Eu Nunca...

(Continuação)

Eu iria matar Laura mais tarde, mas felizmente para a felicidade dela não
precisaríamos de alguém para testemunhar o feito. Lancei um sorriso nervoso para a
garota.
- Tudo bem. Bater pra que não é? Que costume pré-histórico. Pode entrar.
Beatriz entrou timidamente. Estava linda, como sempre, mas de perto era muito
mais bonita. Usava uma calça jeans clara e uma camiseta amarela com uma estampa sobre
o meio ambiente, ela devia fazer parte do clube de ciências. Os cabelos louros e curtos
estavam soltos como de costume, mas não trazia nada nas mãos.
- Não trouxe nada pra anotar?
Olhei para o piso de linóleo tentando controlar meu nervosismo. O trabalho devia
ser um pretexto pra nos aproximarmos então obviamente ela havia dispensado os
materiais.
- Talvez nem precisemos de material, né? – disse, me achando um imbecil por não
encontrar nada melhor para dizer.
- Eu gosto mais de escutar, sabe? Odeio livros e internet. Desculpa te dar trabalho extra...
- Eu gosto muito da parte teórica do futebol. Sem problemas.
- Ah! – disse Bia sorrindo. O sorriso não era tão bonito quanto o de Julia. Eu balancei a
cabeça quase que por instinto.
- É serio. – tirei meu olhar do chão e a convidei para sentar. – O que precisa saber?

23 de março, 19h. Dillan e Julia ao telefone.

- Minha tarde foi legal. Acho que foi primeira vez que achei bom não estar no treino.
- Engraçado. Nos verões você sempre diz a mesma coisa. – retrucou Julia com uma voz
entediada.
- Mas é serio. A Bia é diferente.
Eu nem sabia por que estava falando com a Julia sobre aquilo, mas ela parecia ser a
única pessoa que estaria realmente disposta a me ouvir.
- Todas são. - respondeu.
- Não. A Beatriz é engraçada, tem um jeitinho tímido...
- É bonita?
- Também, mas não é isso... ela é tão simples. É a primeira menina que levo em casa depois
de você.
- Que observação estimulante.
- Qual é o problema Julia? – perguntei já sem argumentos em minha defesa e irritado com
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a sua indiferença.
- Nenhum.
- E então?
Julia ficou em silêncio do outro lado da linha por mais que alguns segundos.
- Acho que você gosta dessa Beatriz porque ela é apenas mais uma amiga da Sara.
- O que?! – eu disse espantado. E sem pensar muito completei: - Não. Eu nunca gostei de
você.
Julia ficou calada e eu também. Não que nunca conversássemos sobre o assunto.
Mas apenas ignorávamos a possibilidade de algo romântico entre nós.
- Eu sei. – disse ela após o longo silêncio e com a voz mais baixa do que o normal. – Mas o
que eu quis dizer é que talvez você tenha algum prazer em provocar a Sara. Eu tenho que
desligar. – Ela respirou fundo. Eu não percebera que ainda estava prendendo a minha
respiração. - Procura conversar sobre esse tipo de assunto com o Marcelo. Acho que nossa
amizade tá começando a ultrapassar os seus limites.