Capítulo 13

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Estranhei desde o princípio a aparecia luxuosa do local. O porteiro relutou em permitir minha entrada mesmo sabendo que eu era sobrinho do inquilino chamado Tom do número setecentos e dois. Talvez essa desconfiança excessiva viesse da falta de semelhança entre nós, não sei. Meu tio demorou a atender ao chamado do interfone e não pareceu nada satisfeito em me ver ali.

- O que faz aqui Dillan? - perguntou olhando para o corredor antes de fechar a porta.

- Oi pra você também. - eu disse entrando no apartamento. - Uau! - falei olhando ao redor. Estava completamente mobiliado e decorado de forma civilizada, o que era suspeito, indicava claramente a presença de uma mulher no local. Além disso, a parte eletronicamente moderna era o que impressionava, ele devia estar gastando muito dinheiro para obter aquilo tudo. - Você tem um home theater? Olha só pra esse som... legal.

- Aconteceu alguma coisa com Karen?

- Não. Olha essa TV. Que bacana! - disse a observando mais de perto. - Garanto que você deve ter um PS por aqui em algum lugar. Com que grana comprou tudo isso?

Meu tio estava diferente. O cabelo estava cortado, a barba feita, o rosto no geral exposto. Ainda preservava aquele estilo hippie incrementado pelo seu atual visual civilizado.

- Escuta, garoto. Fazer tantas perguntas chega a ser falta de educação.

- Tudo bem. - eu disse em defesa. Sua falta de hospitalidade estava me chateando, por isso não relutei em falar o que queria. – Meu pai quer o terno dele de volta.

- Ah!

Meu tio partiu em direção ao interior da casa sem perceber que o seguia. Era impressionante todo o lugar ter a mesma sofisticação.

- O que...? Tudo bem. Venha comigo. - disse ao perceber minha presença.

O quarto era enorme, inclusive o seu closet – Um closet? -. Ao abri-lo concluí que os temores do meu pai eram ridículos. Tio Tom tinha uma coleção de ternos de grife, além de um zilhão de calçados que provavelmente preenchiam o resto do armário.

- Caramba!

- Escuta, boyzinho, você não pode contar nada do que viu ao seu pai.

- Do que me chamou?

- Bem, depois conversamos. Vamos encontrar esse terno primeiro. - disse infiltrando-se dentro do armário.

Aproveitei sua distração para olhar mais detalhadamente ao redor. O lugar realmente era estranho. Era tudo tão novo, impecável e organizado... a cama estava estendida caprichosamente, aliás, era uma cama de casal, o que não provava muita coisa. Corri os olhos ao redor e meu olhar recaiu por mais tempo do que necessário em uma mochila num canto. Não pude classificar minha reação imediata. Que meu tio estava completamente estranho era claro, assim como o fato de estar morando naquele lugar e a sua aparência lunática tê-lo abandonado, mas nunca imaginei que ele pudesse ter se metido em um lance perigoso.

- Onde fica o banheiro? - perguntei, percebendo que minha voz saia fraca.

- Ah! No corredor. Segunda porta a esquerda. - respondeu metendo a cabeça para fora do closet.

Corri o mais rápido que pude e me tranquei no banheiro tentando estabilizar minha respiração. Ainda tremendo procurei desesperado o celular no meu bolso e disquei o número de Céli que demorou a responder.

- Que foi, Dill? Não vai poder ir?

- Céli, você não imagina o que encontrei.

- Fala mais alto.

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