(Continuação)

316 18 0
                                    

- Pessoal... – ouvimos o professor gritar com a voz esganiçada. – Sei que é chato me ouvir. - falou ao encarar os rostos de trinta e seis adolescentes mal humorados. – E sei que as férias com certeza foram muito boas... tenho certeza disso. – ele olhou para as mãos com nervosismo, pois os alunos não silenciavam. – O Diretor... o diretor – o balburdio continuava. - CHEGA - esbravejou ao perceber que o burburinho não passaria. - Quietos pelo amor de Deus!

            O mais engraçado dos fatos era visualizar a figura esguia do professor Hermógenes tentando inutilmente despertar a atenção dos alunos. Ele levantou-se lentamente da cadeira a arrastando para trás com um ruído por pouco insuportável. Puxou as calças bege-desbotada para cima e pigarreou ruidosamente. As bochechas estavam salientes e o rosto ruborizado por causa da exaltação. Nos encarou com desânimo, as mãos suando de nervosismo - tinha alguns problemas de ansiedade e de associação com qualquer pessoa real que não tivesse quatro patas e miasse. - eu o observei com um riso reprimido passar a mão pelo cabelo – que não existia – limpar a garganta e esboçar um sorriso de: ‘está tudo bem’ num ritual cômico antes de recomeçar a falar.

- Algumas regras permanecem as mesmas como as advertências para a pichação e danos aos pertences da escola e também a proibição de celulares e todas essas coisas eletrônicas... bem...

Hermógenes pigarreou mais uma vez antes de continuar.

- A pedido da diretoria, preciso informar que... TODOS vocês até o fim do trimestre deverão participar de alguma atividade extracurricular... a escola já possui algumas e seria interessante – tudo era interessante para o prof. Hermógenes. – vocês participarem de alguma ou criarem uma que seja adequada às normas da escola. Qualquer outra informação, por favor procurem os diretores... e sim, é obrigatório para todos os alunos do terceiro ano. Boa aula. - disse no instante que tocou o alerta para o período seguinte. – Ah! E vocês não tem escolha. – completou ignorando os olhares indignados lançados na sua direção.

 10h15min. Pátio da escola.

Fiquei lá fora vagando durante o recreio sem a menor ideia de onde estaria Julia e sem o menor interesse no treino de futebol que me esperava naquela tarde. Marcelo estava na sala do treinador e eu observando as gotas de chuva caírem. O ensino médio era para mim todo um blábláblá sobre futuro e coisas que iríamos enfrentar, mas qualquer um que me encarasse naquele momento perceberia que eu não ligava o mínimo que fosse para o futuro e nem com o que iria enfrentar.

Ouvi as risadas grotescas de um grupo de garotas a distância e me encolhi. Esperava passar despercebido por elas e me livrar de conversas tolas e sem sentido ou qualquer comentário idiota sobre a nova norma da escola aos formandos. Era uma completa besteira e eu concordava, mas não ligava para nada daquilo.

Logo percebi o silêncio incômodo e aquela marcha desconfortável através do corredor. Algo ali estava estranho. Olhei de relance, cedendo a minha curiosidade. Meu olhar chocou-se com o grupo e mais especificamente com uma garota morena e alta de olhos escuros que me retribuiu um olhar gelado.

- Sara - sussurrei.

Eu Nunca...Onde histórias criam vida. Descubra agora