CAPÍTULO 21

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A noite tinha chegado e Paulo se sentia ansioso. Algo o incomodava, algo que ele não sabia o que era, mas que estava lá e ele não conseguia ignorar.
"Paul?" Anna disse da água, ele se aproximou das ondas mas parou, ele queria vê-la nua com as ondas arrebentando em suas costas. Cada onda que se chocava contra ela produzia um efeito etéreo e ela realmente parecia um anjo. E era exatamente isso, Anna, seu amor por ela o fazia querer desistir, deixar o destino ditar os acontecimentos. Mas ele sabia que não podia confiar no destino apenas e era isso que lhe oprimia o peito.
"Vem!" Ela abriu os braços e Paul salivou por morder os seios que estavam aumentando, mas ele continuou parado.
"Paul!" Ela disse o nome dele chiando, foi tão adorável que Paulo foi até ela na água, a abraçou no justo momento em que uma onda bem forte os atingiu e os dois caíram. Eles se levantaram rindo, Paulo a beijou, outra onda os derrubou. Paul a pegou nos braços, saiu da água e a deitou na manta que tinham trazido, ao lado dos tecidos que eles usavam amarrados no corpo.
"Eu queria na água. Está tão quente!"
"Eu te quero em qualquer lugar, em todos os momentos, Anna." Paulo disse, ela afastou o rosto dele, eles ficaram com os olhos nos olhos.
"Fala meu nome de novo?" Ela pediu.
"Ann Sophie. Mas eu..."
"Não! Me chama de Annia." Ela disse e Paulo riu.
"Annia? Quem é essa?"
"Anná" Ela tentou mais uma vez.
"Anna. Minha Anna, a dona do meu coração e da minha vida, razão do meu inspirar e expirar" Ele disse em português, Anna o empurrou e se sentou.
"O que você disse?" Ela perguntou, Paulo suspirou.
"Eu disse que eu te amo." Ele a deitou de costas de novo, mas ela era tão teimosa!
"Eu sei como se diz 'eu te amo', e não é assim." Ele sorriu.
"Sabe mesmo? Tem certeza?"
"Iu ti eimu." Ela disse, Paulo riu, ela lhe bateu nas costas.
"Ai!"
Anna o arranhou com força e aquilo enviou uma onda de excitação diretamente para o membro dele, Paulo lhe abriu as pernas e entrou nela.
"Fala de novo."
Anna disse 'eu te amo' daquele jeitinho lindo, Paulo continuou se movendo. Eles cravaram os olhos de um no outro e a cada vez que ele entrava e saía, Anna dizia que o amava. Paulo foi prolongando, foi se movendo devagar, mudando o ângulo de seu corpo, chupando os seios dela, ela travou os dentes com o prazer despertado e continuou dizendo 'eu te amo', ela praticamente rosnava as palavras até que o clímax os tomou. Anna lhe mordeu o ombro, cravou as presas na pele dele e a dor fez tudo ficar mais intenso.
Ele rolou o corpo e se deitou na areia ao lado dela, o som das respirações desabaladas deles era a única coisa que se ouvia.
Ele fechou os olhos, a boca de Anna tomou a dele, Paulo não se mexeu, ela lhe mordeu o lábio inferior, ele a ajeitou sobre ele e durante muito tempo eles se amaram, só parando quando o sol nascia.
"Olha!" Paulo apontou para o horizonte, mas Anna estava sonolenta, ela custou a abrir os olhos.
"É tão bonito!" Ela sussurrou e voltou a apoiar o rosto no peito dele.
"Eu amo você, Ann Sophie. Amo com tudo o que tenho. Nunca se esqueça disso." Paulo disse e cochilou um pouco até ouvir Silas se aproximando.
Ele amarrou o tecido por baixo dos braços de Anna e a ajeitou sobre a manta que tinham trazido, não demorou Silas saltava o precipício, caía no mar e nadava até a praia.
"Pai..." Ele disse assim que saiu da água, Paulo amarrou seu próprio tecido em sua cintura e se ajoelhou a frente dele.
"Chiiiii. Já discutimos tudo o que havíamos de discutir, Silas. Eu rogo que você nunca tenha de fazer uma escolha semelhante a que eu estou fazendo, mas se algum dia você se visse numa situação semelhante você iria entender."
Silas ajeitou o tecido na cintura, que devia ter quase se soltado quando ele saltou. Suas mãos tremiam, ele estava se segurando para não chorar, então Paulo o encarou e lhe deixou ver que ele já chorava.
"Eu entendo, pai. Eu tenho passado todo esse tempo pensando em outra forma, mas não consigo. É só que..." A voz dele falhou e eles se abraçaram. Paulo chorou com seu filho até que eles se sentiram aliviados, até que a determinação por vencer aquele problema se tornasse maior que a dor da separação.
"Você vai estar do lado de lá, filho. Eu confio que você vai me encontrar. E isso será meu alento, minha força em meio a saudade." Paulo sorriu, Silas também sorriu.
"Vou. Eu te prometo."
Paulo lhe beijou a testa, se abaixou, beijou o rosto adormecido de Anna e começou a andar por um caminho qualquer. Não importava a trilha já que todas tinham um ponto que quando atingido o faria voltar para a praia.
Paulo andava devagar, olhando para a trilha sem tentar se orientar, ele tinha aprendido que quanto mais atenção se tinha ao caminho, às árvores e vegetações, mais confuso se ficava.
Até que o zumbido característico chegou aos ouvidos dele e ele parou. Paulo respirou profundamente e deu um passo, depois outro e mais outro até que o zumbido ficou mais alto. Aí sim ele se sentou e cruzou as pernas e braços.
Ficar parado naquelas trilhas era quase impossível. Além de bagunçar o sentido de direção e fazer qualquer um voltar a praia, havia algo que impelia quem estivesse nas trilhas a correr ou andar, mas ficar parado não. E era justamente essa a forma de lutar contra a força que havia naquele lugar. Paulo aprendeu isso muito cedo, mas como ficar sentado, parado, não tinha objetivo nenhum, ele fez isso por algumas vezes, mas desistiu de fazer. E havia outro problema, quando se ficava parado no fim de qualquer trilha, resistindo ao impulso de correr ou andar, ou mesmo se mexer, começava-se a sentir dor no corpo. Uma dor excruciante.
Paulo esperou e demorou, mas a dor veio. Ele cerrou os dentes e fechou os olhos com força, era muito forte.
Paulo ficou horas naquele tormento, mas ele não se mexeu, era a sobrevivência de sua família que estava em jogo e ele tinha se preparado. Em algum momento seu corpo iria se adaptar à dor e mesmo que ainda doesse muito, ele conseguiria conter o ímpeto de fugir da dor.
E assim foi. A noite já tinha chegado e ele ouviu os gritos de Anna o chamando, mas enquanto ele estivesse ali, mesmo que ela conseguisse seguí-lo, ela voltaria a praia sem vê-lo. O fato de estar no limiar do caminho, no fim da trilha, o escondia de quem se aproximasse, era como se ele estivesse dentro de uma bolha.
O dia seguinte veio e se foi, Paulo sentia tanta dor que agora ele não conseguiria sair dali com as próprias pernas. E era exatamente isso o que ele queria.
Veio a noite e na manhã seguinte, Paulo sentiu uma presença e abriu os olhos. Moisés. Ou Moses, como era seu nome realmente. Moisés era a tradução do nome dele, Paulo o chamava assim por que quando o conheceu, Paulo ainda não sabia falar inglês.
Ele encostou a testa num vidro, Paulo se levantou com dificuldade e foi até ele. Havia um grosso vidro os separando.
"Volte para casa, Paulo. Aproveite sua mulher e filhos. Ninguém irá incomodar vocês."
Paulo fez que não com a cabeça.
"Não vão levar minha filha embora? Ou todos os outros que eu e Anna tivermos?"
"Não todos. 'Se alegrar com o que for bom e resistir ao que for mau'. Lembra?" Ele disse o lema que os dois juraram usar por toda a vida.
"Não. Isso ficou para trás. Eu tenho uma família agora e tenho a obrigação de protegê-los."
Moisés assentiu. Ele estava tão alto, quase do tamanho de Paulo. Muito forte também, embora Paulo sabia que poderia matá-lo facilmente. Não com veneno, claro, isso não, uma vez que Paulo o tinha mordido e lhe feito ser imune ao veneno dele.
"Ok. O que pretende?"
"Matar o que você veio correndo proteger, a menos que mande um barco para a praia e Anna, Timóteo e Silas possam ir nele até um ponto onde possam chamar o povo dela."
"E você não iria?" Moisés perguntou, os olhos dele, um azul esquisito, brilhante e frio, estavam curiosos.
"Não. Se eu ficar não há como você me enganar. Se formos todos, você pode me trair e nos matar. Mas se eu ficar, você terá de manter distância da minha família ou quem você veio correndo proteger morre."
Ele ergueu as sobrancelhas. Seus olhos ficaram mais claros, mais frios.
"É. Tem razão. Mas se a matar você morre."
"Tudo bem pra mim." Paulo deu de ombros e ele riu. Moisés acabou rindo com ele.
Uns corações com batimentos diferenciados chegaram aos ouvidos de Paulo e ele parou de rir.
"Seus homens. Ao leste. Eu sei que você não se importa, mas eu estou disposto a tudo." Ele disse.
Foi a vez de Moisés dar de ombros e sorrir.
"Eu nunca acreditei que você tivesse coragem, Paulo. E continuo sem acreditar." Ele o desafiou.
Paulo travou o maxilar, mas ele sabia que tinha de fazer. Ele tinha de matar, ele tinha de mostrar que estava falando sério. Alguns corações batiam diferente, alguns...
"Há crianças lá. Crianças inocentes." Paulo disse.
"Sim. Eu mandei que eles fizessem uma festa e levassem suas famílias. Há bebês e idosos." Ele sorriu.
Um sorriso totalmente diferente dos sorrisos dele que Paulo conhecia. Havia o sorriso de lado, travesso, o sorriso rígido, que era o determinado, o sorriso aberto e encantador que ilustrava a alegria em seu coração. Havia também o sorriso fechado, com os lábios apertados, que mostrava que ele estava triste. Mas aquele sorriso era mau. Paulo piscou ante a mensagem nos olhos de seu amigo.
"Vá em frente. É a sua família." Ele disse.
Paulo começou a exalar seu veneno, o vidro não era uma cúpula, era apenas um muro. Não foi difícil fazer seu veneno saltá-lo, não foi mesmo. Logo todo o ar estava saturado de veneno, os olhos de Moisés ficaram vermelhos e ele cambaleou, mas ele sabia que não morreria naquele dia, nem morreria envenenado.
Leste. Um chamariz, isso era o que Moisés planejou. Mas ele não sabia até onde o controle de Paulo ia, nem estaria ali se quem prendia Paulo ali, alguém com a mesma habilidade do tal de Marble ou ainda da mulher chamada Amália, não estivesse em risco. Moisés se sentou no chão, ele era imune, mas isso não o impedia de sofrer com a exposição ao veneno, veneno era veneno e no ar era pior que uma mordida ou arranhão. Entrava pelo nariz e ia para o pulmão. Daí todo o corpo entrava em agonia até que o coração parasse.
No caso de Moisés, ser imune fazia com que seu coração não parasse, que seu sangue eliminasse o veneno como eliminava gás carbônico, através das expirações. Dolorosas expirações.
Paulo forçou seu veneno a ir para o oeste. Não era difícil, o veneno vinha dele e continuava conectado a ele. Era como uma onda invisível que Paulo enviava para onde quisesse. É claro que o ar podia espalhar pequenas quantidades em outras direções e isso mataria pessoas inocentes, mas a filhinha dele também era inocente, Timóteo e Silas também. Paulo sofreria com cada morte acidental, mas ele não tinha escolha.
"Eu sinto o coração dela, Moisés. Ao oeste." Paulo disse, Moisés se levantou com dificuldade, se apoiando no vidro, suas feições estavam torcidas.
"Pare." Ele disse, Paulo retraiu sua onda de veneno, o ar foi ficando limpo. Algumas pessoas tinham morrido, Paulo lamentava, mas ele choraria depois.
"Eu a tenho agora. Se quiser que ela viva, salve minha família." Paulo disse.
O coração da mulher acelerou, Moisés o encarou.
"Se ela morrer, vocês morrem."
"Você não viu?" Paulo perguntou, Moisés baixou os olhos.
"Eu a vi em agonia. A imagem que eu vejo às vezes carece de contexto. Uma amiga minha morreu por que eu me vi tomando o suco que só ela sabia fazer, então quando chegou o momento dela morrer, eu achei que iria evitar, mas não foi assim."
"Eu não vejo o futuro, mas eu conheço meu veneno. Ela precisa de algo que só eu posso dar. Salve minha família, Moisés, deixe-os ir."
"Sim. Eu farei."
Paulo ergueu a mão e fez gotas de veneno pingarem, Moisés tirou um frasco do bolso e jogou para ele por cima do vidro. Paulo colocou suas presas na borda do vidrinho, se concentrou e expulsou o veneno dentro do frasco. Depois ele rasgou a pele de sua mão com uma garra e pingou gotas de seu sangue dentro do frasco até a mistura de sangue e veneno ficasse esverdeada.
"Pronto. E o barco?"
Moisés piscou, mostrando que estava se sentindo melhor, pegou algum tipo de aparelho, encostou na lateral do rosto e começou a dar ordens.
Ele afastou o objeto, devia ser um aparelho de comunicação, um telefone móvel, e sorriu.
"Você sabe que nunca vai sair daí não é? Eu não vejo você sendo resgatado."
"Você não viu meu plano. Você nem mesmo sabia o que fez a mulher que me prende aqui entrar em agonia, não é? Você me explicou como suas visões funcionavam, lembra?" Paulo retrucou.
"Transformar você num procriador foi uma forma de te proteger. Não foi fácil convencer meu pai a te deixar aqui."
Paulo assentiu. Moisés o amava, mesmo que agora, depois conhecer o amor de pai e de companheiro, Paulo entendesse que Moisés não sabia o que era amar de verdade, que ele conhecia o amor de uma forma distorcida. Moisés o amava, acreditava que ele e Paulo eram amigos, mas isso não era verdade. Um amigo verdadeiro não fazia o que ele fez, um amigo verdadeiro não permitiria que Paulo sofresse tudo o que sofreu. Os episódios de loucura que o fizeram violentar mulheres inocentes e pior, o fruto dessas violações, outros inocentes foram vendidos. Podiam estar sendo abusados, sendo feridos e humilhados. Um amigo não infligiria tal sofrimento ao outro.
Moisés se sentou, seu rosto estava cheio de manchas vermelhas, seu corpo também devia estar manchado por baixo das roupas. Ele jogou os cabelos para trás, estavam curtos, na altura dos ombros, Paulo achou estranho.
"O barco já foi enviado. Eu preciso de cuidados. Adeus, meu amigo."
Paulo acenou, Moisés saiu andando com passos vacilantes, ele não podia descuidar do coração da mulher. Ela devia estar sentido muita dor, mas ela tinha inspirado pouco veneno, era só tomar o antídoto e iria sobreviver.
Paulo tinha uma vantagem agora, ele sabia a direção em que a mulher estava, pelo menos por enquanto. Paulo se sentou e tapou os ouvidos, Anna o chamava.
O barulho do barco foi ouvido algumas horas depois, Anna não quis ir, mesmo que a voz que a chamou fosse doce. Simple. Ele tinha aparecido então.
Paulo pensou se não era a hora de correr e ir junto, mas ele sabia que Moisés não teria misericórdia se ele entrasse naquele barco. Bastava uma daquelas aeronaves pequenas com hélices e era só atirar em todos no barco com as balas que comiam a carne.
"Oi." Paulo se virou e um homem estranho sorriu para ele. Ele era alto quase do tamanho de Paulo e também muito forte.
"O que acontece com os filhotes perdidos que eles ficam tão grandes?" Ele perguntou com um sorriso, Paulo não entendeu.
"Eu não sei."
"É. Você não sabe. Você não me esperou. Não acreditou que eu vinha e fez um acordo, não é?"
"Eu não tenho por que acreditar em você, não te conheço." Paulo disse.
"Mas Ann confia em mim. Ela confiou, ela te falou sobre mim." Ele retrucou.
"Sim."
Ele andou até onde Paulo estava bem próximo do vidro e não pareceu sentir dor ou desconforto.
"A atmosfera pesada e dolorosa daqui não te atinge?" Paulo perguntou ele fez que não balançando a cabeça, de uma forma banal como se não fosse nada.
"Mente fechada." Ele bateu na lateral da cabeça.
"Moses não é fácil de vencer, ele acabou levando a melhor dessa vez e isso me deixa puto, sabia?"
Paulo deu de ombros, ele não se importava se aquele homem metido ficava puto ou não.
O homem, Simple, riu e Paulo o encarou. Os olhos dele eram estranhos, eram dourados, brilhavam como ouro no sol.
"Você deu de ombros igualzinho ao seu irmão mais velho, aquele idiota."
"Está tentando me fazer quebrar minha palavra? Falando em minha família? Num irmão que eu não conheço? Minha família está naquela praia e a menos que você não queira que sejam mortos até que seu povo chegue e os resgate, eu tenho de ficar aqui. E estou bem com isso."
"Seu pai vai mover céus e terras para te achar. E ele vai, eu acredito nele."
Paulo baixou a cabeça. Como aquele homem podia estar falando do pai dele? De um irmão dele? Não havia como saber, ele estava apenas querendo a simpatia de Paulo, só isso.
Simple tirou um objeto do bolso, um bem parecido com o que Moisés usou e o colocou ao lado do rosto.
"Você tem Paul, libere Brave." Ele disse.
Brave? O Brave de quem Anna falava?
Paulo inspirou e sim, na praia havia um cheiro parecido com o dele. Ele queria muito sair dali, mas ele estava no lugar exato para se esconder. Se saísse daquela bolha, que não atingia o tal Simple e provavelmente só não atingia a ele, se saísse dali, ele não teria forças para deixar Anna e seus filhos irem embora sem ir junto.
"Você trapaceou. Me deu a localização só depois de ter feito o acordo com Paul. Você não precisa de Brave." Simple disse, o rosto dele estava totalmente fechado, seus olhos estavam duros, Paulo nunca sentiu medo de outro homem, mas a voz, os olhos e a postura de Simple o fizeram ficar em alerta.
"Se me fizer deixar meu amigo com você depois de trapacear, vai ter de fugir para sempre, Moses."
Paulo procurou sentir Moisés, ele estava longe já. Ficar naquele lugar exato tirava a noção de tempo, provavelmente já se teriam passado muitas horas desde que ele e Moisés conversaram.
"Ok. A partir desse momento eu vou te caçar. Será divertido." Simple disse e jogou o aparelho no chão com força.
"Porra!" Ele rugiu.
Paulo quase deu um passo para trás, quase.
"Você entende que condenou você e seu irmão? Entende, idiota? Você pelo menos imagina o que vai ser para ele ficar longe dos pais de vocês?"
"Ele está aqui por sua causa, não por mim, você o trouxe." Paulo disse, o homem rugiu de novo. Anna apareceu correndo, mas não os viu e seguiu de volta para a praia. Ela gritava o nome dele, cada vez que ela gritava, algo dentro de Paulo se partia.
"Sai daí. Vamos todos embora, eu não vou perder para aquele filho da puta." Ele comandou com os olhos duros, custou muito para Paulo continuar firme.
"Não. Eles podem nos matar, podem atirar no barco. As balas deles..."
Ele engoliu em seco, se abaixou e pegou o tal telefone móvel.
"Que porra, John, onde vocês estão? Eu estou com seu irmão desaparecido, Ann e os filhotes dele, mas se você estiver longe, não vou poder levá-lo!" Ele disse.
"Porque vocês estão tão longe, porra? Faça esse helicóptero maldito..." Ele disse, mas parou de falar quando do outro lado do vidro apareceu um humano com algo no ombro. Parecia um foguete pequeno, o humano apertou um botão e uma explosão atingiu os ouvidos de Paulo. Seu corpo foi lançado longe e o calor o queimou.
"Paul!" Ele ouviu Ann gritar o nome dele, mas seus ouvidos sangravam, então a voz dela pareceu vir de muito longe.
Mãos estranhas pegaram Paulo e o colocaram sobre uma superfície estranha, parecia de metal.
"Traga o outro também, ou todos morrem." Paulo ouviu alguém dizer, ele estava fraco, seu estômago parecia estar em chamas.
Ele não soube precisar o tempo até que alguém se sentou ao lado dele em silêncio e a superfície onde ele estava começou a balançar.
"Você vai ficar bem, irmãozinho. Uns machucadinhos não são nada pra nós." Uma voz muito parecida com a dele disse, Paulo abriu os olhos e devia ser o tal Brave.
"E... Anna? E meus... Meus..."
"Está perguntando por Ann e seus filhotes? Foram embora. Não deu tempo de nossos irmãos chegarem. Eles usaram a mesma lancha em que Simple e eu viemos. Mas o Clone do mal deu sua palavra de que os deixaria partir."
"Simple... Simple me chamou de idiota. Disse que tinha..." Falar era terrivelmente doloroso.
"Tínhamos um plano e um acordo. Eu ia ficar no seu lugar, mas quando nos deram as coordenadas você não estava na praia e seu filhote mais velho contou que você tinha feito um acordo. E Simple chama todo mundo de idiota." Paulo sentiu que Brave sorria.
"Você... Você ia..."
"Sim, eu ia, por que não? Ann é como uma irmãzinha para mim. Quer dizer, Gift gostava dela, então eu nunca pude nem tirar uma casquinha, se é que você me entende. Mas sim, eu ia me sacrificar por vocês. Eu sou assim, sabe. Não sou só um rostinho lindo."
"Acha que... Que..." Brave o ajeitou contra uma parede de ferro, deviam estar num caminhão todo fechado, Paulo se ajeitou mesmo sentindo seu corpo queimar de dor.
"Que eles iriam libertar vocês? É claro que sim! Você foi mesmo idiota, mano. Embora o Clone do Mal seja um vidente e como meu pai diz, videntes são uma merda."
"Eu tinha de fazer alguma coisa."
"É. E ele sabia. Simple ficou muito puto quando chegou aqui e viu que você tinha feito um acordo. Ele puxou os cabelos e rugiu, foi engraçado."
"Engraçado?" Paulo sibilou e quase desmaiou de dor.
"Tá, desculpa. Não é engraçado, estamos indo pra algum lugar desconhecido e Ann vai sofrer muito longe de você."
"Mas ela vai... Ficar bem?" Paulo perguntou. Ele sentia que seu corpo estava começando a se curar.
"Vai. Vai sim. A mãe dela e a nossa vão cuidar dela. Nossa família é grande e todo mundo vai mimá-la. Menos Gift e Charity, aqueles dois são muito secos."
Paulo tentou sorrir. Se Ann, Timóteo e Silas ficassem bem, ele estaria bem, não importava onde estivesse, ou o que fizessem com ele.
"Deixa eu te perguntar uma coisa, você está vinculado? Por que se estiver, seu pau não vai subir e você não vai conseguir tocar em outra fêmea."
Paulo tinha fechado os olhos e conseguiu abrir só um e encarar Brave. Aquele idiota estava falando de sexo?
"Eu amo Anna. Só ela existe para mim."
"Ok. Eu me sacrifico por você." Ele disse.
"O que quer dizer?"
"O sexo. Você é um reprodutor não é? Eu fico no seu lugar, tá?"
"Você parece achar que é divertido. Eles usaram um odor que me fez violentar as humanas. Não é divertido." Paulo disse olhando para Brave com os dois olhos abertos. Era como se olhar num espelho com a diferença de que os olhos dele eram escuros.
"Eu vou fazer um acordo com eles, eles não precisam usar nada em mim, só trazerem as fêmeas."
"Você tem problemas mentais? Vai tocar em humanas inocentes que irão ser trazidas a força? E os bebês?" Ele queria muito estar melhor para poder dar uns murros naquele idiota. Paulo se recusava a acreditar que um homem daqueles fosse irmão dele.
"Geralmente as humanas que eles pegam foram pagas e muito bem pagas, não foram sequestradas. E eu lhes daria muito prazer, algo para sonharem pelo resto de suas vidas. E bebês! Acha que eu daria bebês a esses filhos da puta?"
"Você acha que poderia impedir que ficassem grávidas? De todos os outros só você quis vir?" Paulo perguntou. Ele lambeu o braço, sua saliva deu alívio às queimaduras e a pele começou a se regenerar.
"Eu sou ofídico, idiota! Theo Benson ensinou uma forma de usar o veneno para inviabilizar nossa semente. Eu só terei filhotes com minha fêmea vinculada daqui a uns oitenta ou noventa anos, depois de fazer uma boa parte das fêmeas do mundo felizes. E Nós somos três irmãos mais velhos, os outros dois não têm nem um ano ainda. John e Gift são acasalados, têm filhotes. E você devia agradecer aos céus por eu estar aqui, já que vou deixar que as fêmeas me usem e depois disso nenhuma delas vai querer você."
"Tá bom, cale a boca então." Ele fechou os olhos, a dor em seu corpo estava diminuindo, a de seu coração só estava começando.


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