Capítulo 26

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        Eu já havia ouvido muitas coisas sobre esse meu estado estranho e caótico. Havia lido sobre isso nos contos do autor misterioso. A verdade era que em dezoito anos eu nunca havia me apaixonado.

Era tão simples e bom. As pessoas deviam se apaixonar sempre se a sensação era aquela. E por mais piegas que fosse – que cara não é piegas quando está apaixonado? – eu queria muito que ela gostasse de mim.

Eram nesses momentos que eu desejava conhecer o tal autor. O cara era um expert no amor, mas aparentemente Céli ainda não mudara de ideia. Sabia que a encontraria na festa, mas não resisti e liguei várias vezes. Nada. Mel parecia extremamente ocupada para mim e Julia estava atarefada com a decoração da festa e ansiosa como todos os alunos com os acontecimentos. Todos pareciam extremamente apreensivos com os resultados da bolsa de estudos enquanto eu estava ignorando as aulas e me dedicando ao meu projeto do final de semana.

- Nervoso? – perguntou meu pai ao entrar no quarto enquanto eu me vestia.

- Muito.

- Acha que as coisas vão correr bem?

- Vão sim pai.

Me encarei seriamente no espelho. Meu estômago parecia ter encolhido e estar aos pulos, minha garganta estava seca e eu um pouco pálido.

- Você já se apaixonou pai?

Ele olhou para mim surpreso. Nunca pensei que uma frase como aquela sairia da minha boca. Mas fingi não estar parecendo um idiota inseguro e o encarei seriamente.

- Eu sei. Pela minha mãe e pela Karen... eu sei... eu só...

- Queria saber como é?

- Sim.

- É diferente de tudo, Dillan.

- E o que mais? – Caramba! Eu estava muito ansioso.

- Não sei. É complicado. A gente simplesmente sabe que ama e a partir disso seu mundo vira de cabeça pra baixo.

- E o que se faz depois disso?

- Tenta. A pessoa tenta.

- Eu sei, pai. Não sou idiota. Mas... e se isso for impossível?

- Impossível? Garoto, o impossível só existe nas nossas cabeças.

Eu discordava. Então finalmente assumi:

- Eu vou pra Porto Alegre no início do ano.

- Está preocupado com a distância?

Eu concordei.

- Então se certifique de que ela é uma garota importante. Os Martins lutam e resolvem.

- Ela é.

- Então diga isso a ela.

- Eu sei. Só não sei como.

2 de setembro. 20h. Ginásio da escola.

Todas as vezes em que havia entrado naquele ginásio me senti um rei, o cara, o garoto prodígio. Então tudo foi tirado de mim e eu caí. Caí e me senti triste, perdi uma coisa importante, perdi o que julgava mais importante. Só não sabia ainda quanta coisa me esperava e a enormidade de aventuras que viveria.

Naquela noite eu estava encarando aqueles rostos esperançosos que imploravam por uma oportunidade. Todos gostariam apenas de ser o rei ou cara por uma noite. Estavam mergulhados na magia daquela decoração vivendo um sonho. Sonhos são bons quando não fugimos a realidade e as coisas realmente importantes. Graças a uma garota pude entender que eu era mais do que imaginava. Todos poderiam ser.

Eu Nunca...Onde histórias criam vida. Descubra agora