Capítulo 18

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Andar com aquele cabelo verde por toda a cidade significava que dezenas de pessoas me encarariam, sem se encabular, o tempo todo. Na certa imaginariam que eu era algum revolucionário ou modista-punk. Parei de pensar no que os outros poderiam pensar e simplesmente decidi sair e arrasar nas ruas com minhas novas roupas – pretas. Usar vermelho me fazia sentir um moranguinho do nordeste, azul parecia uma referência à bandeira do Brasil e qualquer outra cor pareceria um contraste bizarro com o meu cabelo ou uma queda visível pelo mundo dos super-heróis. – e com aquele cabelo ridículo. Dois dias fora o que Julia dissera. Só precisava suportar o dia de hoje.

Caminhei animado até o centro. Estava em frente ao portão de madeira branco, estilo americano, da casa de Céli e toquei a campainha. Ela surgiu na janela um tempo depois com uma expressão surpresa ao me ver ali.

- Boa tarde! – eu disse quase cantando quando ela finalmente apareceu na porta.

- Dill... oi... – ela parecia confusa. – O que faz aqui e quem é...?

Céli estava com os cabelos cacheados presos num coque desproporcional, uma calça jeans branca e uma casaco três vezes maior do que ela. Lancei um sorriso para minha parceira de investigações que tinha um gosto peculiar para roupas e encarei Sofia que estava ao meu lado.

- O que? Sofia? – eu disse fingindo ter esquecido a presença da garotinha ao meu lado - A mãe dela veio me procurar ontem exigindo um teste de DNA.

- Cala a boca, Dill! – disse Céli olhando para Sofia e se aproximando do portão, ainda receosa. Olhava para Sofia como se fosse uma extraterrestre. – Oi? – ela disse com um tom de voz mais suave. – Esse moço do cabelo verde tá incomodando?

Sofia indicou que não com a cabeça. Precisávamos de um novo tipo de comunicação. Estava começando a acreditar que ela realmente não falava.

- Infelizmente acho que ela gosta de você. – concluiu Céli olhando temerosa para sua casa. – Quem é ela?

Diziam na escola que os pais de Céli eram do tipo durões. Por isso as excelentes notas no colégio e a falta de amigos. E pelo que a lenda dizia não admitiam meninos em sua vida. Talvez isso fizesse de Céli menos amedrontadora e mais compreensível. Infelizmente eu estava começando a gostar daquela garota.

- Nossa hóspede lá em casa. – falei. Notando o olhar preocupado de Céli. A história parecia ser verídica. - Vem comigo. Precisamos conversar e levar essa princesinha para brincar na praça.

- Hóspede?

- Vamos logo, Céli. – eu disse.

- Tá. Mas tenho que avisar minha mãe... – concordei sem fazer nenhuma pergunta e quando ela voltou um tempo depois com os cabelos soltos e um casaco menor evitei fazer piadinhas. Já não reconhecia a mim mesmo.

- Quem é essa menina? – acho que Céli começava a imaginar que eu havia sequestrado Sofia.

- Não acreditou mesmo na história da paternidade? – brinquei. Céli revirou os olhos. – Tudo bem. Sofia é uma garotinha que estava sem os pais na rua em um dia chuvoso...

- Seu pai...

- EU a encontrei e levei para nossa casa. Ela estava com fome e frio. Não sabemos nada sobre ela.

- Como assim? E o seu pai...?

- Tô sem mesada outra vez. Ele gritou comigo. Disse que já havia visto uma porção de crianças na rua, mas nunca as havia trazido pra casa.

- Você realmente tá falando sério?

- Aham. – como eu disse: ninguém acreditaria. - Mas não fala nada pra Julia. Não sei como contar.

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