Capítulo 23

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Diário Semanal – 14 de Agosto

Um alguém para amar...

A pior parte em não estar apaixonada é a de desejar estar. A todos os instantes, por cada rua, beco e esquina improvável surgem diante de nossos olhos modelos perfeitos do cara da neve. Esculturas bem trabalhadas, olhos sensíveis, criações esplendorosas que tornam nossa vida significante pelo simples fato de termos nascido. Um rodízio de sorrisos lindos, olhares perfeitos, cabelos impecáveis, altura dentro do perfil(1,80m), corpo sarado, bom de papo, culto e com um emprego estável.

O coração dispara, alerta e ansioso a procura do alvo. Porém a vida sussurra: "Realidade" e o brilho impactante de alianças(compromisso, noivado e casamento) ofuscam seus olhos de maneira gritante.Alguém chegou primeiro e a conformidade é a única reação provável e inquietante que não se desapega. Então por um segundo você pensa ouvir o mundo dizer em uníssono: "Acorda! SOLTEIRA!SOLTEIRA! SOLTEIRA! É isso que você é e será assim para sempre.

Ah, Deus! Que martírio...

Subi os degraus do edifício em que ficava meu escritório convicta de que encontraria o amor da minha vida no caminho. A cena se desenvolveu em minha mente de maneira impressionante e com uma riqueza de detalhes incomparável. Lá estava ele: Alto, perfeito e sorrindo me olhando com aquele olhar único e penetrante. Eu desequilibro ou o salto quebra – não importa - Então em câmera lenta seus braços fortes me agarram antes que eu caia. Braços lindos, malhados com bíceps rígidos...

- Boa tarde moça!

Meu coração dispara no susto. Era apenas o porteiro de 1,60m com olhos opacos, dois dentes faltando e um português limitado que me chamava. A pior parte era que até mesmo ele era casado.

- Oi José. – respondi envergonhada por estar sonhando acordada em público.

Entrei na recepção sem cumprimentar a secretária e fechei a porta na sua cara. Não estava tendo um bom dia e esperava honestamente que ela não me processasse por isso. Procurei o computador em desespero. Precisava escrever...

- Anne?

Olhei irritada na direção da porta me deparando com Néo a encarar meu estado precário. Pelo menos por um dia ele poderia me deixar em paz.

- Oi, Néo. – disse num sussurro.

- Tudo bem?

- Claro! – respondi num tom alegrinho demais. Altamente suspeito.

- Você está com uma cara.

Cara? Que cara? Eu estava? Tudo bem, Anne. Relaxa pelo amor de Deus!

- Estou ótima. – disse com um sorriso afetado. – Algum problema?

- Nada. Eu só...

- Você...?

Néo estava bonito naquela tarde. Usava uma camisa verde que ressaltava seus olhos castanhos e a pele clara. Seu cabelo cacheado estava molhado o que lhe deixava com aquela aparência típica de nerd malandro.

- Eu queria te convidar para uma coisa.

Tum-tum Tum-tum... calminha, Anne! Calma! É só Néo, seu melhor amigo. Meus batimentos desaceleraram. Me senti satisfeita com meu auto-controle – recém descoberto – Boa garota.

- Um convite? - perguntei com os olhos brilhando. Condenei a mim mesma. – Para...?

- Um jantar.

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