Capítulo 14

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Cerrei meus punhos automaticamente.

- Sei como tá se sentindo... – ouvi Céli dizer, mas sua voz parecia distante.

Aqueles segundos pareceram eternos. Minha respiração travou, meu corpo estava rígido. Os vi saindo em direção ao ponto de ônibus. Pedro sem a mochila. Fiquei em silêncio, o que me pareceu ser muito tempo enquanto Céli me observava sem dizer nada.

- Desde quando? - eu disse ao chegarmos ao jornal. Céli verificou se a sala estava trancada e depois me encarou como se estivesse penalizada o que não me deixou feliz. - Desde quando você sabe? - minha voz saia fraca.

- Dillan, eles são só amigos. Julia quis contar, mas...

- Amigos? – eu ri em deboche. - Por que ele? Não podia ser qualquer outro cara? - mesmo essa opção não me deixava mais alegre.

- Ela o conheceu nas férias. Antes de vocês se conhecerem e antes dele se tornar o seu arqui-inimigo. Ela não imaginava que isso tudo iria acontecer.

- Sei. - respondi friamente.

- Julia tinha medo de que você não entendesse ou saísse batendo nele assim que soubesse da ligação deles.

- Seria uma ótima opção. Mas eu não sou o tipo de cara que se dá bem numa briga e nem que procura uma, apesar de detestar aquele cara. Olha só pro meu rosto. – disse indicando os ferimentos causados por Tchelo.

- Eu não sei o que dizer.

Céli também não parecia bem com aquela situação toda.

- Mas por que ela não tentou me contar?

- Ela tentou, mas as coisas só aconteceram... saíram fora do controle e ela perdeu o momento certo. Depois vocês ficaram todo aquele tempo sem se falar...

- Mas eu pensei que ela... que ela gostasse de mim. – disse com a voz mais fraca a cada instante.

- Pensou isso? - perguntou Céli não podendo conter a surpresa. Até eu mesmo estava surpreso por aquela frase ter saído em voz alta.

- É.

- E você gosta dela?

- Eu... - eu a encarei. - eu sou amigo dela.

- Gostou dela algum dia como um cara gosta de uma garota?

- Nós somos amigos, como podia ver ela de outra maneira?

- Então deixe Julia em paz... já fez ela sofrer demais, Dillan.

- Eu... não sabia.

- Não sei se ela gosta dele, mas é melhor assim.

- Mas, Céli... ele é um idiota! Você jamais teria me procurado para a ajudar se não pensasse o mesmo.

- E eu penso e acredito que vou desmascarar ele, mas Julia tá feliz por enquanto e precisamos de provas.

- Não. Não, Céli... como vamos deixar ela indefesa com aquele cara? Não dá. - eu me sentia revoltado. Algo doía demais dentro de mim. Talvez o ritmo da derrota acabasse com o meu ego. Talvez mais que isso.

- Ninguém disse que ia ser fácil.

Eu balancei a cabeça incrédulo com a objetividade de Céli.

- Ela ainda gosta de mim?

- Ah, Dill! - exclamou Céli. – Mudaria algo se eu dissesse que sim?

Não respondi.

- Então esse era o seu segredo? Por isso não podemos falar nada à Julia? – ela concordou. – E mais alguém sabe? Marcelo sabe?

- Sabe... viu Julia e Pedro juntos alguns dias atrás.

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