Minhas notas haviam melhorado bastante depois que decidi me empenhar em história e matemática. A professora de português tentou me dar uma força e admirei aquela sua batalha contra o impossível. Entreguei uma composição mal feita para Pedro e ele pareceu se conformar com aquilo. Eu finalmente descobrira que não era compositor, letrista ou como quer que chamassem aquilo, mas ainda não desistira de me tornar um poeta, ou pelo menos era nisso que eu vinha trabalhando no decorrer dos dias. Fugi de Julia no dia seguinte ao telefonema até decidir que estava pronto para cumprir sua missão e admitir que esse momento nunca existiria. Julia estava certa. Precisava deixar de me isolar. Já havia inventado muitos pretextos.
Segui andando pelo corredor da escola ainda apreensivo quanto ao que fazer. Mas não havia plano. Dessa vez nada muito mecânico poderia ser feito.
Bati na porta fracamente e achei impressionante o fato de alguém abri-la, mesmo que ela tenha demorado um pouco para se restabelecer do choque. A vice-diretora ainda parecia espantada com a minha presença e educadamente me convidou à sentar. Calmamente sentei no lugar que ela indicava e a encarei.
Faziam alguns anos que não a via, ela estava diferente. O cabelo ainda era longo e avermelhado, os olhos estreitos, boca larga e nariz pequeno. Ela parecia bastante bonita para a sua idade. Agora se vestia num estilo mais despojado. Um colete preto, calça jeans justa e camisa longa... muito estilosa e sempre com aquele salto que eu conhecia desde criança. Fazia tanto tempo que não olhava nos seus olhos que por um instante me senti um garoto novamente, aquele Dillan problemático e rebelde que ela conhecera. Olhei para sua mesa e meu olhar se prendeu sobre o seu crachá. Helena Flores... encarei o porta-retrato recente e sua expressão sorridente ao lado de Sara.
- Oi, mãe. – eu disse finalmente.
Pensei sobre o que poderia dizer. Que tal: "Tô aqui apenas pra cumprir um item idiota de uma lista idiota que Julia criou. Julia é a minha melhor amiga. Não sei se você lembra. Ela pensa que tenho problemas psicológicos então criou essa lista que se chama "Eu nunca..." e um dos itens era ver você e agora que a vi diga apenas que tá bem e eu posso ir..."?
Não que eu ainda seja um covarde, mas por motivos óbvios não disse nada daquilo para ela.
- Dillan... – minha mãe falou finalmente.
Esqueci de mencionar o fato de que minha mãe era vice-diretora da minha escola. Olhei para ela, mas ela tinha um olhar assustador. Não disse nenhuma palavra, apenas me encarou. Imaginei qualquer tipo de reação, mas jamais aquela.
- Acho que vou embora.
- Não. – ela disse antes que eu me levantasse.
Ela olhou para mim outra vez, os olhos cheios de lágrimas e me abraçou.
- Você está tão lindo! – ela sorriu, me olhou, beijou minha bochecha e me abraçou outra vez. - Me desculpa...
- Mãe...
- Me desculpe por ter... eu não queria abandonar você, não queria ter sido uma mãe tão horrível, sinto tanto a sua falta...
- Mãe...
- Querido... – ela olhou pra mim. Ela estava chorando e tremia. – que bom que você veio.
Então eu simplesmente a abracei e tentei segurar aquele aperto na garganta... aquela tristeza repentina, aquelas lágrimas que teimavam em fugir dos meus olhos...
17 de agosto. 12h. Escola.
- Alguma missão antes do meu trabalho? – perguntei à Julia assim que a encontrei do lado de fora da escola.
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Eu Nunca...
Teen FictionEu nunca... vi a Aurora Boreal Eu nunca... escalei o Monte Everest Eu nunca... corri sobre pedras chamuscadas (Nem sou maluco a esse ponto) Eu nunca... me equilibrei sobre as muralhas da China Mesmo a ideia sendo incrível! Mas existem certas coisas...