VI.

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Marcus Flint tinha duas personalidades: mal humorado e maníaco. O time estava nervoso para saber qual das duas aparecia hoje. Ele ficaria com aquela cara de bravinho enquanto chutava o chão ou iniciaria uma discussão fervorosa? Eles teriam que separar uma possível briga física? O quão forte Marcus estava desde que havia se recuperado? Voltou a treinar nas férias? Estavam nervosos.

Todos esperavam já prontos dentro do vestiário da Sonserina quando Flint chegou carregando sua vassoura recém concertada. Maureen havia feito questão de retirá-la do campo assim que o jogo acabou e mandá-la para uma revisão — não que tivesse sido culpa dela que o outro caiu da vassoura, mas a garota gostaria de ter certeza que estaria tudo impecável quando ele finalmente voltasse a jogar.

Flint mexeu a cabeça em direção a porta, indicando que era para eles saírem. Ao perceber que não haviam mexido nenhum músculo nessa direção, tentou ser mais direto no que queria:

— Vamos? — falou.

— Acho melhor a gente esperar a Mare — Higgs comentou, coçando a cabeça e desviando o olhar.

O clima pesou. Se os garotos não ficassem se encarando, levantando as sobrancelhas, fazendo apontamentos com a cabeça e tendo praticamente uma grande conversa apenas por sinais e simbologias, talvez Flint não percebesse que havia algo diferente.

— Por que? — questionou, um pouco mais irritado.

Houve um silêncio no local. Pucey forçou sua garganta um pouco como se estivesse tirando catarro dela, mas não respondeu — nem ao menos fez contato visual com ele.

— Talvez vocês precisem falar com o Snape — Miles tentou contornar a situação, não percebendo que estava cavando o próprio túmulo da equipe.

Instantaneamente recebeu vários olhares de morte, seja desejando isso para o pobre garoto que apenas não havia pensado direito antes de falar ou percebendo que estariam todos mortos antes do entardecer. Toda essa junção de acontecimentos fez com que Marcus percebesse o que realmente estava acontecendo ali: tinha sido trocado.

Quando Maureen apareceu, não se sabia exatamente o que ele iria fazer. Gritar? Partir para a agressão? Bole deu um passo para o lado para ficar próximo a garota e poder intervir caso fosse necessário; Flint podia ser musculoso e bombado, mas Bole era alto e igualmente forte.

— Eu não vou te dar minha posição como capitão — disse aos berros. Provavelmente toda Hogwarts havia escutado suas palavras. 

— Flint, por favor... — tentou acalmá-lo.

— Não vem com essa de "Flint, por favor" não! — continuou gritando, mas dessa vez fazendo uma voz mais fina para representar o que ela havia dito.

— Vamos conversar com calma — fez sua segunda tentativa de acalmá-lo, entretanto muito mais falha que a anterior.

Nesse momento, a única coisa audível no vestiário era uma gritaria infernal onde ninguém conseguia entender o que o outro estava falando. Era algo que não chegaria a lugar algum, mas nenhum dos dois era capaz de ficar quieto ou abaixar o tom de voz; aquilo havia se transformado quase numa competição.

— Foi você que decidiu nocautear o goleiro deles, quebrou as costelas e ficou dois meses sem treinar! Eu assumi tudo! Fizemos algumas mudanças e — dessa vez foi ela quem gritou, controlando a situação.

— Vocês concordam com isso? — Flint continuou com um tom alto, mas dessa vez virando para o resto do time que via a situação, boquiabertos.

Permaneceram em silêncio. Olharam para o chão, para as paredes, para Maureen, para qualquer lugar que os impedisse de fazer contato visual com Flint. Essa era a resposta. Se mantinham firmes ao treino que haviam feito nos últimos meses e reconheciam Mare como a capitã oficial, mas doía ter que falar isso diretamente ao outro.

𝐓𝐇𝐄 𝐐𝐔𝐈𝐃𝐃𝐈𝐓𝐂𝐇 𝐂𝐇𝐑𝐎𝐍𝐈𝐂𝐋𝐄𝐒 ↬ 𝒐𝒍𝒊𝒗𝒆𝒓 𝒘𝒐𝒐𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora