Eu Nunca...

(Continuação)

Julia estava definitivamente muito estranha e eu não fazia ideia do que estava acontecendo com minha amiga. Em geral era ela quem de nós dois ocultava mais informações sobre si própria e com certeza havia algo além do que dissera.

- Bom dia Dillan! – disse a professora com ironia assim que alcancei a sala de aula. A mesma professora de história do ano anterior.

Dei um sorrisinho e me sentei ao lado do primeiro conhecido que vi como se não soubesse que estava bastante atrasado.

- Oi, Dillan! – disse uma garota sorrindo atrás de mim.

- Oi. – respondi sem saber se a conhecia. Joguei minha mochila sobre a classe e cumprimentei o colega ao lado, companheiro de time – Oi Marcelo.

            Marcelo era um cara não muito alto, esquelético, branco-pálido, com olheiras profundas e com um cabelo de uma cor indefinível entre o louro e cinza. Era um garoto fechado e que mandava muito bem no futebol. Tinha uma paixonite crônica desde o jardim de infância pela melhor amiga de Julia, fato que eu jamais iria entender. Eu procurava manter distancia da garota esnobe do jornal da escola enquanto ele a perseguia em todas as oportunidades.

- Oi. - respondeu ele com uma cara de sono visível. - Veio ao treino de futebol semana passada?

- Vim. - respondi sem graça. Foi a única semana das férias em que eu compareci aos treinos. - O que aconteceu contigo?

- Uma contusão. Ainda incomoda um pouco, mas o treinador não ligou. Disse que é besteira.

A professora ainda divagava sobre as férias dos alunos e se divertia contando sobre suas aventuranças por Fernando de Noronha e suas águas cristalinas. Não ligou muito para o nosso papo, o que não aconteceria novamente até o próximo ano.

- E Julia, não tá contigo esse ano?

- Não. Você sabe que nunca vamos... – eu me interrompi e o olhei. Ele me lançou um sorriso maroto, enquanto eu fechava a cara.

- Do que tá falando?

- Você estava querendo dizer juntos na mesma turma. - ele riu alto.

 Tchelo algumas vezes achava graça da nossa amizade. Era o tipo de pessoa que não acreditava ser possível duas pessoas do sexo oposto terem uma amizade sem que em algum momento um dos dois se apaixonasse. Mas nos respeitava mesmo tendo a certeza de que um dia casaríamos.

- Eu tô meio confuso hoje. Deixa isso pra lá, ok?

- Ok. - disse rindo mais alto.

            Fiquei calado o restante do período e os dois outros seguintes. Estava meio perturbado com os desaparecimentos de Julia na semana final das férias e todo aquele mistério na lista das turmas. O que eu devia fazer era parar de pensar em Julia e em como estava estranha. Sobreviveríamos aquele ano e ponto final.