(Continuação)

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Sexta-feira, 30 de Março. 12h55min. Casa de Dillan.
- Então hoje é o grande dia? – disse Marcelo entrando no meu quarto.
O quarto ainda lembrava o de uma criança meio adolescente e sem qualquer traço
de amadurecimento. Um vídeo-game, o controle remoto como de costume em cima da
cama. O computador de um lado, livros sobre o gabinete, um DVD do outro lado e no alto
o abençoado ar-condicionado!
- Acabei de tirar aquele gesso maldito e não preciso de nenhuma fisioterapia, o que
significa que já posso ir ao treino de futebol e tirar aquele pateta do Pedro do seu curto
reinado.
- Legal. Mas vai com calma. – disse ele que devia estar estimulando o que restara da minha
dignidade.
- Eu sei. Só tô feliz.
Eu contemplava meu tornozelo pálido por conta do mês sem luz solar com uma
expressão sutilmente embasbacada.
- Vamos logo, então. Pronto? – disse Marcelo inseguro o que não melhorou aquela
sensação estranha que não se desapegava. Algo estava errado.
Sexta-feira, 30 de Março. 17h. Escola.
Os nossos cinco olhares se encararam na sala de teatro. Lembro da pressão subindo,
depois meu coração desacelerando e provavelmente meu rosto empalidecendo. Sem
expressão exata dei meia volta sem nenhuma palavra a dizer.
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- Droga! – disse Julia.
- O que ele faz aqui? – perguntou Sara tão perplexa quanto Julia.
Julia saiu pela porta da sala de teatro prevendo o que vinha a seguir.
- Dill! Espera.
Eu caminhava apressado pelo corredor e não hesitei em nenhum momento antes de
sair pelo saguão de entrada da escola. O sol se punha no horizonte o que apenas me
deixou mais melancólico. Julia correu o mais depressa que pôde e se pôs na minha frente.
- Espera. – repetiu ela.
Eu sentia um enjoo contínuo, o rosto suando, a camisa molhada. Ainda estava
pálido e com uma expressão indescritível.
- Eu posso explicar.
Ri em deboche e continuei andando sem nada a dizer.
- Ou talvez não possa. – ela disse. Não podia encará-la. Estava tentando descobrir para
onde iria. Talvez caminhar pelas ruas desertas no percurso de volta pra casa naquele
entardecer. - Sei o que deve estar parecendo. Eu não planejei nada, não sabia que a Sara
vinha e nem Diego. Você sabe que eu não seria capaz de fazer uma coisa dessas. Nunca
mesmo. Você acredita em mim, não é Dill?
Eu continuei com aquele sorriso sonso e lhe lancei um olhar frio. As coisas estavam
saindo de controle e agora saber que as únicas pessoas que minha melhor amiga descolara
para nossa banda eram justamente as únicas que eu não queria ver naquele dia não
ajudava a melhorar a situação.
- E Pedro?
- Ele... eu o convidei. – ela disse. – E ele trouxe os outros.
Julia parecia realmente lamentar tudo. Mas eu não.
- Eu não estou mais no time de futebol. – ela me lançou um olhar dolorido. - O meu dia foi
horrível. O treinador disse que tive muitas faltas nas férias e não tô mais preparado para
continuar sendo o atacante. – engoli em seco, mas continuei. – Metade do time viajou nas
férias. Ter torcido o tornozelo foi apenas uma desculpa para impor uma nova posição no
time de futebol. Pelo menos ele deixou isso bem claro quando disse que não sairei mais da
reserva até o fim do ano.
Julia com um olhar preocupado perguntou:
- Quem é o novo atacante?
Completamente derrotado respondi:
- Pedro.

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