CAPÍTULO 19

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Harry pulou a janela de seu quarto, Noah franziu o nariz com o cheiro de sexo no corpo dele, mas como seria esperado, Harry se sentou na cama, puxou um cooler de debaixo desta, se encostou contra a cabeceira e comeu o frango frito.
"Você não se incomoda com o cheiro na sua pele?" Noah perguntou folheando os desenhos de Harry sem levantar os olhos para ele.
"Um celibatário virgem como você não entenderia." Harry disse com a boca cheia.
"É sério? Tripudiando de mim por fazer sexo e eu não? Quando eu não faço por escolha?" Noah disse firmando seus olhos nos de Harry, seu irmãozinho sorriu.
"Eu sei o porquê de você ser celibatário. E isso me dá sim o direito de tripudiar. Você é um idiota."
Harry disse, Noah não tinha resposta para aquilo, então continuou procurando.
"Já está dando na cara." Harry disse acenando para seu celular que estava carregando na mesa. Noah pegou o aparelho e jogou em Harry com força, Harry desviou rindo. Assim que o desgraçado pegou o celular, o aparelho tocou.
"Oi, Laylah. Não eu não posso. Ok. Até mais." Ele disse e desligou.
"Laylah, hã?" Noah zombou, Harry suspirou.
Ele se levantou, foi até seu guarda roupa, abriu uma gaveta com a chave e jogou os papéis em Noah. Graças a Deus! Noah já estava farto por esperar que esse momento acontecesse.
"Você poderia ter dito que eu ia te dar. Por que continua preso aos detalhes?" Harry disse voltando a se sentar na cama e a comer o frango. Devia haver quilos de frango frito naquele cooler. Harry comia aquilo frio, Noah franziu o nariz.
"Por que são importantes. Veja a merda que Gift fez no Alasca. Pessoas morreram, Harrison." Noah disse.
"Eu eu perderia minha virgindade com Ann Sophie se eu tivesse esperado."
Noah o olhou com os olhos apertados se recusando a acreditar que Harrison tinha dito aquilo.
Harrison o encarou, seus olhos estavam frios, Noah se levantou e cruzou os braços.
"Retire o que disse." Noah exigiu.
"Eu retiro se você estiver sendo sincero. Se as circunstâncias que levam à vida e à morte das pessoas não são mais importantes para você que a vida e a morte em si." Harrison disse, Noah baixou os braços e acabou por se sentar de novo.
"Não é isso. Eu..."
"O tempo de ser melhor, de se importar, passou, Noah. Se você ainda não entendeu que nunca será como Adam, fique longe do que virá. Será mais efetivo não se meter do que tentar e não conseguir." Harrison disse e voltou sua concentração para a comida.
Noah folheou os desenhos, os importantes, com uma certa dificuldade em focar seu cérebro no que estava vendo.
Harrison nunca fugiu de seu dom, ele era o melhor deles por que simplesmente não fazia julgamento de valor do que via e por se distanciar das visões. Ele não se preocupava com as visões ou com seu significado, Harry apenas via.
"Eu me importo se alguém morrer, Harry. Eu posso não sofrer, mas eu me importo."
"Então, desista." Harry disse ligando a tv."
Noah perdeu a paciência e rosnou.
"E você, irmão? Você se importa?" Ele perguntou, sua voz estava cheia de raiva pela calma de Harry. Quando foi que seu irmãozinho doce se transformou naquilo? Ou ele sempre foi assim e ele, Noah, não quis ver?
"Não estamos discutindo meus sentimentos, Noah, estamos discutindo os seus. E eu não sou seu irmão." Ele disse com voz fria e os olhos queimando.
Noah entendia o que Harry estava querendo ao dizer que não era irmão dele, ele entendia, ele sabia o certo a se dizer em seguida, mas as palavras não saíram.
Harry assentiu e foi tomar banho, Noah pegou o frango frito frio e comeu alguns pedaços, depois do desconforto pela carne estar fria, ficava gostoso. Na verdade, o frango frito frio estava mais saboroso, o sabor do tempero ficava mais acentuado. Noah comeu todo o resto do frango no cooler, Harry saiu nu do chuveiro, olhou com pena para o cooler e foi se vestir.
"Sabe quanto tempo demora para ficar com esse sabor?" Ele disse vestido uma calça jeans bem larga.
"Você devia ser gordo com o tanto que come, sabia?" Noah disse. A conversa séria e importante estava encerrada, Harry sorriu seu sorriso doce, o sorriso de irmão mais novo.
"Eu não poderia ficar gordo com os meus genes, mas eu acho que sou mais fofinho que Peace."
"Eu ouvi isso." Peace disse entrando no quarto. Ele viu os desenhos, os importantes e os pegou e correu. Harry pegou um pente e foi pentear os cabelos, Noah acabou tomando o pente dele, pois o cabelo negro e liso estava cheio de nós.
"Ai!" Harry disse quando Noah arrancou uma boa mecha de cabelos com o pente.
"Quando foi a última vez que penteou os cabelos?" Noah continuou penteando até que os fios estavam lisos e brilhantes. Harry usava os cabelos passando um pouco dos ombros e eram cabelos bem lisos, prova de que ele tinha puxado aos cabelos de Mariah. Os cabelos de Vengeance eram lisos ondulados.
"Vem." Harrison sorriu e eles desceram as escadas.
Toda a família deles estava tentando decifrar os desenhos, mas não eram desenhos para quem não tivesse algum tipo de dom. Dezesseis mesmo só sorria das hipóteses que todos levantavam. Grace nem se aproximou, ela estava grávida de novo e dessa vez foi algo totalmente inesperado.
Outra filhotinha, essa totalmente idêntica a Grace, Noah sentiu o que sempre sentia quando a via. Doentinha. Não viveria muito. Toda a família sabia, todos estavam tristes e felizes, prontos a viverem cada segundo da vida de Breath até que ela se fosse.
"Esse tem de ser você, Peace. Olha a cara de idiota." Beauty disse, todo mundo riu.
"Esse sou eu, não sou, irmãozinho vidente? Sou grande e forte. E os olhos são misturados." Quinze disse, Rebecca pegou o desenho e o examinou em várias posições.
"Não. Não é. É o clone do mal." Ela disse e Peter tomou o desenho dela.
Peter torceu a boca e devolveu o desenho com um sorriso para Rebecca.
"Não. Não é o clone do mal, é Quinze mesmo. Veja os olhos."
Não era Quinze e Peter sabia que não era, mas inteligente como era, o irmão mais velho de Noah não olhou para ninguém.
"Por que acha que não sou eu, meu docinho de mel? Eu sou o mais forte da família. Olha só o irmão clone, ele é tão pequeno!" Quinze disse apontando para Noah, todo mundo riu.
"Grande maldade. Desenho ruim. Você é doce, é bom." Rebecca disse, Quinze lhe tomou a boca e logo pulava a janela e corria para longe com ela.
"Que pena que ela não engravida mais. Brass está todo ouriçado com esse negócio do sequestrador ser parecido com Brave. Ele acha que pode chegar no meu número de netos!" O pai de Noah disse, ninguém disse nada.
"É sério? Acham que o tal macho pode ser filhote dele? Como Quinze era meu? E que ele e Ann vão acasalar?" Vengeance perguntou olhando para Noah, Noah olhou para Harry.
"Eu só espero que Ann esteja bem. Cadê esse monte de grupos que inventaram? Cadê o seu grupo, Ven?" A mãe dele, ou melhor, Marianne disse e deu um beliscão no pai de Noah.
"Brass está de olho em tudo. Nós somos a retaguarda, querida. Só agimos quando os outros não podem. Simple está nisso e eu confio nele."
"Eu também! Eu confio em Simple, mas eu não consigo mais nem pensar no que Kit está passando! Eu estou a triz de criar um grupo também!"
Essa fala de Marianne inflamou a sala e logo o assunto era o nome e as participantes.
"Mamãe, Tia Sophia e Tia Tammy!" Beauty disse.
"Ah, tá! Só Tia Sophia pode ter algum poder e ainda teria de ser picada. Mamãe iria fazer o quê? Corrigir o modo de falar dos bandidos? E a Tia Tammy? Iria colocar os bandidos de castigo?" Peace disse e todo mundo riu, até Noah.
"Mamãe, Livie e Harmony. Mamãe seria a líder, Livie seria a superpoderosa e Harmony seria a força." Arnold sugeriu.
"É, eu até compraria um grupo desses, desde que Livie parasse de ter filhotes e Gift deixasse Harmony sair da Reserva sem ele." Dezessete deu sua contribuição.
Harry sorriu levemente, Noah suspirou. Harmony logo estaria grávida de novo, mas sim seria um bom grupo. Marianne era uma líder nata e ela era capaz de tomar decisões difíceis. Livie era o que havia de mais poderoso entre os telepatas e Harmony realmente era uma guerreira. Forte, corajosa e altruísta. Noah tentou ver se essa fala de Dezessete estava de alguma forma ligada às teias do destino, mas não conseguiu.
Humanos diziam que palavras tinham poder, mas não tinha sequer idéia do que isto significava na construção do destino de cada um. O destino era formado por escolhas, mas o cérebro das pessoas não fazia escolhas aleatórias, isso não existia. As escolhas estavam arraigadas nas experiências que cada um apreendida seja de si próprio ou dos outros em seu meio, ou até mesmo de contatos únicos com outras pessoas que muitas vezes nem estavam próximas.
Cérebros eram esponjas de conhecimentos, seja conhecimentos úteis ou inúteis. Esse conhecimentos ficavam arquivados e eram exaustivamente estudados na hora das escolhas. Nenhuma escolha vinha de um impulso, por mais que parecesse. E conhecimento também era herdado. Daí se tinha uma rede de conhecimentos herdados, aprendidos, observados, vividos e tudo se revolvia numa parte do cérebro quando alguém olhava para um simples cardápio para escolher um suco que fosse.
E isso fazia com que palavras jogadas ao vento fossem tão importantes. Eram idéias e idéias levavam a planos, planos levavam à ação e ações mudavam destinos.
Noah acabou saindo de casa, o peso de ser quem era estava cada vez maior. Ele andou até ficar rodeado por árvores, ele sabia onde estava, mas era como se estivesse perdido. Perdido e sozinho.
"Minha casa sempre esteve aberta a você e você sabe disso." Adam disse se encostando numa árvore e cruzando os braços.
"Eu acho até que o barulho de sexo lá seria menor. Não que eu e Chimes não sejamos enérgicos, mas Chimes tem seu posto no hospital, coisa que mamãe e papai não têm." Ele completou sorrindo. Noah se sentou no chão encostando as costas numa árvore, Adam fez o mesmo a frente dele.
"Chegou a hora." Noah disse, Adam suspirou. Os cabelos dele ainda não estavam tão compridos quanto os de Noah e isso os deixava tão diferentes! Noah sempre precisou do conforto de ser idêntico a Adam assim como Adam buscou durante muito tempo ser mal, ser mais parecido com Noah. Noah só tinha de se vestir como Adam, Adam nunca conseguiu sequer fazer alguma maldade real. Nem quando matou aqueles humanos. Nem assim, Adam conseguiu ter maldade em seu coração. Ele sofreu. Sofreria por cada coisa ruim que fez, cada uma. E ainda sofria.
"Você viu?" Adam perguntou, Noah assentiu.
"É uma escolha. Ou eu ou nosso povo. Ou eu continuo como estou para sempre, ou encontro meu destino e nosso povo encontra seu fim."
Não era o fim da existência, era o fim de quem eles eram. Puros, incorruptíveis. Isso estava para acabar. Hipocrisia, Indiferença, Apatia, Inveja, Cobiça, tudo isso batia à porta da comunidade deles e Noah sentia que se fizesse o que ele viu que faria, a barreira se tornaria mais fraca.
"Escolha você, nosso povo pode lutar, pode permanecer unido. E se o que somos mudar, nos adaptaremos. Escolha você e isso é uma ordem de irmão mais velho. Não ouse me desobedecer."
"Eu nunca te obedeci" Noah disse e sorriu, Adam se levantou e o puxou. Adam colocou sua testa na de Noah e fechou os olhos. Noah ficou imóvel. Sentimentos nunca ajudavam em nada. Ele nunca foi refém dos sentimentos e não podia ceder agora.
"Nosso povo não pode acabar. Se o futuro trouxer dor e dificuldades, somos fortes para aguentar, eu tenho fé de que continuaremos fortes, de que nunca deixaremos o mal entrar, não importa o que tivermos de fazer."
"Acha que Pequeno Collin consegue? E essa não é a questão, ele não tem que aguentar nada, não tem de lutar contra a maldade dentro desses muros! Ele tem de ser feliz como nós dois não fomos. Esse lugar não pode mudar, não no turno dele!" Noah disse se afastando.
Os olhos de Vengeance o atingiram e sim, Noah balançou. Ele amava Adam como a si mesmo, mas seu amor por Vengeance era inexplicável. Era imenso e ele não entendia como algo assim podia habitar o coração dele, algo daquele tamanho e que tivesse aquele poder.
"Ele é responsável por sua própria felicidade e existência. Se eu tirar isso dele estarei mutilando-o, transformando em um macho sem valor, um macho protegido, fraco. Pequeno Collin é forte e será cada vez mais através das dificuldades que aparecerem em sua vida. Pergunte a ele se quer ser poupado de qualquer coisa graças a seu sacrifício e ele vai me encher de orgulho quando chutar a sua bunda." Era Vengeance ali. Olhos, voz, postura, alma.
Ver o quanto Adam era Vengeance estremecia o coração de Noah. Por que ele não era? Que tipo de loteria do inferno era essa para que quando os dois se separaram naquele ventre de aluguel a essência de Vengeance foi toda para Adam, e Noah não tinha recebido nada? Teria sido só sorte?
"Olha só, o mal nunca descansa, irmão. Escolha viver, escolha ser feliz, escolha sair dessa casca em que você se meteu. Faça isso ou vou contar para o papai. E não quero mais falar disso. Vamos temos de ir para o hospital, todo mundo já está lá a um tempo, papai..." Noah arregalou os olhos com a visão que teve e não ouviu o que Adam estava falando.
Morgana! E a filhotinha de Honest! Honest, o amado Honest! Seu melhor amigo depois de Cam. Ele tinha de correr.

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