Faziam alguns meses que eu estava morando em Porto Alegre em uma república enquanto estudava música. Laura havia ficado contente por ter se denominado a nova dona do meu quarto e não precisar dividir mais o seu com Sofia. Meu pai não havia aceitado muito bem a minha mudança, mas concordou que às vezes algumas mudanças são para o nosso próprio bem e eu amava aquela cidade.
Porto Alegre era linda e um grande centro cultural. De alguma maneira viver ali me deu novas forças e eu havia crescido, mesmo que só um pouco.
Eu tive notícias do filho de Amanda há alguns meses, ainda sem uma paternidade denominada, mas soube que meu tio se responsabilizou pela criança enquanto ela cumpria seu tempo de prisão na cadeia junto com seus aliados. Pedro estava num reformatório juvenil até completar dezoito anos, mas eu realmente preferi não me preocupar com isso. Tchelo havia me mandado notícias suas há alguns dias, estava bem e ainda não sabia quando iria voltar, mas disse que trocava torpedos com Céli já faziam alguns meses.
Por falar na minha amiga repórter, não era surpresa nenhuma ela estar cursando jornalismo na capital e ter tido a sua grande matéria de destaque no Diário Semanal do ano anterior. Havíamos conseguido! Mas o triste era pensar que isso não me empolgava.
Céli não compreendia muito bem a escolha de Julia e nem eu entendia aquela decisão. Era estranho ter sentido meu coração ser partido em mil pedaços e eu ter que colher os cacos do que restara sem qualquer ajuda.
A lista "Eu nunca..." havia me dado novas oportunidades de entender que verdadeiros limites não existiam. Mas o que afinal Julia tentara me mostrar com tudo?
- Boa tarde, garoto estudioso! – ouvi Céli dizer ao entrar no meu quarto que eu dividia com outros dois garotos.
- Oi. – eu disse feliz por vê-la.
- Muitas provas?
- É... típico. Tá tudo bem?
- Sim. – ela disse.
- Tudo bem mesmo?
- Não posso mais visitar você?
- Você não tem vindo com tanta frequência.
- Você é um chato. – ela disse com um olhar zangado e jogando uma folha de papel amassado na minha direção. – Tenho novidades.
- É mesmo? – eu disse com ironia. Não estava gostando do seu olhar.
- É mesmo. – ela disse com um ar zombeteiro. – Julia voltou pra Canela.
- E daí? – disse tentando parecer indiferente.
- Oh, Deus! Eu deixei de estudar para uma prova pra você me dizer "e daí?"? Você continua sendo um idiota, Dillan Martins.
- Ela não quer tentar. Ela deixou isso muito claro na última vez que nos vimos.
- E você é tão bobo assim pra acreditar nisso?
Eu balancei a cabeça e voltei para os livros que tinha em mãos.
- Devia ler o último conto do autor misterioso.
Olhei curioso para Céli. Como ela podia ter um novo conto do autor misterioso?
- O que foi? Ah! Dillan... você é tão babaca. Tenho isso desde setembro... foi a última vez em que vi meu querido artista. Sabe, uma vez você me perguntou quem ele era. Nunca imaginei que pudesse ser tão cego. Tem certeza que ainda não sabe?
Arranquei o papel de suas mãos e o li com curiosidade.
Na vida erramos para que nós possamos aprender e não desperdiçarmos uma nova oportunidade. Talvez finalmente entendesse o que Julia quisera me dizer com a lista "Eu nunca...", talvez ela tivesse medo por mim. Talvez quisesse ter certeza de que eu gostaria de tentar. Talvez em algum lugar estivesse a saudade.
Eu ainda tinha medo, era novidade para mim saber que uma garota também podia me magoar. Mas havia encontrado a minha pessoa especial e ela era minha melhor amiga... Larguei o livro que tinha em mãos e sorri para Céli.
Atrás de uma nuvem sempre existe um belo dia de sol e depois das tempestades temos o arco-íris. Julia me fez entender isso. Que a vida não era feita em preto e branco e que tudo era uma possibilidade. Por que não? Afinal, o impossível só existe em nossas cabeças.
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Eu Nunca...
Teen FictionEu nunca... vi a Aurora Boreal Eu nunca... escalei o Monte Everest Eu nunca... corri sobre pedras chamuscadas (Nem sou maluco a esse ponto) Eu nunca... me equilibrei sobre as muralhas da China Mesmo a ideia sendo incrível! Mas existem certas coisas...