CAPÍTULO 37

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Daisy acordou sentindo o corpo quente de Rom colado ao dela, ela inspirou e o cheiro delicioso dele lhe encheu as narinas. Era tão bom! Ele lhe alisou a barriga, Daisy sorriu, cobriu a mão forte, sua filhotinha chutou com força, tirando Daisy daquele sonho doce.
Não era Rom. Era o corpo, era o cheiro, era até mesmo a mão, mas não era ele.
Daisy o empurrou, ele caiu com um barulho no chão.
"Você toma todo o espaço da cama e ainda me joga no chão?" Moses disse voltando para a cama.
Daisy se encolheu no canto, ele se deitou de costas.
"Você dorme como um defunto." Ele disse olhando para o teto.
"E você deve sonhar que é uma motoserra, só pode."
"Você e Romulus nunca dormiram juntos?" Ele perguntou.
"Rom não ronca."
"Sério? E os clones?"
"Noah ronca. Cam contou que já passaram uma faixa no rosto dele e nem assim ele parou de roncar."
"Ele tinha visto, mas deixou para ver se teria algum resultado. Não houve."
"Isso é estranho demais, sabia? Você sabe tudo da vida deles." Ele não disse nada.
"É como se você não tivesse vida própria. Eu não gostaria de viver assim."
"Poder, Daisy. O poder tem seu preço."
Ele disse, Daisy bufou.
"Tio V nunca almejou o poder. Nem os clones ou Rom. Como você pode ser tão diferente?"
"Os clones apoiaram o plano de Andrew, esqueceu disso? E eu tenho um motivo oculto. Eu sei, eu vi que os Novas Espécies vão acabar um dia. Eu sou o único que luta contra isso."
"Sequestrando inocentes? Aterrorizando fêmeas? Vendendo filhotinhos? Corrompendo filhotinhas como está fazendo com Safira e Aruna?"
"Estou fazendo o necessário. Alguém tem de fazer."
"Se você diz." Daisy disse.
Ela não ia ficar discutindo os planos de dominação do mundo dele, ela tinha como prioridade sua filhotinha. Os trigêmeos estavam empenhados em pará-lo e nessa história ela acreditava na capacidade de seus irmãos.
Mas sim, alguém sempre tinha de lutar pelos outros. Daisy fez isso na força tarefa, ela dedicou sua vida a serviço dos mais frágeis, dos inocentes. A força tarefa nos dias de Daisy era basicamente um braço do exército humano, as missões que eles realizavam eram justamente as que o exército humano não tinha como realizar, iam onde os humanos não conseguiam alcançar.
Ainda que os objetivos dele eram sombrios, ele estava empenhado em algo que ele acreditava.
"Qual a importância de nossa filhotinha para você?" Daisy perguntou.
"Ela não é minha. Ser um clone implica nisso. Eu não sou filho, irmão, pai... Não sou nada, Daisy. Eu te disse que qualquer um dos outros três podem assumir a paternidade dela e falei sério." Ele disse e o tom de pesar na voz dele, mostrou a Daisy que ele falava a sério.
"Vai impedir dela ser vendida, não vai?"
"Talvez. Vá dormir, Daisy." Ele disse, os olhos dela se fecharam e Daisy perdeu a consciência.
O dia amanheceu lindo, Moses a chamou para um passeio, Daisy aceitou.
Ele a pegou nos braços, Daisy não esboçou reação. Como fazer alguém a quem ela tinha completo nojo e aversão se apaixonar?
Como passar pelo fato de que ele a tocou se passando por Rom?
Ele a colocou numa manta, Daisy agradeceu aos aprimorados que estavam arrumando tudo. Eles baixaram a cabeça, Moses rosnou, eles saíram correndo.
Ele encheu uma bandeja de carne, outra com frutas picadas e geladas, exatamente como ela gostava, e se sentou na manta. Daisy aceitou e começou a comer, ele a encarava.
"Dá pra olhar para outro lado?" Daisy reclamou, ele sorriu.
"Com vergonha de sua boca suja? Quer dizer, boca, queixo e bochechas sujas?" Ele disse. Daisy foi pegar o guardanapo, ele foi mais rápido e limpou o rosto dela.
"Honor gosta muito de fazer isso, não é?" Ele disse, Daisy arregalou os olhos. Como ele sabia disso?
"Você..."
"Seu futuro e seu passado são claros como água pra mim." Ele disse.
Daisy comeu todas as frutas que ele colocou na bandeja e ia se levantar para pegar mais, mas outra vez Moses se adiantou.
Ele foi até a mesa, picou as frutas sem tirar a casca como os aprimorados fizeram e trouxe para Daisy.
"Viu isso também? Que eu prefiro essas frutas com casca?" Daisy perguntou, ele deu de ombros.
Daisy comeu até se sentir cheia, ajeitou uma almofada e se deitou, Moses tirou um ombrelone de algum lugar e o abriu sobre ela, Daisy suspirou.
É claro que ele iria se deitar também, Daisy só se afastou.
"Tem nojo de mim?"
"Sim." Daisy disse e fechou os olhos.
"O que acontece se eu disser que gosto de você? Que te quero com loucura? Que até consegui uma das substâncias de Thea para te dar um beijo?"
Daisy o encarou, ele estava deitado de costas numa postura relaxada com as mãos atrás da cabeça. Ele olhava para o céu, não havia nenhuma expressão em seu rosto.
"Seus olhos não espelham suas palavras, não parece que você sequer me deseja."
Ele sorriu, o sorriso torto do Tio V, o sorriso que a encantava e a deixava furiosa ao mesmo tempo. Por que ele tinha de parecer tanto com Rom, ou Noah?
"Acho que esse é o meu charme." Ele disse e voltou a assumir a expressão vazia.
"Como funciona essa...?"
"A substância? Curioso que foi seu irmão que inventou." Ele disse.
"Simple? Como aquele peste te passou a fórmula? Fizeram algum acordo?"
"Por que pensou logo em Simple? O cientista maluco não é o Candid?" Ele perguntou e Daisy entendeu que ele estava mudando de assunto.
Nesse tempo em que estava lá, Daisy tinha aprendido algumas coisas sobre Moses e uma delas era que ele era um péssimo mentiroso. Aruna até comentou sobre isso, sobre o fato de que as visões dificultavam que Moses mentisse.
Fazia sentido, não que Noah ou Rom fossem mentirosos, eles não eram, mas Noah guardar suas visões para si era realmente um fardo. Em contrapartida, ao conviver com Moses, Daisy estava vendo o quanto as visões tiravam a particularidade de cada um deles. Rom lia mentes, Noah guardava suas visões para si e Adam tinha raros episódios de visões do passado. Aliado a isso havia o modo de vestir, os cabelos raspados de Rom, os super compridos de Noah e os amarrados na nuca de Adam, as expressões deles...
Já Moses, por mais que tivesse um visual diferente e uma expressão vazia quase onipresente em seus olhos, ainda assim ele parecia não ser um ente individual. Moses sorria como Noah, como Rom, como o Tio V e também como Adam, nas poucas vezes em que ele sorria. Seus olhos brilhavam igual, ele tinha todos os maneirismos deles, como ficar coçando a nuca, que era o que Rom fazia quando estava sem graça. Noah tinha um sorriso e um olhar simpático, mas seus olhos eram misteriosos, Moses às vezes tinha esse mesmo olhar.
"Posso ver? A tal substância?"
Moses tirou um frasquinho do bolso e entregou para ela.
"Como funciona?"
"Eu pingaria algumas gotas na minha boca e beijaria você. Você não teria nojo, aversão ou tentaria quebrar meus dentes."
"A coisa dos dentes foi bem específica, você viu?"
"Sim, Daisy. Eu vi. Você socou minha boca com tanta força que meu dente da frente se quebrou. Meu sorriso ficaria prejudicado."
Ele disse e Daisy riu, não conseguiu evitar.
"Eu adoro sua risada. Concordo com Honor de que parece que você nunca vai parar de gargalhar e isso é assustador, mas eu adoro sua risada." Moses disse com aquela cara fechada, sem sorrir, com expressão vazia. Daisy apertou os dentes e se levantou.
"Eu te levo."
"Não. Não me toque!" Ela disse espalmando as mãos a frente de seu corpo.
"Tudo bem, mas pense que se você continuar com essa postura, eu vou acabar te entregando ao meu pai. E aí será violada mesmo grávida e sua filhote irá para algum humano super rico que pode tratá-la com filha ou como pet. Ou ainda como escrava. Doméstica a princípio e quando ela crescer..."
A cabeça dele balançou como o badalo de um sino com o soco de Daisy. Ele a olhou surpreso com os olhos bem abertos e muito sangue escorreu da boca dele. Ele tocou a boca e sorriu, o espaço que seu dente da frente ocupava estava vazio.
"É. Tem coisas que não dá pra fugir. Isso não é ruim sabia?" Ele disse e deu as costas a Daisy. Ela tremia com as mãos fechadas em punho enquanto o observava se afastar. O cabelo tinha um corte muito bonito, a parte de trás era repicada, os fios brilhavam em seu colarinho. A roupa ajustada o fazia parecer elegante, mesmo que ele fosse uma montanha de músculos.
"Moses!" Daisy o chamou, ele se virou.
"Use essa porra de substância. Só assim eu poderei proteger minha filhotinha."
Era verdade. Ela o odiava com todas as suas forças, mas por sua cria Daisy o deixaria tocar nela. Por sua filhotinha.
"Não sei... Eu gosto de você, já disse isso, mas sua cara de nojo me incomoda. Você não enxerga a mim, você vê os outros e você odeia isso. Eu poderia ter usado a substância, você nem saberia, mas..."
"Eu faço o que for preciso! Eu quero proteger minha filhotinha."
Ele voltou até Daisy, sua camisa clara e chique estava manchada com sangue.
"Então se esforce para gostar de mim. De verdade, sem isso." Ele disse tirando o frasquinho do bolso.
Isso era impossível, então Daisy tomou o frasco dele, colocou na boca e quebrou o vidro com as presas, tudo com sua velocidade máxima. A dor que ela sentiu foi tão intensa que ela perdeu os sentidos.

Desculpem a demora e o capítulo pequenininho, estou muito ocupada esses dias.❤️

FILHOTES - LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora