Ela apertou o vidro contra a mão e por um instante não me encarou. A discussão anterior parecia ter sido esquecida, completamente apagada após a estranha descoberta. Ver Julia segurando aquele vidrinho despertava uma sensação pior do que eu tivera quando vira Pedro com ele. Julia era minha melhor amiga, me conhecia desde sempre e com certeza não pensava que aquilo era um anabolizante.
- Me devolve.
- Desde quando...?
- Você nem sabe o que é isso. - respondi tentando tirar o vidro de sua mão a força. Ela cambaleante conseguiu se soltar.
Nós nos encaramos por mais um instante. Eu completamente humilhado com a situação e ela irreversivelmente decepcionada com a descoberta.
- É claro que eu sei, Dill. Minha tia tomava isso anos atrás. O que? Acha que eu não sei o que é um antidepressivo? Por que você tá tomando isso?
- Não é do seu interesse.
- Claro que é.
- Porque você não tem vida social, por isso se importa tanto com a vida dos outros.
- Não vou me ofender.
- O que quer que eu diga?
Preferia me distrair olhando ao redor do quarto. Suas bailarinas me pareciam mais interessantes assim como os puff's espalhados pelo chão, a atual falta dos pôsteres do Evanescence e outras bandas, os livros jogados sobre a cama ou até mesmo meus pés que pareciam mais atrativos do que os olhos decepcionados de Julia naquele instante. Me senti um derrotado, detestava não ser o que todos esperavam.
- Como conseguiu isso sem uma receita médica?
- Por que acha que não tenho uma?
- Porque o Dillan Martins que eu conheço jamais entraria num consultório psiquiátrico para falar sobre seus problemas. Além do mais nenhum médico indicaria isso pra você... o que aconteceu? - ela calou-se repentinamente. Acho que finalmente encontrara a resposta as suas perguntas.
Ficamos lá parados pelo que pareceram horas. Julia encarando o meu frasco e eu encarando as paredes do seu quarto. Fui até sua direção depois de algum tempo, peguei sua mão e retirei o vidrinho dela sem que ela reagisse.
- Eu só não soube lidar com tudo.
Ela concordou. Eu agarrei a mochila e saí.
15 de Julho, 11h45min. Sala do jornal.
Eu sabia o que havia prometido a Céli e o perigo que enfrentava por estar naquele lugar, mas era preciso. Em quinze minutos o sinal da escola iria soar avisando que a aula havia acabado. Imaginando que Céli estaria ali depois da aula decidi aguardar por ela na sala do jornal. Já esperava ansioso por novidades sobre as investigações.
O lugar até que era bacana e bem decorado. Comecei a mexer curioso nos livros sobre a mesa. Céli era uma boa leitora, ou talvez uma leitora desorganizada. Haviam várias livros espalhados pela escrivaninha. Olhei curioso para a sua caderneta. Não entendia nada do que ela rabiscara ali. Talvez iniciais como M. ou encontrar D. na P. E notei no canto da página rabiscos, as palavras: cara da neve. Seu monitor estava desligado, então lamentei não poder jogar mahjong enquanto a esperava. Olhei ao redor mais uma vez e meu olhar recaiu sobre um livro no canto da mesa: Moulin Rouge. Olhei interessado para a obra. Folhei curioso o livro. Nenhuma pista sobre o dono a não ser uma folha que escorregara entre as páginas. Olhei para o papel. Era no mínimo esquisito eu estar encontrando folhas perdidas dentro de livros com tanta frequência. Desdobrei a folha com cuidado e encarei a página ainda surpreso. Era um poema.
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Eu Nunca...
Teen FictionEu nunca... vi a Aurora Boreal Eu nunca... escalei o Monte Everest Eu nunca... corri sobre pedras chamuscadas (Nem sou maluco a esse ponto) Eu nunca... me equilibrei sobre as muralhas da China Mesmo a ideia sendo incrível! Mas existem certas coisas...