VIII.

1.2K 105 21
                                    

Roger chamou atenção dos dois para que diminuíssem o tom de voz e parassem com as tiradas agressivas. Estavam em um ambiente neutro e decente, qual a dificuldade de não se comportarem como dois neandertais? Impressionante como ao invés de unir os indivíduos, o sistema de casas poderia transformar todos em selvagens por causa da competição — e a questão com o quadribol apenas agrava isso.

Assim, tentou transferir a conversa para assuntos que importavam:

— Como vocês querem fazer o esquema de treinos no começo do ano?

— 17 horas — Wood disse seco, ganhando um olhar assustado de Cedric.

— No máximo 14 — reforçou o lufano.

— O que? — Maureen pareceu confusa.

Wood soltou um suspiro, como se desse a entender que ela estaria os atrasando por não ter acompanhado a conversa direito. Entretanto, apenas ganhou um olhar de desgosto dos outros dois capitães.

— Um dos motivos dessa reunião ser apenas para capitães é decidir quantas horas por semanas podemos treinar nossas equipes — Davies olhou para Wood —, não queremos que seja injusto.

— Nunca pensei por esse lado — concluiu. — O que acham de no máximo 15 horas? Não é pouco mas é o suficiente para não sobrecarregar ninguém.

— É, ainda temos vida fora do quadribol.

— Já sabe como vai conciliar ser capitão e monitor, golden boy? — a garota fez um sotaque britânico quando o chamou pelo apelido, o que o fez sorrir envergonhado.

— Nem tenho ideia — admitiu. Sabia que muitas outras pessoas faziam isso antes e conseguiam facilmente conciliar as duas tarefas, não seria algo impossível. 

— Então todos estão de acordo? 15 horas? — Roger voltou ao assunto principal.

— Pode ser — Wood respondeu desanimado. Sabia que seu time aguentaria muito mais, mas não valia a pena brigar por isso, eles não mudariam de opinião.

— Claro — Cedric concordou.

— Então daqui algumas semanas nos encontramos novamente pra ver se esse número precisa ser alterado — Davies finalizou e eles afirmaram com a cabeça.

Maureen achou que a reunião havia se encerrado naquele momento. Era apenas isso? Por que havia desmarcado seus compromissos aquela tarde apenas para ficar quinze minutos conversando? Estava pronta para levantar da carteira e bater o pé no chão quando Diggory voltou a falar: 

— Meus artilheiros competem por quem faz mais gols e não passam a bola. Como eu resolvo isso?

Essa pergunta fez com que ela percebesse que não era uma reunião formal onde apenas conversariam sobre horários e partidas. Eles falariam sobre problemas que estavam enfrentando na equipe e dariam dicas um para os outros de como melhorar isso... interessante. Maureen definitivamente achou isso encantador! Ela tinha suas dicas e gostaria de poder compartilhá-las, sabendo que isso tornaria a competição muito mais legal — mesmo que não fosse entregar todas.

— Isso só para quando tiver mais rivalidade — a garota respondeu e os três cerraram as sobrancelhas, confusos.

— Isso já é rivalidade.

— Mais rivalidade que isso — pensou em alguma maneira de explicar o que estava dizendo. — Eles precisam querer ganhar das outras casas acima de querer ganhar dos próprios colegas.

Ganhou um olhar de aprovação de Roger, que não sabia exatamente como Diggory conseguiria colocar essa orientação em prática mas que valorizou o esforço de Maureen em ajudar o grupo. Cedric afirmou com a cabeça, mostrando que havia entendido.

— Dica decente para alguém que joga sujo — foi a resposta de Wood.

Se fosse ser sincero, ele nem ao menos sabia o porquê havia dito aquilo em voz alta, aquela era realmente uma dica decente e ela estava cooperando — diferente de Flint que apenas reclamava o encontro inteiro.

Davies sentiu que o clima havia pesado já que ficaram alguns segundos quietos, mas Mare soltou um único riso, meio abafado, daqueles que sai pela garganta.

— Sua tática de jogo é presunçosa, com um toque de baixa auto estima. Tem uma estratégia ríspida, sem versatilidade e não se preocupam em se adaptar quando jogam com outros times. Quando não conseguem vencer, ao invés de perceberem que estão seguindo uma estratégia de merda, preferem culpar os outros — falou, sem pausa e sem mudar de expressão.

Não estava brava, essa era apenas a verdade. Oliver se encolheu na cadeira e olhou para o chão, poderia ter ido embora sem essa. Estava bravo por ela ter exposto todos os seus pontos fracos e demonstrar tão bem em pouquíssimas frases porque os grifinórios eram egocêntricos; entretanto, no fundo, estava mais bravo ainda consigo mesmo por ter uma estratégia tão inflexível e, por esse motivo, falhar tanto consigo e com seu time.

Maureen sabia que seu time jogava sujo às vezes, mas fazia parte da própria tática de jogo dela — coisa que não revelaria aos outros. A maioria das faltas que eram faladas pelas outras equipes nem ao menos aconteciam (e exatamente por esse motivo eles não eram expulsos), os sonserinos apenas faziam os outros times pensarem que eram ruins e por isso recorriam a um "jogo sujo", cheio de brechas e agressividade, o que faz os outros times cometerem mais erros. É muito mais psicológico do que físico, mas se for necessário que eles adaptem seu jogo, também conseguem fazer isso e se tornam uma máquina mortífera do quadribol.

Se a falta de fato ocorrer, normalmente é um risco calculado em que Maureen pensou muito se deveria ou não fazer, seja para perturbar psicologicamente a outra equipe ou os aproximar de ganhar pontos. Assim, mesmo com os pênaltis, ela acha que vale o risco pois sabe que Bletchley é um ótimo goleiro — e se ele não for bem naquele jogo, ela admite que parte da culpa é dela.

Cedric e Roger tinham medo do que estava se passando na mente da garota e, se ela havia feito uma análise tão ruim da grifinória, nem gostariam de saber o que iriam falar dos outros times.

— Como vocês fazem pro time de vocês acordar tão cedo? — Davies tentou mudar de assunto.

— Ameaço deixá-los sem comida — Mare respondeu, séria e o outro se estremeceu.

Quando começou a rir das expressões de medo e preocupação que o garoto havia feito, Roger percebeu que era apenas uma brincadeira e passou a rir também, sem acreditar que havia caido nisso. Mesmo estando juntos em campo por tanto tempo, essa foi a primeira vez em que pode ver o sorriso de Maureen em sua frente, de forma nítida e não cheio de ódio por ter perdido a partida... era um sorriso bonito, com um humor ácido e diferente.

— Se fosse o Flint, eu teria acreditado — Cedric admitiu e riu também.

Ficaram conversando por mais uma hora e meia antes que a reunião fosse dissolvida. Precisavam tomar banho e resolver suas próprias questões antes que o jantar fosse servido, então cada um foi em direção ao seu próprio salão.

Havia sido algo divertido e que Maureen nunca pensou que poderia ocorrer entre as quatro casas, mas já haviam marcado de se encontrarem novamente em algumas semanas. 

𝐓𝐇𝐄 𝐐𝐔𝐈𝐃𝐃𝐈𝐓𝐂𝐇 𝐂𝐇𝐑𝐎𝐍𝐈𝐂𝐋𝐄𝐒 ↬ 𝒐𝒍𝒊𝒗𝒆𝒓 𝒘𝒐𝒐𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora