Eu já havia ouvido muitas coisas sobre esse meu estado estranho e caótico. Havia lido sobre isso nos contos do autor misterioso. A verdade era que em dezoito anos eu nunca havia me apaixonado.
Era tão simples e bom. As pessoas deviam se apaixonar sempre se a sensação era aquela. E por mais piegas que fosse – que cara não é piegas quando está apaixonado? – eu queria muito que ela gostasse de mim.
Eram nesses momentos que eu desejava conhecer o tal autor. O cara era um expert no amor, mas aparentemente Céli ainda não mudara de ideia. Sabia que a encontraria na festa, mas não resisti e liguei várias vezes. Nada. Mel parecia extremamente ocupada para mim e Julia estava atarefada com a decoração da festa e ansiosa como todos os alunos com os acontecimentos. Todos pareciam extremamente apreensivos com os resultados da bolsa de estudos enquanto eu estava ignorando as aulas e me dedicando ao meu projeto do final de semana.
- Nervoso? – perguntou meu pai ao entrar no quarto enquanto eu me vestia.
- Muito.
- Acha que as coisas vão correr bem?
- Vão sim pai.
Me encarei seriamente no espelho. Meu estômago parecia ter encolhido e estar aos pulos, minha garganta estava seca e eu um pouco pálido.
- Você já se apaixonou pai?
Ele olhou para mim surpreso. Nunca pensei que uma frase como aquela sairia da minha boca. Mas fingi não estar parecendo um idiota inseguro e o encarei seriamente.
- Eu sei. Pela minha mãe e pela Karen... eu sei... eu só...
- Queria saber como é?
- Sim.
- É diferente de tudo, Dillan.
- E o que mais? – Caramba! Eu estava muito ansioso.
- Não sei. É complicado. A gente simplesmente sabe que ama e a partir disso seu mundo vira de cabeça pra baixo.
- E o que se faz depois disso?
- Tenta. A pessoa tenta.
- Eu sei, pai. Não sou idiota. Mas... e se isso for impossível?
- Impossível? Garoto, o impossível só existe nas nossas cabeças.
Eu discordava. Então finalmente assumi:
- Eu vou pra Porto Alegre no início do ano.
- Está preocupado com a distância?
Eu concordei.
- Então se certifique de que ela é uma garota importante. Os Martins lutam e resolvem.
- Ela é.
- Então diga isso a ela.
- Eu sei. Só não sei como.
2 de setembro. 20h. Ginásio da escola.
Todas as vezes em que havia entrado naquele ginásio me senti um rei, o cara, o garoto prodígio. Então tudo foi tirado de mim e eu caí. Caí e me senti triste, perdi uma coisa importante, perdi o que julgava mais importante. Só não sabia ainda quanta coisa me esperava e a enormidade de aventuras que viveria.
Naquela noite eu estava encarando aqueles rostos esperançosos que imploravam por uma oportunidade. Todos gostariam apenas de ser o rei ou cara por uma noite. Estavam mergulhados na magia daquela decoração vivendo um sonho. Sonhos são bons quando não fugimos a realidade e as coisas realmente importantes. Graças a uma garota pude entender que eu era mais do que imaginava. Todos poderiam ser.

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Eu Nunca...
JugendliteraturEu nunca... vi a Aurora Boreal Eu nunca... escalei o Monte Everest Eu nunca... corri sobre pedras chamuscadas (Nem sou maluco a esse ponto) Eu nunca... me equilibrei sobre as muralhas da China Mesmo a ideia sendo incrível! Mas existem certas coisas...