Capítulo 4

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Meu ano escolar parecia não ter começado bem a partir do momento em que meu

nome e o de Julia não constaram na mesma lista. Não fazermos mais parte da mesma

turma não era o único problema, mas também o fato de Julia ter se tornado mais

inconstante e distante. Para entornar minha tragédia torci o tornozelo no primeiro jogo

importante do time, Pedro me substituiu e fez alguns gols. Eu não apenas detestava o cara,

mas desprezava toda a sua glória e aquele falso potencial. Eu tinha certeza de que havia

alguma coisa muito errada.

Não era tão ruim passar um tempo em casa sem qualquer compromisso, mas

minha melhor amiga vira nisso a oportunidade de tornar minha vida definitivamente um

inferno pessoal no instante em que se inscrevera no grêmio estudantil e tivera a péssima

ideia de formar uma banda. A garota achava que podíamos tocar na formatura e que eu

poderia ajudá-la a recrutar novos membros surtados assim como nós - e tocar.

- Muletas?! – exclamou espantada por me ver na escola cercado de garotas me

paparicando. – Com licença, queridinha. – disse Julia à uma delas com uma expressão

zangada no rosto. – O médico não disse “repouso absoluto”? – perguntou Julia.

- Não lembro dele ter citado isso e admito que ficar debaixo daqueles cobertores era bem

legal, mas eu estava começando a ficar louco. - respondi com indiferença aceitando um

pedaço de chocolate que uma das meninas havia trazido.

- Você só ficou em casa por duas semanas! E por que não avisou que viria?
- Garotas, obrigado pela ajuda, mas Julia pode cuidar de mim a partir de agora. – Julia fez
uma careta, irritada. As garotas pareciam ignorar meu comentário e a presença dela ao
meu lado.- Ok. Ok. É sério, gente. Valeu. Eu fico lisonjeado pela preocupação, mas nós
precisamos conversar.
A garota do chocolate me deu um beijo no rosto e saiu, eu lhe lancei uma piscadela
enquanto as outras a acompanharam. Julia sacudiu a cabeça enojada.
- Então tomou uma decisão sobre a banda? – disse se afastando e me deixando lidar
sozinho com aquelas muletas patéticas.
- Sim. – respondi me equilibrando.
- E então?
- Ok.
Ela ergueu as sobrancelhas. Eu revirei os olhos e ignorei sua incredulidade. Apesar
da banda ser um ideia horrível, sabia que Julia precisava de ajuda e de uma atividade
extracurricular com que se preocupar. Além do mais eu tentava me convencer de que
apenas teria que subir num palco, tocar algumas notas e então seria eleito o melhor amigo
do ano. Simples. Pelo menos na minha cabeça.

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