isso. - respondi tentando tirar o vidro de sua mão a força. Ela cambaleante conseguiu se soltar.

Nós nos encaramos por mais um instante. Eu completamente humilhado com a situação e ela irreversivelmente decepcionada com a descoberta.

- É claro que eu sei, Dill. Minha tia tomava isso anos atrás. O que? Acha que eu não sei o que é um antidepressivo? Por que você tá tomando isso?

- Não é do seu interesse.

- Claro que é.

- Porque você não tem vida social, por isso se importa tanto com a vida dos outros.

- Não vou me ofender.

- O que quer que eu diga?

Preferia me distrair olhando ao redor do quarto. Suas bailarinas me pareciam mais interessantes assim como os puff's espalhados pelo chão, a atual falta dos pôsteres do Evanescence e outras bandas, os livros jogados sobre a cama ou até mesmo meus pés que pareciam mais atrativos do que os olhos decepcionados de Julia naquele instante. Me senti um derrotado, detestava não ser o que todos esperavam.

- Como conseguiu isso sem uma receita médica?

- Por que acha que não tenho uma?

- Porque o Dillan Martins que eu conheço jamais entraria num consultório psiquiátrico para falar sobre seus problemas. Além do mais nenhum médico indicaria isso pra você... o que aconteceu? - ela calou-se repentinamente. Acho que finalmente encontrara a resposta as suas perguntas.

Ficamos lá parados pelo que pareceram horas. Julia encarando o meu frasco e eu encarando as paredes do seu quarto. Fui até sua direção depois de algum tempo, peguei sua mão e retirei o vidrinho dela sem que ela reagisse.

- Eu só não soube lidar com tudo.

Ela concordou. Eu agarrei a mochila e saí.

15 de Julho, 11h45min. Sala do jornal.

Eu sabia o que havia prometido a Céli e o perigo que enfrentava por estar naquele lugar, mas era preciso. Em quinze minutos o sinal da escola iria soar avisando que a aula havia acabado. Imaginando que Céli estaria ali depois da aula decidi aguardar por ela na sala do jornal. Já esperava ansioso por novidades sobre as investigações.

O lugar até que era bacana e bem decorado. Comecei a mexer curioso nos livros sobre a mesa. Céli era uma boa leitora, ou talvez uma leitora desorganizada. Haviam várias livros espalhados pela escrivaninha. Olhei curioso para a sua caderneta. Não entendia nada do que ela rabiscara ali. Talvez iniciais como M. ou encontrar D. na P. E notei no canto da página rabiscos, as palavras: cara da neve. Seu monitor estava desligado, então lamentei não poder jogar mahjong enquanto a esperava. Olhei ao redor mais uma vez e meu olhar recaiu sobre um livro no canto da mesa: Moulin Rouge. Olhei interessado para a obra. Folhei curioso o livro. Nenhuma pista sobre o dono a não ser uma folha que escorregara entre as páginas. Olhei para o papel. Era no mínimo esquisito eu estar encontrando folhas perdidas dentro de livros com tanta frequência. Desdobrei a folha com cuidado e encarei a página ainda surpreso. Era um poema.

Eu Nunca...Onde histórias criam vida. Descubra agora