CAPÍTULO 44

81 14 7
                                    

Paulo foi expulso da casa onde estavam ficando com Anna, sua mãe e sua sogra. Ele parou ante a porta e fez cara de coitadinho, sua mãe abriu a boca para dizer alguma coisa, Kit encheu a boca dela com um pedaço de pão.
"Anna..." Ele implorou, Anna apertou os lábios, a Vovó Espertinha guinchou e disse:
"Dê espaço a ela. Eu sei que você é lindinho demais, mas ninguém gosta de um macho grudento." Ela disse se esticando e colocando as mãos na cintura.
"Eu gosto, eu não quero que ele vá, ele é mais delicado e sensível que os outros, eles vão estragar ele, mamãe!" Anna disse, Paulo começou a pensar na densidade de veneno certa para exalar e fazer as outras mulheres apenas adormecerem. Seria possível? Não, não seria.
"Brass é delicado também e..." A mãe de Paulo disse, Kit, Sarah, Elizabeth e Amy bufaram, ela não terminou de falar.
"Vá, pedacinho de chocolate de olhos azuis, vá mostrar aos machos que você não é frouxo! E só volte quando conseguir." A grande mulher ruiva disse, Paulo não entendeu se ela o elogiou ou ofendeu.
"Isso mesmo, meu filhote. Bata forte em quem desafiar você, bem forte, tá?" Sua mãe disse, Paulo ergueu as sobrancelhas, confuso com o porquê de estarem exigindo que ele batesse em alguém. Seu pai dizia a mesma coisa, às vezes, falava para os amigos que o dia em que Paulo fosse desafiado o macho desafiante estaria ferrado.
Mas Paulo não foi desafiado e não via motivos para desafiar ninguém, ele estava aprendendo as particularidades das pessoas ali e estava encantado!
Desde o desejo de solidão que os machos da Zona Selvagem tinham até as brigas de Valiant e Vengeance, ele achava que não havia lugar melhor para se viver.
Ele e Anna tinham decidido morar com os pais dela, mas mesmo o terreno onde ficava a grande casa do sogro de Paulo sendo muito grande, logo Silas e os trigêmeos estavam mostrando sinais de se sentirem sufocados.
Não era só a convivência com as outras crianças, era alguma coisa maior. Quando Paulo conversou sobre isso com seu pai, Brass disse que esse era mais um dos mistérios da existência dos Novas Espécies, assim como a dependência dos filhotes de seus pais, diferente dos humanos que quando ficavam adultos saíam da casa dos pais, muitas vezes mudando até de cidade.
Ele andou até a sala de treinamento, era uma grande distância, mas não sentiu necessidade de correr, a verdade era que cada passo longe de Anna o deixava desconfortável.
Na sala de treinamento uma luta estava acontecendo, o barulho dos socos fez Paulo franzir o cenho, ele nunca tinha visto dois Novas Espécies lutando.
Eram os dois filhos, ou filhotes, como diziam ali, de Valiant, o que tinha cabelos vermelhos escuros, contra o segundo filho.
Os dois eram praticamente do mesmo tamanho, o ruivo era mais musculoso, a violência e a rapidez dos golpes era absurda, Paulo notou que alguns filhotinhos estavam até tendo dificuldade para acompanhar a luta.
Havia um círculo pintado de uns seis metros de diâmetro no chão e Paulo percebeu que o objetivo da luta era jogar o oponente para fora do círculo, não nocautear.
Paulo se concentrou e aguçou sua visão ao máximo, a luta pareceu ficar um pouco mais lenta e ele viu o ruivo sorrir antes de socar o maxilar de seu irmão. Era um perigo se concentrar num ponto entre o tempo e espaço daquela forma, pois Paulo corria o risco de perder os sentidos, mas aquela luta era uma novidade para ele.
Os olhos de Pride, que era o que tinha cabelos vermelhos escuros, brilharam dourados e ele, não parecendo ter sentido o golpe em seu maxilar, revidou com um potente chute na cabeça de Honor, o ruivo. Daí os olhos de Honor ficaram mais claros, ele puxou seu irmão pelos cabelos em direção a sua própria cabeça e o barulho dos ossos das testas se chocando foi aterrorizante.
Os dois foram lançados para trás, para fora do círculo, Paulo piscou tentando sair de seu transe, mas ele estava muito concentrado.
Uma gritaria foi ouvida, Tio V, começou uma discussão com o diretor da Reserva, Paulo sentiu uma presença e olhou a esquerda. A mulher alada! Ela sorriu e sumiu, Paulo entendeu que ela não estava ali, que o que estava vendo era ela se movendo entre as ondas mentais que existiam ali. Interessante...
"Filhote?" A voz de seu pai o ajudou a voltar a si, Paulo se assustou quando mergulhou nos olhos cor de bronze dele. Havia amor, muito amor naquelas íris brilhantes, mas também uma objetividade, até uma certa frieza.
Lhe ajudaram a se levantar, ele não tinha percebido que tinha caído, seu pai tinha os olhos preocupados.
"Vamos para o hospital." Seu pai tentou arrastá-lo, Paulo firmou o corpo.
"Não, eu estou bem. Eu só me concentrei muito para assistir à luta, só isso."
"Ok, ok, Brass, seu filhote é um bebezinho, todo mundo sabe disso. A questão é que você não podia ter apostado, Vengeance!" Slade disse.
"Minha vidência não é como antes, eu já cansei de falar!" Vengeance disse rosnando.
"Não importa! Você não tinha como saber que daria empate! Só usando essa sua..." O irmão do pai dele, ou primo, já que o parentesco não estava decidido direito, Harley,
disse.
"Os dois têm tamanho e força parecida, idiota! Um empate é um resultado totalmente previsível!" O Tio V estava muito nervoso, Paulo estava sentindo os ânimos de todos exaltados naquele lugar.
"Mas como explica ninguém ter levantado a possibilidade deles se jogarem pra fora do círculo? Pra cima de mim, não, seu Lobo Velho!" Valiant disse também rosnando.
"E eu tenho culpa de você não conhecer a força dos seus próprios filhotes? E olha que são só oito machos, então..."
"Está dizendo que tem mais filhotes machos que eu? Sério? Você adotou seus clones pra se aproximar do meu número de filhotes! E tem um monte de fêmeas!" Valiant falou indo para o círculo.
"Qual o problema em se ter um monte de fêmeas, Valiant? Eu vou completar seis fêmeas, qual o problema disso?" O pai de Paulo disse.
"Graças ao meu filhote! Se não fosse Simple você ainda estaria com seus... Com quantos filhotes, Honor?" Valiant praticamente rugiu as palavras.
"Sei lá, pai! Com... Quatro, Cinco?" Honor respondeu coçando a testa, um hematoma gigante já tinha se formado.
"Paulo é só alguns poucos meses mais novo que John e Bronzy. Meus nadadores engravidaram Sophia no resguardo dela." A garganta do pai de Paulo inflou de orgulho. Nadadores eram os espermatozóides e tinham muito valor ali.
"Vai vir pro círculo ou não, Grande Leão Idiota?" Vengeance rosnou, os filhos e netos dele uivaram.
"Não se contenha, Lobo Velho." Valiant disse, mas quando entrou no círculo o pai de Paulo uivou, todo mundo parou.
"Hoje é um grande dia pra mim. Depois de passar um bom tempo amando sua fêmea, meu filhote resolveu dar o ar de sua graça aqui e ele é que deve lutar com alguém."
"Até porque todo mundo sabe que esses dois nunca lutam pra valer." Um dos filhos de Honor disse, todo mundo assentiu concordando.
Um dos caninos que também tinham algum parentesco com o pai de Paulo ergueu a voz:
"Eu o desafio. Mas quero sua palavra quanto ao seu veneno."
Paulo deu de ombros, ele tinha total controle de seu veneno, não era nada demais.
"Eu tenho uma ou outra coisinha a dizer sobre isso." O diretor da Reserva disse, alguns homens bufaram.
"Uma luta entre Paul e Bestial não tem graça nenhuma!" Slade disse, todos concordaram.
"Bestial é bom, mas é técnico demais. A luta dele parece uma dança. Desculpa, cara, mas queremos emoção." Moon, um homem que Paulo achou calmo e ponderado, disse mudando a impressão que Paulo tinha tido dele. Seus olhos brilhavam como os de todos ali.
"Na verdade, acho que o melhor oponente para Paul seria meu tio Candid." Proud, o filho de Pride, que inclusive Paulo achou uma grande jogada ele ter esse nome, disse com um sorriso bem infantil no rosto. Ele era bem alto e forte, mas era bem novinho, mais ou menos da idade de Silas.
Uma onda de sussurros tomou o lugar, todo mundo olhou para Valiant, Valiant piscou, uma coisa meio estranha na opinião de Paulo, já que ele tinha os olhos muito puxados.
"Liguem para o meu filhote! Digam que eu o chamo para honrar o meu nome!" Ele disse bem alto, seus netos rugiram, até os irmãozinhos pequenos de Paulo, que estavam lá no colo de Brave, sibilaram.
Slade discou um número e logo a voz de Candid perguntava por que ele estava incomodando-o. Os menininhos riram, Paulo achou bonitinho e riu também. Silas e os trigêmeos estavam na casa do Tio Lash, era uma pena estarem tão longe.
"Filhote! O grande dia chegou! Você vai mostrar que os meus nadadores são mais fortes que os de Brass!" Valiant disse muito animado, o pai de Paulo rosnou.
"Acontece, papai, que diferente dos seus outros filhotes, eu tenho um trabalho muito importante e estou trabalhando. Tenho de passar toda uma maldita semana no hospital, esqueceu?" Candid respondeu, os homens ficaram olhando um para o outro. Valiant olhou para Slade, Slade disse:
"Fale com Forest. Diga que eu na posição de Diretor da Reserva, libero você por algumas horas."
"Tá, mas o que eu ganho com isso?" Candid perguntou e até Paulo olhou para seu pai sem entender. Seu pai apertou os lábios.
"Como assim o que você ganha? Você foi desafiado!" Valiant disse chegando o rosto perto do telefone móvel na mão de Slade.
"Será mesmo? Eu não ouvi nenhum desafio. E mesmo que o tal Paolo tenha me desafiado, acho que ele pode esperar."
Paulo quase corrigiu Candid, mas entre ser chamado de Paul e Paolo, a segunda opção tinha um som bem mais parecido com seu nome.
"Eu entendo a importância de seu trabalho, Doutor Candid. Eu só entrei aqui e então me disseram que eu tinha de lutar. Seu sobrinho Proud sugeriu que a luta deveria ser com você. Eu não te desafiei." Paulo se sentiu na obrigação de explicar.
"É claro que você não me desafiou, o cu não desafia o pau." Ele disse e todos riram, até o pai de Paulo, então Paulo entendeu que não tinha sido uma ofensa, embora ele tenha usado palavras de baixo calão, mas isso era até comum ali.
"Então a luta será daqui a uma semana? Sério, Brass? Esses seus filhotes..."
"Cala a boca, Harley. O que você quer para vir lutar, Cam?" Gift, o irmão de Paulo disse, Paulo olhou para Harley, Harley não tinha se importado por ter sido mandado calar a boca, muito pelo contrário seus olhos pareciam muito ansiosos pela resposta de Candid.
"Façam com que Forest anule o meu plantão de sete dias corridos. Faça isso e eu quebro a cara do seu irmão hoje mesmo." Candid disse.
Paulo sorriu, ele estava acostumado com essa mania de dizerem que quebrariam as caras uns dos outros, ele achava divertido essas ameaças bobas.
"Ok." Gift disse e desligou.
Logo ligavam para Forest, Paulo puxou um tamborete e se sentou, era engraçado estarem tão ansiosos por vê-lo lutar.
Anna tinha uma afeição especial por Candid e Paulo também tinha notado que Candid via Anna como a mulher preciosa que ela era, pensar em lutar com um homem que nutria essa espécie de afeto por sua mulher era um pouco desconfortável. Como bater em alguém que amava sua esposa? Candid tinha vindo até ela quando chegaram e a abraçado durante muitos segundos, Paulo viu a preocupação por Anna estar desaparecida nos olhos dourados dele.
Candid também tinha ido até Paulo e dito que Anna merecia o melhor macho do mundo e tinha até ameaçado Paulo se caso ele não se tornasse esse macho. Como bater num homem bom desses?
"Não, não vou liberar Candid, Gift, não importa o que você diga. Eu dirijo um hospital, não um hotel." As palavras duras de Forest e o barulho da linha sendo desligada cortaram o fio dos pensamentos de Paulo acerca de Candid, Anna e a bonita amizade deles.
"É, acho que você teve sorte, Filhote. Vai ter uma semana para se preparar." Valiant disse, Paulo sorriu para ele.
"Não. Eu já sabia que Forest ia se negar. Eu vou ligar para quem tem o pau maior. Vai ser divertido ver a cara dele depois." Gift disse, Paulo ergueu as sobrancelhas. O tamanho do pênis era um tema bem sensível ali, algo que Paulo não entendia, uma vez que todos pareciam bem felizes com suas esposas. Que vantagem havia em se ter o membro sexual maior que o dos outros homens?
Gift ligou, a irmã de Paulo, Charity, atendeu, Paulo arregalou os olhos.
"O que é, Gift?"
"Você me deve." Gift disse para Charity.
"O que você quer?" A voz de sua irmãzinha estava seca, Paulo a achava fria, séria demais.
"Preciso que Forest libere Candid do plantão de uma semana dele. Agora." Gift também não era um irmão muito amoroso. Protetor sim, mas amoroso como Brave, não.
"Ok. Vou falar com minha madrinha." Charity disse e desligou.
"Quando estava falando do pau maior, era o meu? E bem na cara do seu pai! Eu disse que eu deveria ser o seu padrinho, mas Brass quis chupar as bolas de Jus..."
"O pau maior é o da Trisha, sabe disso, né, Slade?" O pai de Paulo cortou Slade, Paulo não estava entendendo nada.
"Sim, mas o pau dela é o meu!" Slade disse rosnando.
"Não exatamente, Tio. O pênis nesse caso está apenas sendo usado como representação de poder, não como algo concreto. E quando se trata do Hospital, Tia Trisha tem o maior pau de todos. Ela é a alma daquele lugar." Um dos gêmeos mais velhos de Honor disse, Slade deu de ombros.
"Eu sou dono da fêmea que tem o maior pau do hospital. Então, pela lógica..."
"Pela lógica, você vai tomar no cu, Slade. Que conversa mais idiota!" Harley disse, os filhotinhos pequenos se dobraram de rir.
Dentre as mulheres, a linguagem era bem controlada e ninguém falava palavrões, salvo quando uma ou outra palavra feia escapulia, mas sempre pediam desculpas. Já ali, Paulo estava notando que ninguém ligava muito para o que se dizia e ele ficava um pouco desconfortável com isso, com essa coisa de falar palavrão no meio de crianças. Será que se ele contasse para as mães das crianças, os homens ficariam chateados? Talvez ele pudesse falar com seu pai, seu pai era bem respeitado ali.
Paulo estava pensando no que dizer sobre esse assunto a seu pai, quando Candid entrou na sala de treinamento e um barulho de doer os ouvidos soou por todos os lados, ele chegou a olhar para a estrutura do teto, preocupado que pudesse desabar.
"E aqui está ele, Senhoras e Senhores! Vindo direto do Hospital para a sua diversão!" Candid disse apontando para seu peito, Paulo foi cumprimentá-lo.
"Que bom que pôde vir. Lutar parece ser algo muito importante aqui e eu fico honrado por poder lutar com você. Não se preocupe com o meu veneno, ok? Eu nunca colocaria a sua vida em risco." Paulo disse e abriu um grande sorriso. Talvez fosse seu vínculo com Anna, mas ele gostava realmente de Candid.
Candid ergueu as sobrancelhas e o olhou confuso, Paulo estendeu a mão, Candid estendeu a dele e Paulo envolveu sua preciosa mão de médico com as duas mãos dele como forma de respeito.
"Anna me disse que sempre foram amigos e eu espero que essa amizade de vocês possa se estender a mim também."
"Ann te disse isso? Ela te disse o tipo de amizade que tínhamos?" Candid perguntou. Paulo, que tinha se admirado do fato de que sempre que olhava para Candid o via com um sorriso no rosto, o achou um tanto quanto sério demais.
"Sim. E eu quero te agradecer." Paulo disse sem sorrir dessa vez, afinal eles iriam lutar e não fazia sentido um homem ficar cheio de sorrisos para o outro justo antes de se engalfinharem.
"Essa é nova. E você até que é bonitinho, sabia? Se você não tiver problema em ser o 'passivo' na nossa 'amizade', tudo bem pra mim." Candid falou fazendo aspas com os dedos, muita gente riu.
Paulo olhou para seu pai, para Gift e Brave, eles tinham um brilho assassino no olhar.
"Não entendi." Paulo disse se esticando. Ele não tinha entendido, mas seu pai e irmãos sim. Se ficaram bravos é por que boa coisa não devia ter sido.
"Ann te disse do tipo de amizade que tínhamos? Dos nossos beijos? De todas as vezes que ela quis compartilhar sexo comigo e eu não quis?" Candid disse com um sorriso no rosto. Um sorriso totalmente malvado, sarcástico.
"Você está dizendo que..." Paulo não conseguiu continuar, algo dentro dele aqueceu, algo forte e mau.
"Que eu provei daquela boquinha atrevida. Muitas vezes. E que..." A cabeça de Candid balançou com tanta força que pareceu que ia cair para trás com o soco que Paulo deu nele.
Paulo sentiu seus olhos se aquecerem, seus músculos ficarem rijos. Ele mordeu sua língua com as presas, havia muito veneno ali, veneno que ele nem tinha percebido que produziu.
"Cale a boca! Não fale desse jeito dela." Ele disse chiando, sua boca estava cheia de veneno.
"O que vai fazer se eu não calar? Se eu disser que Ann pagou para Marble intoxicar a cabana dele com afrodisíaco e correu para lá comigo atrás dela? Ou o que vai..." Paulo lhe deu outro soco, dessa vez ele voou para longe, alguém gritou que Paulo tinha ganhado, mas Paulo nem se lembrava do estava fazendo ali.
Candid tinha tocado em Anna. Tinha beijado os lábios dela, tinha corrido suas mãos nojentas pelo corpo dela! Paulo quebraria cada um dos dedos dele, arrancaria seus lábios para fora de sua boca! Ele saltou sobre Candid, mas foi recebido por um soco bem no meio do peito, seu osso pareceu quebrar e Paulo sentiu mais o choque que a agonia da dor, afinal seu sangue estava quente.
"É como eu disse, se quiser ser o passivo da brincadeira, eu como seu cu e o dela." Candid disse se levantando, Paulo foi para cima dele de novo, o acertou com um soco na cabeça, mas não foi de lado como ele queria, Candid percebeu o que ele ia fazer e virou a cabeça, a mão de Paulo bateu bem no meio de seu crânio, três dedos dele se quebraram. Paulo se afastou, Candid sorriu.
"Eu posso ser delicado se você quiser. Eu fui quando o jipe em que eu e Ann estávamos tombou. Eu lambi as feridas dela com muita delicadeza."
Paulo voou nele, ele desviou das garras de Paulo e lhe segurou o pescoço. A dor por ter a pele de sua garganta perfurada, o confundiu por alguns instantes, mas Candid riu, disse que Anna seria uma oponente mais difícil, Paulo puxou o pescoço para trás, esse movimento fez com que Candid fosse banhado com muito sangue, alguns filhotinhos começaram a chorar.
A raiva e o ciúme tomavam Paulo de tal forma que ele voou em Candid de novo mesmo sabendo que estava perdendo muito sangue. Candid tinha se distraído com a manobra suicida de Paulo, então não protegeu sua própria garganta e foi a vez de Paulo lhe socar o gogó.
O osso se desmanchou ante o punho serrado de Paulo, que atacou mais uma vez abrindo um grande corte no lado do tórax de Candid, Candid caiu para trás. Paulo colocou a mão em sua garganta, se concentrou e fez com que seu sangue parasse de circular até que o corte fechasse. Candid cuspiu um monte de sangue, rolou para um lado, para o outro segurando onde Paulo cortou com as garras e Paulo viu que todo mundo estava estático.
Quando Paulo se decidia a morder Candid para parar seu sangue com veneno, Candid saltou uma última vez e lhe garroteou o pescoço.
Paulo se viu num aperto tão forte que sua concentração se foi, logo seu pescoço ainda não totalmente curado voltava a jorrar sangue. Só havia uma forma de escapar. Veneno.
"Paul! Paul, o que está fazendo?" A voz de Anna atravessou aquela névoa de dor e Paulo a procurou com os olhos, ela estava perto da porta, com a luz do sol da tarde atrás dela lhe conferindo uma auréola. Anna era um anjo, o seu anjo e se tivesse que morrer ali, naquele momento, apenas vê-la parada sendo banhada pela luz do sol fazia toda a sua vida ter valido a pena.
"Solte ele, Cam. Agora." Paulo foi solto e caiu em meio ao seu sangue, Candid também caiu, os dois ficaram um sobre o outro no meio do sangue, Paulo não sabia se o sangue era dele ou de Candid.
"Que espécie de pais idiotas vocês são? Deixar Cam e Paul lutarem? Se eu fosse pai de vocês, eu surraria o traseiro de cada um!" A voz que dizia aquilo era idêntica a voz de Candid, então devia ser Honest. Paulo tinha fechado os olhos, ele se sentia muito fraco e seu corpo todo tremia de dor.
"Paul!" Anna disse de longe, Paulo queria muito dizer a ela que estava bem, mas como não estava, ele ficou em silêncio.
Mãos o pegaram, ele foi carregado para algum lugar e depois de uma picada, Paulo finalmente mergulhou na escuridão que lhe amenizou a dor. Seu último pensamento foi que Candid nunca mais ficaria próximo de Anna. Nunca mais.





FILHOTES - LIVRO 3Onde histórias criam vida. Descubra agora