Era a festa de aniversário de Claire e eu estava muito feliz. Flora estava bem, Hon tinha me garantido que seu corpo estava saudável e sua atividade cerebral estava normal, eu só tinha de esperar que ela acordasse.
Eu olhei para Noah, ele me ignorou, eu sorri internamente, afinal eu estava correndo o risco de ter as presas arrancadas por Daisy.
Ele ergueu uma sobrancelha, eu acenei, tudo estava indo exatamente como ele preveu.
Exatamente até demais. Era isso que sua expressão vazia indicava. Adam que estava próximo a ele lhe deu uma cotovelada quando Daisy e Pansy entraram no refeitório. Minha sobrinha bateu palmas quando viu a decoração primorosa da mesa do bolo, Daisy se aproximou, Pansy segurou um balão dourado, ele estourou fazendo um grande barulho, Pansy chorou alto e estendeu os bracinhos para Honor.
Daisy a entregou a ele com um sorriso de pesar no rosto, pois quando ia para o colo de Honor, Pansy só saia quando adormecia.
Daisy foi se sentar na mesa em que Violet estava, eu notei Noah a seguindo com os olhos baixos e tive pena.
Por que o Tio V tinha muitas qualidades, mas criar um ambiente para se aproximar de uma fêmea não era uma delas. Ele nunca precisou, sem falar que foi celibatário durante muitos anos, então, resumindo, Noah parecia plantado no piso do refeitório e precisaria de ajuda.
Eu troquei um olhar com Hon, meu irmão me encarou dizendo com o olhar que estava torcendo para que Daisy se decidisse a espancar o clone para que pudesse ajudá-la.
Candid estava envolvido numa conversa com Pollyana e Max, eu ouvi a conversa por uns segundos e olhei para Gabriel. Gabriel beijou a mão de Creek, eu deduzi que Pollyana devia ter ameaçado ele com algum segredo. Típico de pai de fêmeas. Elas sabiam como fazer seus pais realizarem todos os seus desejos e Pollyana era uma das mais eficientes em fazer isso.
Eu olhei para Caim, ele ninava o filhotinho mais novo de Gift e só me sorriu de leve, indicando que Max deveria ter apertado seus cordões. Eu suspirei e vesti a camisa de 'irmão mais velho' e me concentrei a conversa.
Candid falava sobre a tradição dos fogos de artifício da china, uma armadilha pra mim, pois minha mente viajou pelos valores das ações das principais indústrias e empresas chinesas. A china era um colosso quando o assunto era o mercado de ações e Candid sabia muito bem da atração desse assunto pra mim.
É claro que era uma conversa codificada, mas Cam me conhecia bem demais para saber que eu estava muito preocupado com Daisy e Noah, ansioso pela certeza de que Flora iria acordar, preocupado com a mudança em nosso mundo que estava por vir, segundo os videntes, concentrado nas ondas cerebrais de Aruna e Safira, enfim, eu estava atolado na merda.
Tão atolado que se Max e Pollyana estavam planejando explodir o paredão, minha mente acabou decodificando a conversa automaticamente, eu não iria intervir.
Daisy se levantou e foi até a mesa do Tio V, a mesa mais próxima da mesa principal onde Noah, Claire, Thorment e Marlena estavam abrindo presentes.
Eu, como padrinho de Claire, era quem deveria estar lá, mas Noah tinha pagado por tudo, uma fortuna aliás, então, Thorment tinha me dado um 'chega pra lá' e a honra de ficar próximo da mesa principal era de Noah.
É claro que a cada presente que Claire abria era mostrando a mim primeiro e eu, ou soprava um beijo para quem tinha dado o presente, se eu o aprovasse, ou mostrava os dentes para os presentes indelicados. E esses eram a maioria!
Por que Novas Espécies eram péssimos em dar presentes. Claire já tinha recebido duas furadeiras até que eu rosnei para Oaks e ele desistiu de lhe dar a terceira. Sunny tinha trazido uma cama de princesa, com dossel, nas costas e a jogou bem no meio do refeitório com um grande sorriso no rosto. Agora a cama, colocada num canto, estava sendo usada de pula-pula pelos filhotinhos, Orchid e Tulip já tinham mordido um dos postes delicados de madeira e o tal poste teria de ser trocado.
E não parava por aí, Proud apareceu com uma caixa gigante cheia de jóias feitas por ele. Até aí tudo bem, mas quando foi pesquisar alguns modelos na internet, Proud caiu em alguns sites duvidosos e a cara de Thorment quando tirou um enorme plug anal cravejado de safiras da dita caixa enorme foi impagável. Eu ri tanto que ele abandonou seu posto perto da mesa principal, veio até mim e me deixou com um olho roxo. Era esperado e valeu a pena.
James, o responsável pelas câmeras, estava angariando uma boa quantia já ao leiloar a filmagem.
Tia Marianne abraçou Daisy, a fez sentar numa cadeira enquanto fazia sinal para Noah vir se sentar na cadeira ao lado da de Daisy. Tia Marianne tinha uma autoridade tal, que quando ela fez o sinal, as pernas de Noah praticamente andaram sozinhas até ela e só quando seus olhos bateram nos olhos raivosos de Daisy é que o clone viu a burrice que tinha feito.
Ele se sentou e eu, Tio V, Candid e Honest prendemos a respiração. Daisy teria percebido que foi Noah quem esteve com ela no aquário de Oswald e não Moses?
"Oi. Está gostando da festa?" Noah perguntou para Daisy e eu tive de tirar meu chapéu imaginário para ele, pois seus olhos, seu tom de voz e sua linguagem corporal indicavam casualidade. Daisy ficou confusa com o tom ameno e só assentiu com a cabeça.
"Honor será mesmo padrinho de Pansy? Há alguma possibilidade de um torneio, por acaso?" Noah perguntou e Candid riu olhando pra mim. Cam preferia Noah entre toda a família do Tio V e mostrava isso descaradamente.
"Por que a pergunta? Você gostaria de ser padrinho dela? Por que justo Pansy? Eu e você não somos próximos." Daisy usou seu tom mais grosseiro, tanto que mamãe limpou a garganta e a olhou com desgosto quando Daisy a encarou.
"Biologicamente ela é minha filhote. Acho que isso me dá o direito de..."
"Ela é minha e de mais ninguém. E eu não tenho problema de mastigar as bolas de quem disser o contrário." Daisy sussurrou.
Noah sorriu, um sorriso que eu nunca vi em seu rosto. Havia tanta lascívia em seus olhos que Daisy se mexeu na cadeira.
"Ousado!" Candid vocalizou para mim, Honest fechou a cara. Tio V sorriu orgulhoso, eu me concentrei em Daisy.
Minha irmã apertou os olhos, Honest se esticou todo e até eu firmei minhas pernas. Se Daisy voasse em Noah, eu, Cam e Hon iríamos separar um espaço para lutarem. Wide assentiu para mim, olhando desanimado para Honor, e fez sinal para Kabir se aproximar de Adam e Rom. Aquele tipo de ordem era obedecida pelo Quimera sem que ele lembrasse a Wide que 'Kabir é mais velho', mostrando que ele não era tão burro assim.
"Minhas bolas entrariam em contato com a sua boca? Há dores que valem a pena." Noah sussurrou de volta, papai apertou os olhos e encarou o tio V. Candid aumentou seu sorriso, Hon apertou sua trança.
Slade, Brass, Moon e Harley já olhavam um para o outro fazendo sinal com os dedos, as apostas estavam a todo vapor e eles nem sabiam da história.
"Acho que exagerei, Daisy, eu só queria saber se haveria a possibilidade de criar um laço com sua filhotinha. Ser um clone significa ser sozinho, totalmente sozinho. Eu não tenho mãe ou pai, nem irmãos ou o que quer que seja. Provavelmente não serei pai, também, então ser padrinho de Pansy me pareceu... Mas me desculpe se o que eu disse te enfureceu, não era a minha intenção." Noah disse para a minha irmã com os olhos de diamante brilhando de forma servil.
"É..." Daisy disse toda confusa, um murmúrio desanimado soou pelo refeitório, o Tio V sorriu para papai, papai bufou.
"Eu e Honor temos um acordo, um bem antigo. Pansy sempre foi afilhada dele e por consequência de Livie."
Honor, que segurava Pansy, ou era segurado por ela pelos cabelos, rosnou baixo, Livie lhe deu um beijo na boca, Pansy a beijou na bochecha.
Aquiles estava no colo de Live e não gostou de Pansy ter beijado sua mãe, ele rosnou para Pansy, Pansy rosnou de volta e a confusão se armou.
Livie era fraca, ela não teve como segurar seu filhotinho, Aquiles voou em Pansy, ela o recebeu com as garrinhas, que deviam ter sido aparadas por Cam e ele não o fez, Pansy arranhou um dos olhos de Aquiles, foi uma correria.
Depois de Honest socorrer Aquiles, de papai rugir que Pansy era a filhote mais feroz de nossa família, de Slade receber uma bolada, já que ninguém apostaria numa briga de bebês, Noah se retirou do refeitório e eu fiquei pasmo ao ver Daisy indo atrás dele. Não por causa de Pansy, afinal, ela levou a melhor sobre Aquiles que era bem mais velho que ela. Papai a jogava para o alto a proclamando como seu maior orgulho e ela gargalhava. Eu fiquei pasmo por que sentia Daisy confusa, totalmente diferente da Daisy hostil que o respondeu quando ele perguntou sobre apadrinhar Pansy. Ela estaria em dúvida?
Eu ia me levantar quando Cinco se sentou em minha mesa. Cinco estava muito maior que Caim, era muito estranho isso, eu e meus irmãos estávamos sempre de olho nele, mas o jeito com que ele me olhou mostrou que não estávamos fazendo um bom trabalho.
Eu o encarei, era engraçado ver as pintinhas castanhas em seus olhos. Essas pintinhas vinham dos olhos cor de mel de Flora, era a única coisa que Caim herdou dela. Até onde eu sei ninguém nunca percebeu essas pintinhas nos olhos de Caim e isso se devia a aura de poder que o envolvia. Era uma aura pesada de bem estar que fazia com que todos o amassem, o mesmo que acontecia com Flora. Abel e Cinco tinham isso, afinal eram clones. Abel era a doçura encarnada, sua mente era tão inteligente quanto a de Caim, mas ele não a usava, ele era um filhotinho em toda a regra. Às vezes meu coração doía ao pensar que Abel era o que Caim seria se não tivesse sido levado quando nasceu.
Já Cinco era diferente e muito diferente. Ter tido sua mente habitada por Adriel, a coruja, o mudou. Ele era analítico, frio e arrogante.
"Vai ou não vai trazê-las?" Ele perguntou, eu suspirei.
Aruna, Safira e Kabir, o próprio. Eu estava conectado com as mentes delas, usando a parte de Adriel que havia em minha mente. Elas estavam num hotel em São Francisco, Bill era o responsável pela segurança delas.
Assim que elas viessem morar na Reserva, seria como se Moses estivesse lá dentro e isso era muito perigoso. Eu tinha entrado em contato com Ananyia, mas ela se recusou a abrigá-las, já que Ananyia tinha de se preocupar com sua própria segurança. Moses iria se vingar e Ananyia não era páreo para ele, quase ninguém era.
"O que você sugere, Cinco?" Eu perguntei mais para ganhar tempo até dizer que eu não sabia o que fazer.
"A opção mais lógica seria o extermínio." Ele disse acenando para Dhalia. A filhotinha de James deu-lhe um de seus raros sorrisos, ele sorriu de volta. Cinco parecia um filhote normal, a frieza em seus olhos só era percebida por poucos.
"Você teria coragem?"
"Matar não tem nada a ver com coragem, Simple. Se necessita oportunidade, meio e motivo. Você tem todos esses requisitos a mão." Ele disse olhando para a frente.
"O fato de serem seres humanos, tendo assim direito à vida, serem cheios de sonhos e com potencial para mudar o mundo para melhor, não comove você?" Eu perguntei.
Cinco me encarou, eu acabei por desviar meus olhos, não por não suportar os dele, mas para que ele não visse que sim, eu sabia que essa era a solução mais efetiva.
"Eu sei que se fizéssemos um plebiscito, todos, sem exceção, iriam votar pela vida, não importa de quem. Ninguém aqui colocaria sua própria vida acima da de qualquer outra pessoa, eu sei, mas se é para que mortes aconteçam sem que se possa evitar, que seja a que traga alguma vantagem."
"Eu vou evitar isso. Ninguém vai morrer e elas viverão aqui. Elas deviam ter nascido aqui, deviam ter tido uma infância como a que eu tive. Eu vou dar isso a elas, a você." Eu disse, Cinco ergueu as sobrancelhas. Ele sorriu de modo triste, mas é claro que eu não ia acreditar que ele pudesse ter algum sentimento por quem quer que fosse.
"Dez está aqui se passando por Kabir e nem por isso, Moses fez alguma coisa." Ele observou.
"Dez é uma Quimera, Moses é arrogante demais para se ligar afetivamente a ele."
Cinco balançou a cabeça para cima e para baixo, eu esperei ele me refutar.
"Mas Aruna e Safira estão ligadas a ele? Por que ele se ligaria a elas? Eu não vejo... É. Ver. Ele vê. Passado, presente e futuro se misturam na mente dele, probabilidades, possibilidades..." Ele continuou falando consigo, eu me concentrei nos passos de Noah e Daisy.
Noah andava devagar, provavelmente dando a Daisy a chance de alcancá-lo, Daisy andava ainda mais devagar, talvez se arrependendo de ter saído atrás dele.
"Traga elas." Cinco disse, saltou da cadeira e foi até Matilda. A Canina se sentou e lhe ofereceu o seio, Cinco recusou educadamente, mas se sentou no colo dela. Matilda o abraçou, eu sorri.
Cinco era um expert em probabilidades e eu confiava no juízo frio dele. Já haviam tantas coisas para considerar, decidir e colocar em prática que eu resolvi acatar a sugestão dele.
Fiz sinal para Hon, Hon assentiu, afinal ele deveria estar ouvindo, olhei para Cam, Cam estava falando de como os chineses inventaram a pólvora e me ignorou, então eu fui cobrir as costas de Daisy.
O mais sensato seria ficar ouvindo a conversa dos dois, mas eu estava entediado e provocar Noah era bem divertido, então eu me banhei em valeriana, usei minha super velocidade e parei próximo deles.
Noah tinha finalmente se sentado num tronco, Daisy estava sentada em outro. Eles estavam perto do Zoológico, Daisy segurava algumas flores diversas nas mãos, sinal de que ela estava nervosa.
"Por que me seguiu? Mudou de idéia quanto ao padrinho de Pansy?" Noah perguntou. Ele estava sentado falsamente relaxado no tronco, suas pernas estavam abertas, do jeito que os machos se sentavam, mas nem Tio V, nem seus clones ou filhotes se sentavam assim. Papai dizia que as bolas deles eram pequenas e não os incomodavam ao se sentarem.
"Sem chance!" Daisy disse e riu, Noah não a acompanhou.
"Então por que está aqui?"
"Você não viu?" Daisy perguntou, Noah cruzou as pernas. A calça que ele vestia era cara, bem ajustada ao corpo,mas feita num tecido confortável, então os músculos de suas coxas ficaram em evidência, Daisy torceu o cabinho de uma hortênsia.
"E chegamos no porquê estamos aqui, não é? Você acha que eu sou Moses. Acha que ele conseguiu enganar Papai, Adam que dividiu o útero comigo, Livie, a telepata mais poderosa de nossa família e principalmente Rom, que lê mentes e está sedento pela cabeça de Moses." Ele disse usando um tom meio monótono.
Daisy apertou as flores em suas mãos, devia haver uma rosa entre elas, pois ela abriu a mão e viu que tinha se machucado com um espinho. Noah não se moveu.
Eu quase corri até eles, as flores da Reserva não eram simples flores mais desde que Marble tinha chegado. Agora, tínhamos Niyati, Sanyia e pior, Amália, todos manipuladores de substâncias andando, plantando e colhendo por toda a Reserva. Mas Daisy só sacudiu a mão e eu me dei conta de que Noah veria se ela se machucasse.
"Então você não é Moses?" Daisy perguntou.
"Não, Daisy, eu não sou Moses. Sou Noah North, antigo Noah Anderson. Nas empresas do velho Anderson quando é necessário que eu assine alguma coisa e tenho de ir lá, muitas vezes eu ouço chamarem o senhor Anderson e eu acabo por não responder." Ele disse e sorriu, Daisy sorriu de volta.
Ele era simpático e muito charmoso, eu não estava gostando daquela conversa. Pra mim, e para Hon e Cam também, Noah iria se revelar para Daisy e eles iriam ir morar juntos com Pansy, muito provavelmente na casa de papai e mamãe. Mas ele não parecia estar prestes a se revelar, Noah parecia estar decidido a enganar a minha irmã e o conhecendo como o conhecia isso devia ter um motivo oculto.
"É que... Quando..." Daisy estava sem palavras! O vínculo mudava mesmo algumas pessoas!
"Você me viu segurando Pansy. O cheiro era o mesmo e talvez eu a tenha olhado como ele a olhava, com... Desejo?"
Daisy balançou a cabeça, ele a estava confundindo e eu achei que era hora de parar com aquela besteira.
Noah se sentou no mesmo tronco que Daisy, eu me acalmei e continuei imóvel. Se Daisy estivesse gostando da conversa e eu os interrompesse, adeus minhas bolas.
Noah ergueu o queixo de Daisy, ela deixou, eu travei os dentes de expectativa. Ele a beijaria?
"A vontade que eu tenho é de admitir que sou ele, sabia? Assim eu poderia beijar essa sua boca até ter a ilusão de que me fartei dos seus lábios. Seria uma ilusão, por que eu nunca ficaria saciado dessa sua boca."
Daisy afastou o rosto, Noah se sentou um pouco afastado dela.
"Mas você vai continuar dizendo que não é capaz de magoar Rom." Daisy disse.
"Você se lembra?" Noah perguntou.
"Sim, Noah, eu lembro. Você e eu passamos um tempo juntos, a gente conversava sentados no telhado lá de casa. Eu te contava sobre as minhas brigas com Rom, você me dava conselhos. Até que..."
"Até que Rom deixou de ser um idiota e o relacionamento de vocês se aprofundou. Eu fiquei feliz por vocês na época." Noah disse olhando para Daisy com um sorriso leve no rosto.
Eu só podia imitar Cam me perguntar: 'que porra de conversa era aquela?'. Noah estava se afastando de Daisy! Por que infernos ele estava fazendo aquilo?
"Noah... Algo me diz que foi você que..."
"Que..." Noah esperou Daisy completar fingindo ignorância e eu quase rosnei.
"Que esteve comigo. Eu senti seu cheiro e o meu cheiro misturados, eu senti que você era meu. Eu desmaiei de pavor e de medo, não por mim, ou por qualquer pessoa da família ou da Reserva, eu tive medo de te matarem. Por que é isso que vão fazer se Moses aparece aqui."
"Você tem razão. Se ele aparecer, eu mesmo o mato. Dentre todos que dizem que o matariam, eu sou um dos poucos que falo sério." Noah disse com voz baixa e ameaçadora. Ele estava falando a verdade.
Nesse momento os olhos com pintinhas castanhas de Cinco me vieram a mente e eu entendi. Quando ele falou em matar, não era particularmente de Aruna, Dez e Safira que ele estava falando. Cinco via mais possibilidades de desdobramentos que qualquer um que eu conhecesse, talvez até mais que eu. Se Aruna, Safira e Dez estarem na Reserva daria a Moses a chance de ter visões a cerca de todos nós, ele poderia se sentir tentando a entrar na Reserva. Se ele fizesse isso, Noah o mataria.
"E se estivermos vinculados? E se matá-lo for me matar?" Daisy perguntou, eu franzi minhas sobrancelhas. Essa conversa estava me deixando totalmente desconfortável e eu odiava isso.
"Não será." Noah disse, se levantou e correu. Ele praticamente se desmaterializou no ar, eu não imaginava que ele pudesse ser tão rápido.
Daisy suspirou, ergueu o rosto mas não havia sol naquela parte do bosque, então ela puxou os cabelos.
Eu fui até ela, a peguei em meus braços e me sentei com ela no colo.
"Me espionando?"
"Você voltou diferente, D. Você não fala mais tudo o que lhe dá na telha e está menos cabeça quente. Eu estou com medo, sabia? Nenhum problema em você me quebrar uma perna desde que eu te entenda, mas eu não sei o que você queria com Noah." Eu disse.
Daisy apoiou o rosto no meu peito e ficou ouvindo meu coração, eu comecei a ouvir o dela e aproveitei aquele momento puro de amor fraternal por alguns segundos.
"Ele é muito parecido com Moses. Acha que o vínculo pode se enganar de macho? Acha que eu posso me vincular a ele e a Moses?"
"Seria bem prático, não acha? E Noah é tão rico que não tem o que fazer com tanto dinheiro. Você poderia fazer uma bariátrica." Eu brinquei. Honor foi quem fez essa piada. É claro que eu só falei isso por estarmos no meio do mato. Quando Honor falou isso na mesa de jantar, Daisy lhe fincou uma faca na coxa e a segurou até a carne começar a se fechar, foi assustador, mas também tão engraçado que até mamãe riu.
"Se eu não estivesse tão confortável no seu colo, eu quebraria o seu nariz. E talvez eu ainda o quebre se não me responder."
"Não há resposta, D. O vínculo se dá na alma, mas somos feitos de alma, corpo e espírito. Somos seres individuais, cada alma é única, cada espírito tem sua própria essência e o corpo é apenas o envólucro dos dois. Noah e Moses podem ter o mesmo corpo e talvez até a mesma alma, mas não podem ter a mesma essência. Por que o espírito não foi criado, o espírito de cada ser vivente já existia e sempre existirá. O vínculo une as almas e ao fazer isso une as essências dos espíritos, as transformando. Resumindo, ao se vincular, seu espírito entrou em contato com outro espírito e agora nunca mais será o mesmo. E nunca haverá outra união."
Daisy estremeceu nos meus braços ante as minhas palavras, eu sorri e a beijei com todo meu carinho em seus lábios.
"O que quer que essa sua cabeça esquentada e dura resolva fazer tem meu apoio." Eu disse, ela sorriu, o sorriso da mamãe, o pior deles.
"Só não se meta. Sabe que eu resolvo minhas merdas." Ela disse, eu ri dessa vez, a joguei no ombro como se fosse um saco de batatas e corri. Quando parasse, Daisy iria me dar um soco, mas o calor do corpo dela no meu ombro e suas risadas e ameaças enquanto eu corria faziam qualquer dor valer a pena.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FILHOTES - LIVRO 3
Fiksi PenggemarQue tal não dizer o nome da protagonista dessa nossa nova história? Não vai demorar para saberem, mas até lá vou tentar escrever um pouquinho do dia a dia da Reserva, foi uma dica de uma leitora querida e sim, acho que vai ser divertido ver vocês te...