Michael Wheeler|Point of view.
Hawkins, Indiana.O caminho inteiro tive que fingir que não ouvia todos os cochichos, as perguntas sobre o porquê de estarmos voltando para casa tão cedo já que iríamos ficar para ver o pôr do sol, ou até mesmo o porquê de eu estar com uma cara péssima de choro.
Eu me sentia uma verdadeira bagunça, confuso, perdido. Era quase como se eu estivesse em todo e nenhum lugar, sentindo tudo e nada ao mesmo tempo.
E essa é a parte mais foda da ansiedade, porquê você simplesmente não sabe lidar embora tente, sempre é de um jeito diferente e você nunca sabe como fazer ela ir embora.
Eu não sabia o porquê de ter me sentido tão incomodado em ver Will com aquele garoto, mas eu realmente havia ficado.
Podia facilmente soar como egoísmo, e talvez fosse, mas nem eu sabia explicar.
Quando chegamos em casa – o que pareceu longas e torturosas horas de viagem – eu sequer esperei que falassem comigo ou me perguntassem algo, eu simplesmente fui para o meu quarto e me tranquei lá.
Nancy até tentou me fazer abrir a porta, dizendo que eu poderia conversar com ela como quando era mais novo, que não iria ter julgamentos.
Mas sei lá, as coisas eram diferentes agora.
Eu não era mais uma criança, eu precisava aprender a lidar com tudo isso sozinho.
Até porquê, no final das contas, foi o que eu sempre fiz, me virei sozinho.
• • •
Funguei uma última vez, soltando um longo suspiro trêmulo.
Me sentei na cama devagar e olhei meu reflexo através do espelho que tinha na porta do meu guarda-roupa, vendo como eu estava péssimo.
Eu estava com bolsas embaixo dos olhos, deixando nítido que eu havia chorado juntamente do meu nariz, que estava com a ponta vermelha.
Enxuguei o rosto e desviei o olhar do espelho, respirando fundo.
Eu perdi totalmente a noção de quantas horas eu passei naquele quarto, chorando.
Eu não sei se alguém tentou vir aqui de novo, foi como se, de certa forma, o mundo tivesse parado.
Eu chorei tudo que podia chorar na esperança de que aquele sentimento ruim e desconhecido fosse embora, mas não foi.
Eu ainda me sentia estranho, sentia raiva e angústia ao mesmo tempo, um medo incessável.
A única certeza que eu tinha agora era a de que eu precisava urgentemente de um copo de água.
Contragosto me levantei da cama, saindo do meu quarto e descendo as escadas, indo em direção à cozinha.
Não olhei para ninguém, mas senti os olhares em mim. Minha aparência devia estar deplorável mesmo.
Peguei um copo e fui até a geladeira, tomando um primeiro e depois um segundo copo cheio de água.
Quando acabei, fechei a geladeira e levei o copo até a pia, o deixando lá.
Quando estava prestes a voltar para o quarto, uma voz junto de um toque suave em meu braço me parou:
─ Mike? -Sua voz me chamou.
E ela me chamou de um jeito tão doce que por um momento eu simplesmente deixei de sentir tudo aquilo.
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Era pra ser só umas férias de verão!
FanficDepois de anos, os trigêmeos Michael, Richard e Boris resolvem ter um reencontro, eles só não esperavam que isso iria resultar em uma enorme bagunça. Ps: A melhor bagunça da vida deles.