XXXXIII.

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Maureen fez as provas práticas dos N.I.E.Ms de maneira impecável. Por outro lado, preferia nem pensar em qual seria sua pontuação na prova teórica. Em uma das questões, pedia para que citasse 5 características de Lethifolds e argumentasse, sob ângulos variados, sua ligação com Dementadores. Não soube o que escrever além de "Deve-se usar o Feitiço do Patrono"; o restante do texto foram informações incoerentes e mal estruturadas tentando explicar o local em que eram encontrados e as suas formas, o jeito em que capturavam suas vítimas.

Por que achavam tão importante saber suas características? Provavelmente nem conseguiriam ler o que havia escrito. Mare sabia que eram criaturas perigosas e que poderiam ser detidos com o Expecto Patronum – mais que isso, na verdade, aprendeu a conjurá-lo em forma de beija-flor, no ano anterior. Tinha esperança que, se os professores de Hogwarts decidissem que iriam cancelar o quadribol por causa da fuga de Sirius Black, conseguisse provar que os jogadores conseguiam se defender. Por sorte, nunca chegou a ter que argumentar isso.

Chorou um pouco, enquanto estava sozinha no dormitório. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Sabia que não receberia honras quando formada e que não precisaria disso para jogar quadribol na próxima temporada, mas era apenas isso? Ninguém perceberia que ela era mais do que apenas uma artilheira? Não se importam, nunca se importaram. Mare queria ir embora.

Mais tarde, durante a madrugada do dia 24 de junho, se encontrou com Cedric Diggory, na cozinha do castelo – uma coincidência que Maureen lembraria para o resto de sua vida. Estava encostada na bancada, comendo um pedaço de pudim, quando o viu entrar pela porta. Ele sorriu e se aproximou da bancada, também servindo um pedaço do doce. Não sabiam que seria a última vez, a última conversa.

– Espero que não me dê detenção por estar fora da cama, monitor – brincou.

– Já cumpri minhas horas de monitor.

Mare soltou o ar da garganta, murmurando "ufa!", e o garoto riu de sua reação. Odiaria passar sua última semana em Hogwarts lendo livros com Moody ou limpando todos os caldeirões da sala de Snape. Cedric colocou um pedaço de pudim na boca e Maureen fez o mesmo. Ficaram algum tempo sem dizer nada, apenas comendo e apreciando a companhia um do outro.

– Como você acha que é Azkaban? – perguntou ao amigo e escutou-o tossir, tendo engasgado com a comida.

– Que pergunta é essa?

– Não sei – deu de ombros. – Tive um pesadelo com isso, algumas semanas atrás. Tudo pareceu tão real... o desespero, a dor. O cemitério estava cheio, com pessoas que haviam se matado batendo a cabeça nas pedras, ou conseguido se cortar, ou parado de comer a própria comida para morrer de fome. No começo, eu tinha esperança de que ia sair de lá, mas depois comecei a ficar cada vez mais agressiva, sozinha, com tiques e um medo atroz. Comecei a contar o número de vezes que ouvia as ondas batendo nas paredes, pra tentar não enlouquecer.

– Isso é... meu deus. Você tá bem? – encarou-a. – Deve ser ansiedade, por causa dos NIEMs. Também fiquei assim, tive sonhos horríveis e quase não consegui dormir antes das provas, virei a noite estudando.

– Acha que foi bem? – perguntou, tentando amenizar o clima pesado.

– Eu arrasei! Sabia todas as perguntas, consegui fazer todos os feitiços, as poções, cuidar dos animais... – sorriu.

Mare imitou um sorriso amigável, mas não parecia tão animada. Queria poder dizer o mesmo de suas avaliações ou, pelo menos, queria que ele não fosse tão perfeito em tudo que fizesse. Estava feliz por ele – claro, sempre ficaria feliz pelo amigo –, mas gostaria de não estar se comparando naquele momento. Por que havia perguntado aquilo? Manteve o sorriso, sem querer parecer rude em seus próprios pensamentos.

𝐓𝐇𝐄 𝐐𝐔𝐈𝐃𝐃𝐈𝐓𝐂𝐇 𝐂𝐇𝐑𝐎𝐍𝐈𝐂𝐋𝐄𝐒 ↬ 𝒐𝒍𝒊𝒗𝒆𝒓 𝒘𝒐𝒐𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora