CAPÍTULO 46

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Daisy encheu seus pulmões com o ar das montanhas buscando forças na bonita paisagem, mas ela alisou sua barriga e percebeu que sua filhotinha não tinha se mexido desde a manhã, então Daisy se deitou e abraçou sua barriga.
O medo lhe tomou o coração, a hora de Pansy nascer estaria chegando? Ainda demoraria muito?
A porta se abriu, Stirling entrou no quarto, Daisy se encolheu indo para o canto da cama, ele a puxou e a obrigou a se deitar de bruços, encostou o ouvido na barriga dela, sorriu e disse:
"Você está mais dócil hoje, isso é por que a hora está chegando?"
Daisy se encolheu e não respondeu, ele lhe sacodiu pelos cabelos.
"Responde, puta!"
"Eu não estou me sentindo bem e ela não se mexe." Daisy disse com os dentes travados.
"Sabe que vai doer, não é? Que você será rasgada com uma faca, se o bebê não sair pelo lugar certo, não sabe?"
Daisy escondeu a cabeça entre as mãos, ele riu.
"Daisy querida, quer comer alguma coisa?" A fêmea presente disse de forma doce, Stirling caçoou:
"Daisy querida! Você é mais estúpida que ela, por acaso? Já imaginou ela começar a ter contrações com a porra do estômago cheio de comida? O que acha que vai acontecer, idiota? Vai ser merda pra todo lado!"
"Desculpa, senhor Stirling! Eu só..."
"Você só está metendo seu bedelho onde não foi chamada! Como sempre!"
Quando Stirling disse 'como sempre' ele curvou os cantos da boca querendo rir, Olga o olhou com raiva.
"Eu posso levá-la para tomar banho, mestre Stirling?" Olga perguntou, Stirling fez um sinal com a mão, as duas saíram do quarto.
Elas passaram pela sala, cheia de outros humanos, Stirling se sentou a mesa, as costas de Daisy queimaram com o olhar dos machos humanos nela.
"Olga! Que tal esquentar minha cama essa noite?" Um humano que vinha entrando e barrou o caminho delas perguntou.
"Pergunte ao meu senhor."
"Eu estou perguntando a você." Ele disse com os olhos transbordando de lascívia, Daisy fingiu estar sentindo dor, Olga a segurou.
"Temos de ir, senhor." Olga disse, mas o humano não saiu da frente.
"Me responda e te deixo passar."
"Por que tem esse desejo de me fazer apanhar, senhor Parson? Sabe que eu sou uma propriedade. Sabe que..."
"Vai responder, ou não?" Parsons cortou Olga, Daisy teve que soltar o corpo Olga tentou sustentá-la, as duas quase caíram.
"Não. Eu não me deitaria com o senhor nem se minha vida dependesse disso." Olga disse erguendo o queixo, o rosto branco do humano ficou vermelho e ele travou os dentes.
"Puta!" Ele ergueu o braço, nem Olga, nem Daisy baixaram a cabeça, mas o tapa não veio, Stirling segurou o braço do tal Parsons e o torceu, o humano guinchou de dor.
"Ela pode ser um animal, mas é o meu animal. Toque nela de novo e será seu pescoço que eu vou torcer." Ele disse, o humano caiu em agonia, Stirling tinha partido o braço dele em vários lugares.
"Vá, dê um banho nela, ela está fedendo. Depois dê bem pouca comida e se fechem no quarto. No meu."
"Já ouviu falar que foder uma mulher grávida antes do parto ajuda o bebê a sair, Stirling?" Um dos idiotas sentados à mesa disse, Stirling riu.
"Vou provar essa teoria, com muito gosto." Ele disse, a sala explodiu em risadas.
Daisy tomou mesmo um banho, Olga preparou um caldo leve de carne e legumes, ela comeu lamentando que Olga tenha colocado bem pouco, mas não reclamou. Daí foram para o quarto de Stirling.
Daisy achava aquele quarto muito bizarro, com todas aquelas cordas, chicotes, correntes e açoites para todo lado, a visão era terrível, mas a cama era macia e muito grande, ela se deitou de lado, Olga se deitou de frente para ela.
"Acha mesmo que irão embora?" Daisy perguntou.
"Sim, eles vão. A notícia de que Moses foi deposto por um suposto filho de Theodore gerou todo esse tumulto, eles estão rindo e bebendo, mas a verdade é que estão se borrando de medo de estarem do lado errado da batalha."
Daisy assentiu, Olga entendia daquilo tudo, ela não.
"Esses que estão aqui estão do lado de Karim, então." Ela concluiu, Olga assentiu. Karim era o nome do Nova Espécie que enfrentou Moses, o tal suposto filhote de Theodore.
"Sim. Karim precisa provar que é mesmo filho de Theodore para começar, precisa provar que não o matou e que Oswald morreu de uma parada cardíaca."
Daisy travou os dentes, ela quase contou que foi Moses que matou seu pai.
"Se ele provar isso..." Daisy a incentivou.
"Ele precisa matar Moses. Moses tem o controle das finanças de todos os membros da cúpula, se ele não morrer, pode implodir a economia do Submundo,  ainda mais depois do boato de que ele se aliou a Simple."
Simple era economista, e Moses via o futuro, essa aliança podia mudar os rumos da economia mundial, já que a cúpula do Submundo ditava a economia de seus países através do domínio da política através da corrupção que eles fomentavam.
"Você tem alguma notícia..."
"Desde a última hora, que foi quando você me perguntou, não, querida, não tenho." Olga disse e sorriu, Daisy sorriu sem graça.
Moses tinha arrasado com um exército de aprimorados sozinho e essa notícia já circulava por todos os Aquários. Um grupo dos figurões da cúpula acabou se negando a apoiar Karim, dizendo que depois dessa demonstração de poder, pouco importava se Moses tivesse matado Oswald, eles não iriam ficar contra ele.
"Esse grupo que está apoiando Moses... Eles são poderosos?"
Olga ergueu as sobrancelhas.
"Sim e não. O poder muda muito de forma e valor no Submundo, Daisy. Em certos tempos, dinheiro é o requisito para se estar no topo, em outros, a influência é que é, ou ainda o poder bélico. Tudo muda, por que o mundo está sempre em transformação e de acordo com as demandas mundiais é que o Submundo se organiza. Oswald e Theodore são líderes relativamente novos, Afinal, eles usaram Moses por debaixo dos panos durante muito tempo. Demorou para galgarem os degraus rumo à cabeceira da cúpula, mas quando fizeram isso, a vidência de Moses tinha lhes garantido uma forma de continuarem indefinidamente. Eles estabeleceram negócios com todos os membros mais poderosos e isso rendeu muito dinheiro, muito mesmo, Daisy."
"Então, a liderança de Oswald e Theodore se baseou no dinheiro." Daisy concluiu, Olga sorriu.
"Exatamente. E todos se concentraram em enriquecer, o céu se tornou o limite. A influência veio como consequência, o que foi uma vantagem, mas o poder bélico ficou em segundo plano. Agora com essa guerra civil, os que fizeram como Stirling e produziram aprimorados em larga escala são extremamente necessários."
"Mas que mulher inteligente!" Stirling disse entrando no quarto, Olga torceu a boca, enquanto o observava trancar a porta ante ruído, fechar as janelas e ligar o ar condicionado. Todos os convidados tinham ido embora, mas eles eram bem precavidos.
Ele se sentou numa cadeira sob uma mesinha lateral e começou a comer do mesmo caldo que Daisy tinha comido, quando ele destampou a terrina e o cheiro inundou o quarto, Daisy teve que se segurar para não lutar com ele pelo resto do caldo.
Ele começou a comer ruidosamente, Olga franziu o nariz.
"Depois do showzinho de Moses, os aprimorados se tornaram essenciais, eu acabei de vender um lote de mil cabeças para Rottenburg." Ele disse entre colheradas de caldo.
Mil cabeças! Mil homens que se venderam por dinheiro. Era triste e ao mesmo tempo terrível.
"Mil cabeças!" Olga disse, ele deu de ombros.
Ela se levantou da cama e rosnou baixo:
"Mil cabeças! Como você pode ser tão idiota!" Ela se esticou toda, Daisy se sentou contra a cabeceira estofada da cama e os observou.
Stirling se levantou em toda a sua altura, ele devia passar dos dois metros, Olga não se intimidou, ela lhe socou a barriga, ele se encolheu.
"Ai! Que porra, Olga! Ele acreditou e pagou! Nós vamos fugir mesmo!"
Olga rosnou e puxou seus cabelos negros, ela pareceu Simple por um momento, pois ele puxava os cabelos exatamente como ela fez, puxando o cabelo pelo elástico, já que ele sempre amarrava seus cabelos na nuca.
"O que foi que combinamos, Liam? Fala pra mim!"
"Não chamar muito a atenção." Stirling disse voltando a se sentar massageando a barriga onde Olga socou.
"E o que mais?"
"Não mudar de atitude. Permanecer o mesmo, continuar..." Ele parou de falar, fez uma careta e encheu a boca de comida.
Olga lhe chutou uma canela, ele engasgou.
"Continuar..." Ela disse, ele torceu a boca, mas disse:
"Continuar com a mesma cautela pela qual eu sou conhecido. Manter minha reputação de idiota rico que teve a sorte de fazer aprimorados em larga escala, quando todos juntavam dinheiro." Ele recitou, Olga balançou a cabeça.
"Eu não sei onde estou com a cabeça que não dou um jeito de fazer você negociar com esses idiotas pela internet!"
"Acha que eu gosto de ter a nossa casa invadida por esses escrotos?" Stirling perguntou, Olga rosnou. Ela era bem pequena, como toda gêmea presente, mas Daisy nunca viu uma fêmea tão feroz quanto ela. Ou tão inteligente.
"Você quase deixou aquele lixo tocar em mim ou em Daisy!"
"Eu queria ouvir você dizer que é minha. Me bata, me machuque, mas valeu a pena." Stirling sorriu, seu rosto cheio de sardas exibiu duas profundas covinhas em suas bochechas, Daisy o achou adorável.
"Você sabe o que essas covinhas fazem comigo!" Olga foi até ele, se sentou em seu colo e o beijou na boca de forma escandalosa, Daisy olhou para as mãos.
Stirling era escocês, seu avô tinha sido um lorde muito rico e por isso, no século passado tinha ganhado Olga de Mercille como reconhecimento pelos vultosos investimentos. Quando o avô de Stirling morreu, lhe deixou Olga como herança, já que Stirling era filhote da única filhote fêmea do tal lorde e como estava muito longe na linha de sucessão do título, foi apenas Olga que ele herdou.
O que os outros herdeiros não sabiam era do potencial de Olga para fazer dinheiro. Stirling, ao invés dos machos idiotas ricos que acreditavam que os Novas Espécies eram apenas animais falantes, foi humilde a ponto de aceitar os conselhos de Olga e fez fortuna.
O problema foi que sua fortuna chegou a um patamar muito alto, isso chamou a atenção do Submundo e daí, Stirling e Olga foram obrigados a fazer negócios com eles, já que não é possível dizer não ao Submundo.
E foi aí que a inteligência superior de Olga os livrou de ficarem reféns da cúpula ao ter a idéia de investirem nas drogas de aprimoramento, bem quando o negócio da vez era o veneno de Benson.
Graças a MacKay, logo eles se tornaram fornecedores de humanos aprimorados para todos na cúpula, o que foi muito vantajoso, mas é claro que não parariam por aí.
Aprimorados tinham acesso às casas seguras e aos Aquários daqueles que tinham dinheiro suficiente para adquirí-los, o que rendeu para Olga e Stirling muita informação. E informação era poder, principalmente num grupo onde lealdade e honra não significavam nada.
"Vamos para o outro quarto." Stirling disse se levantando da cadeira com Olga nos braços, Olga lhe deu um golpe certeiro na garganta, ele caiu, ela saltou antes que o corpo maciço dele caísse sobre ela.
"Isso é por ter me chamado de animal." Ela disse, Stirling se levantou tocando o pescoço. Ele balbuciou alguma coisa, Olga o ignorou.
"Estamos na reta final, Amor! Não podemos vacilar! Trazer Daisy para cá foi muito arriscado!" Olga disse, Stirling ergueu os ombros.
"Queria que eu a deixasse nas mãos de Karim?" Ele disse, Daisy se encolheu. Olga não era má, era apenas que o Submundo era cruel e só os realmente inteligentes conseguiam sobreviver.
"Você sabe que eu não estou dizendo isso de forma pessoal, não é, querida? Estamos sob observação e você viu o idiota que Liam é sob as câmeras! Karim é o elemento desconhecido nessa equação, e mesmo que ele seja o estúpido que se mostrou quando atacou o Aquário de Oswald e deixou que não só Moses, mas o Quimera e as duas crianças fugissem, mesmo assim, Samantha não é burra." Daisy assentiu, Olga tinha toda razão. Thea tinha ficado para trás, Daisy estava morrendo de preocupação por ela.
"MacKay se ofereceu para vir e fazer uma cesariana. O problema é que ele não é de confiança." Stirling disse com a voz baixa. Olga foi até ele e o beijou na garganta, ele sorriu.
A fórmula de aprimoramento dele foi outro golpe de sorte deles. Essa fórmula era a mais segura entre todas as que circulavam e os humanos que as usavam sofriam uma grande mudança em seu DNA, mas conservavam a aparência humana, sem ter aumento de pelos corporais, aparecimento de presas e etc. Stirling sempre foi alto e forte, com a fórmula, ele se tornou um super aprimorado.
"Pansy já está imóvel por quantas horas, Daisy?" Olga perguntou.
"Desde de manhã." Daisy respondeu alisando sua barriga por debaixo da blusa do pijama.
"Quantos dias ela ainda pode demorar para nascer, você sabe?"
"Uns três, no máximo quatro." Daisy informou.
Stirling olhou para Olga, a fêmea presente primata, massageou a testa, ela estava pensando.
"Acho que vamos ter de arriscar." Ela disse.
"Você tem sentido algum desconforto, Daisy?" Stirling foi até a cama, fez sinal para Daisy se deitar próximo da beirada, ela obedeceu, ele lhe tocou a barriga.
"Eu tenho de..." Ele disse, Daisy assentiu, Stirling lhe baixou a calça do pijama, a calcinha e lhe enfiou um dedo na vagina.
"E então?" Olga perguntou enquanto Daisy se vestia e Stirling cheirava seu dedo antes de lavar a mão.
"Fechado. Totalmente. Pode abrir de uma hora para outra, mas a bebê é muito grande, vai acabar rasgando Daisy se o colo de seu útero não se dilatar o suficiente." Ele disse e foi para o banheiro.
Olga sorriu desanimada, Daisy respirou fundo umas três vezes e disse:
"Tire ela de mim, Stirling. Sem envolver MacKay, só nós três, eu aguento."
Olga e Stirling se olharam, Olga tomava a maioria das decisões, mas Stirling não era um pau mandado. Os dois eram uma parceria, se respeitavam e cada um tinha sua linha de atuação.
"Não dá pra te anestesiar, Daisy. É arriscado."
"Depois de... Depois que você cortar a minha..."
"Eu tenho drogas de regeneração, mas você demoraria uns dois dias para estar curada. Isso nos atrasaria. Karim está tendo reuniões com os membros que declararam apoio a Moses, mas depois de falar com os mais poderosos, ele pode desistir. Ninguém que está apoiando Moses vai ceder. Até porque Karim é Nova Espécie. Eles vão desprezá-lo ainda mais que desprezaram Moses. Moses é um vidente e acabou de se provar um assassino cruel, Karim tem o quê? O sangue de Theodore? Isso não tem valor algum."
"Acho que o mais indicado seria irmos essa noite. Você disse de três a quatro dias, levaremos menos tempo para chegar..." Olga se interrompeu, Daisy sorriu. Ela quase disse para onde os dois iriam. Ainda que estivessem se ajudando, Daisy era da força tarefa, eles faziam parte do Submundo.
"Podemos deixá-la no castelo do meu avô." Stirling disse.
Olga arregalou os olhos castanhos, Stirling sorriu.
"Isso! Amor, você é um gênio! Podemos dizer que iremos dar Daisy e a filhote para seu primo, o conde!"
"Nosso rebanho fica na Escócia, podemos dizer que iremos supervisionar a entrega das 'mil cabeças' pessoalmente. Viu? Nós acabaremos usando essa venda como desculpa." Ele disse e sorriu, Olga não quis dar o braço a torcer.
"Foi idiotice, Liam. Muita! Mas se não for arriscado, não tem graça, não é? Vá se arrumar, avise o piloto, eu e Daisy vamos nos vestir." Ela comandou, Stirling fez um biquinho:
"Nem uma rapidinha?" Ele disse, Olga lhe jogou uma xícara na cabeça, ele saiu do quarto rindo e dizendo que a amava.
O vôo demorou muito, quando chegaram, Daisy estava sentindo algumas dores no baixo ventre, Stirling a carregou nos braços até o castelo.
Quando foi deitada numa cama macia, ela sentiu uma contração, a primeira, Daisy travou os dentes e só grunhiu.
"Tudo bem, D. Pode gritar, estamos aqui." A voz de Honest disse, Daisy abriu os olhos, mergulhou nos olhos dourados de seu irmão e suspirou de alívio. Ela e Pansy estavam salvas.


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