O Natal sempre foi uma data complicada para Maureen. O time ficava sem treino pois todos iam passar as festas de fim de ano com os parentes, então ela normalmente também voltava. Foi difícil enfrentar o primeiro natal sem sua mãe e o segundo havia sido pior ainda, com uma crise de ansiedade pouco antes de saírem do castelo. Porém pior do que tudo que já havia passado, esse seria o primeiro natal sem sua mãe, sem sua avó e com o conhecimento do que havia gerado a morte de ambas.
Suas mãos tremiam, mas ela ainda carregava a mala até o trem de volta.
— Maureen? — uma voz chamou.
Roger passou pelo corredor e, ao invés de continuar seguindo em frente, alterou seu caminho para ir até a garota.
— Por que você tá com uma mala?
— O que tá parecendo pra você? — a voz da garota saiu de maneira sarcástica, mas ele não achou que deveria brigar por isso.
— Achei que íamos passar o Natal juntos — disse confuso.
— O que? Nem conversamos sobre isso.
— Ficou subentendido que — foi interrompido.
Ele deixava muita coisa subentendida.
— Eu vou passar o Natal e o Ano Novo com meu pai.
Deu dois passos na direção do grupo que saia em direção a Hogsmead, arrastando sua mala consigo, sem deixá-lo concluir o pensamento.
— É por causa da sua avó? — falou alto e Maureen parou de andar.
Roger deu dois passos, ficando novamente cara-a-cara com a namorada. Pegou sua mão.
— Eu entendo e eu quero te apoiar — foi interrompido novamente.
Ele não entendia. Entretanto, Maureen ainda ficou nas pontas do pé, deixando sua mala de lado, e deu um beijo em Roger. Não queria se atrasar, então deram um tchau rápido e se afastaram.
Ela se sentou com seus amigos no trem e passou a viagem conversando, tentando se distanciar dos pensamentos sombrios e ansiosos que assolavam sua mente. Poderia ter pego uma chave de portal para que aterissasse na Irlanda, mas seu pai havia tido ideias diferentes de como podiam aproveitar o Natal e o Ano Novo.
Esperou para encontrá-la na estação, se comprimentando com abraços apertados e beijos no topo da cabeça. Após saírem da plataforma 9¾, ele a levou para a outra parte da estação, fazendo com que entrassem em um trem trouxa que iria direto para Berlim. Mare não contrariou, afinal, sempre havia achado interessante a ideia de usar redes de transporte dos trouxas.
Sua mãe gostava de fazer isso, estava acostumada desde pequena por ser nascida trouxa, e tinha levado a filha vez ou outra para andar em trens, carros e ônibus. Seu pai, por outro lado, havia crescido cercado inteiramente por magia e só passou a deixar seu desprezo por objetos trouxas de lado quando finalmente se casou.
No trem, a caminho de Berlim, Darren conversava com outros viajantes animadamente. Seus olhos brilhavam quando perguntava a eles o que faziam de suas vidas e os via explicando sobre coisas que jamais havia pensado que podiam acontecer; um deles era ator — e depois da viagem Darren quis ir ao cinema —, outro trabalhava consertando bicicletas e o terceiro era professor de física. Inventou que estava escrevendo um livro, já que Maureen pisou no seu pé quando ele citou a palavra "quadribol" indicando que aquilo não existia para os trouxas.
Darren sempre gostou de se aventurar e fazer coisas novas — e o mundo trouxa não parecia algo tão ruim quanto sua mãe falava. Maureen conseguia ver que, mesmo no início da viagem, já estavam se divertindo. Claro, ainda doía e o luto não havia desaparecido, mas eles estavam aprendendo a lidar com ele e crescer em volta dele, para que ficassem mais fortes.
Rodolfo Brand e Gwendolyn Morgan estavam esperando-os na saída do trem. Pegaram a mala das visitas e os comprimentaram com abraços.
— Você tá tão crescida! — Gwen disse, apertando as bochechas de Mare.
— E já é uma estrela do quadribol, pelo que seu pai nos disse — Rodolfo complementou.
Ele passou a mão pelos cabelos de Maureen e deu um abraço na garota. A jogaria para cima e ficaria levitando-a no ar, como ela gostava de fazer quando pequena, mas agora já havia crescido demais.
Eram seus padrinhos. Gwen havia sido capitã das Holyhead Harpies e Rodolfo o capitão dos Heidelberg Harriers, na mesma época em que seu pai estava jogando pelos Kenmare Kestrels. O quadribol havia conectado-os na época e, mesmo depois de tantos anos, continuaram trocando correspondências, fazendo visitas com pó de flu e chaves de portais para comemorar eventos e passarem festas juntas — como era essa a ocasião.
Levaram as coisas para a casa deles e colocaram ambos para se instalarem no quarto de visitas. Ficariam lá durante o Natal e o Ano Novo. Usaram os dias para mostrarem os pontos turísticos bruxos da cidade e alguns outros para mostrarem os trouxas — que eram muito mais em quantidade. Darren não entendia muitas coisas, mas fazendo um paralelo com a comunidade bruxa, claramente percebia o peso emocional de todos aqueles acontecimentos.
Na noite de Natal, bebiam muito — até colocaram Maureen para beber um pouco, mesmo ela sendo menor de idade — e comiam muito. Reunidos em volta do peru, adoravam contar histórias dos "bons tempos".
— O jogo demorou 7 dias para acabar! Foi o jogo mais cansativo que eu já pude participar... mas o melhor de toda a minha carreira — Gwen sorriu e olhou para o marido.
— Foi porque eu te pedi em casamento? — perguntou, com um sorriso bobo no rosto.
Eles eram casados agora, mas Maureen havia ouvido a história tantas vezes que já sabia como acabava. Assim que Rodolfo pousou no chão, tendo jogado contra Gwen durante 7 dias, ele a pediu em casamento... a única resposta foi um "Não. Tá maluco?" muito alto e uma batida de vassoura em sua cabeça tão forte que ele teve que dar pontos. Eles se casaram apenas anos depois, após quatro pedidos de casamento falhos da parte dele. Ela achava essa história romântica — só não mais do que a do pai.
— Não — ela riu. — Foi um jogo tão surreal que eu nem conseguiria descrever. Não estávamos preparadas para jogar durante sete dias seguidos. Um ou dois, tudo bem. Mas sete? A gente se revezou para conseguir dormir umas duas horas por dia e ainda se manter no campo. Trocamos de apanhadora três vezes — dava para ver o brilho no olhar da mulher enquanto contava essa história.
Maureen sempre soube que acima de qualquer relacionamento que ela quisesse ter, o quadribol sempre seria o maior amor de sua vida. Não sentia por Roger o que sentia quando estava voando e, o que mais queria, era sair de Hogwarts e investir em sua carreira — e provavelmente por isso não estava tão preocupada com NOMs e NIEMs, já que não precisaria deles.
— E vocês ganharam — o marido completou.
— E nós ganhamos! — gritou, animada.
Ergueu o copo de bebida e espirrou para o alto, molhando todos. Riram, felizes e jogaram mais bebida para o alto.
— Espero que escolha as Holyhead Harpies ano que vem, mocinha — Gwen disse, se levantando e bagunçando o cabelo da afilhada.
— Que nada! Kenmare Kestrels sempre serão os melhores — seu pai afirmou, sobrepondo sua voz a da amiga.
— Você acha que eu vou ter a chance de escolher? — Mare perguntou, baixo. Não se achava talentosa a essa ponto.
— Claro que vai — Rodolfo disse e apertou sua mão.
Após a ceia, ela voltou para seu quarto. No corredor, viu diversos retratos da casa e encarou Hans Brand, filho dos dois. Algumas fotos em que era mais novo e outras em que estava mais velho. Ele havia, de fato, sido chamado para muitos times de quadribol, mas optou por jogar nos Tutshill Tornados — e por esse e outros motivos não havia participado da festa de Natal e Ano Novo.
Jogaram juntos algumas vezes quando ela era pequena e ele já um pouco mais velho. Não via a hora de jogar com ele novamente assim que entrasse em uma equipe.
A semana seguinte e o Ano Novo passaram rapidamente, quase que em um piscar de olhos. Logo teve que voltar para Hogwarts. Ver Darren conversando novamente com as pessoas do trem foi a melhor coisa que Maureen presenciara — e que depois contara para seus amigos da sonserina, assim que se viram novamente.
Esse havia sido o melhor Natal que Mare pode participar.
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𝐓𝐇𝐄 𝐐𝐔𝐈𝐃𝐃𝐈𝐓𝐂𝐇 𝐂𝐇𝐑𝐎𝐍𝐈𝐂𝐋𝐄𝐒 ↬ 𝒐𝒍𝒊𝒗𝒆𝒓 𝒘𝒐𝒐𝒅
Fanfiction┈┄┉┅✧ Aquele em que Maureen sofre por quadribol - mas não apenas por isso. Não havia nada que Maureen O'Hare gostasse mais do que Quadribol. A sensação de estar voando, do vento batendo em seus cabelos, dos rodopios no ar e a felicidade de se marcar...