Paulo trocou o peso do corpo de um pé para outro, a ansiedade o consumia, Anna lhe segurou a mão, ele a encarou e o azul calmo dos olhos dela lhe deram a confiança que ele precisava.
"Eu não sei lidar com menininhas, Anna!" Ele tinha dito na noite anterior antes de dormirem, Anna tinha lhe tocado o rosto e dito:
"Você lida muito bem com Maria, como poderia ser diferente com Safira?"
"Maria me conhece desde que ela abriu os olhos e ela não tem muito o que comparar. Basta sorrir, a alimentar e ela fica feliz. Mas... Bom..." Paulo tinha escondido o rosto no pescoço de Anna e suspirado.
"Daisy disse que ela é uma pequena dama. Não se parece em nada com suas irmãs." Anna sempre sabia ler o que ele estava pensando.
"Elas são muito violentas! Muito e todos parecem adorar isso aqui, mas eu não acho uma coisa boa." Paulo até teve pesadelos de quando teve de separar Mild e Remo num dos muitos churrascos que sempre aconteciam à beira do lago.
Anna tinha beijado a boca de Paulo e depois disso, Paulo tinha dormido algumas poucas horas. Assim que o sol brilhou, Paulo correu para o saguão de entrada da Reserva.
Anna veio carregando Maria em seus quadris pouco depois, Silas e os trigêmeos demoraram uma hora mais ou menos para aparecerem.
Paulo já tinha andado de um lado a outro do saguão, já tinha comido a carne que sua mãe tinha trazido, já tinha lido um manual de termos científicos de Forest, porém ele ainda continuou muito nervoso, então, Anna lhe entregou Maria adormecida e o abraçou numa tentativa de fazê-lo ficar parado.
As portas se abriram, o gigante loiro foi a primeira pessoa que Paulo viu, até porque ele vinha à frente usando seu enorme corpo como proteção para as duas meninas atrás de si.
"Kabir." Niyati disse, Paulo olhou para seu lado direito e notou que o saguão estava lotado, coisa que ele não tinha nem percebido.
O gigante se aproximou de Niyati e se ajoelhou, a pequena mulher colou sua testa à dele.
"Kabir obedece, levaram Aruna, Kabir sofreu muito. Irmão de Kabir fez Kabir devolver Aruna. Aruna de volta."
Paulo não entendeu como Kabir tinha trazido Aruna de volta, mas Niyati o beijou nos olhos agradecida de uma forma tão doce que dispensava qualquer detalhe ou explicação. Paulo voltou seus olhos para a porta e olhos idênticos aos seus se fixaram nos dele, ele deu alguns passos e ficou ante ela.
Sua filha. Linda! Ela devia ter uns cinco anos, era alta e magra, os cabelos negros e cacheados iam até seus quadris. Ela vestia um lindo vestido rosa, rendado, até os sapatos dela tinham laços de fita. Paulo sorriu ao ver os enfeites de prata ou algo parecido em seus cabelos, mas ficou sério ao ver luvas rendadas também cor de rosa nas mãozinhas delicadas.
"Você está de luvas porque..."
Ele disse, Safira sorriu e respondeu:
"Por que eu acho que esse vestido pede luvas. Dá um ar mais delicado, sabe? A saia é pesada, muito rodada." Ela disse e girou o corpo fazendo a saia do vestido girar junto com ela.
"Cara, como você corre com uma saia dessas?" Sweet se aproximou e perguntou, Safira a olhou de cima a baixo, Paulo acabou por olhar para sua irmãzinha também. O contraste entre Sweet que vestia um conjunto velho de moletom rasgado nas pernas das calças e sem as mangas e Safira era enorme.
"Se você é capaz de sair de casa vestida desse jeito, acho que eu seria capaz de correr usando um vestido. Não que eu precisasse correr para alguma coisa, ou não há carros aqui?" Ela perguntou, Sweet piscou os olhos amarelos, Paulo se esticou, mas Charity puxou Sweet para uma cadeira evitando que a resposta ríspida que parecia estar nos lábios de Sweet estragasse o clima.
"Oi, somos seus irmãos." Silas disse se aproximando com os trigêmeos, Safira olhou para ele, sorriu, olhou para os trigêmeos e acenou.
"Sou mais velha que vocês?" Ela perguntou com naturalidade, Paulo olhou para Anna buscando nos olhos dela alguma idéia do que pudesse dizer à sua filhinha recém chegada.
"Sim. Você é maior em tamanho e nunca que iríamos ser menores que você a menos que você seja mais velha." Apolo disse, Timóteo sorriu.
"É. Fêmeas sempre são menores e mais fracas que os machos." Alexandre falou olhando para Safira por sobre o nariz.
"Vocês estão sentindo meu cheiro? Por que eu sinto o de vocês." Safira disse num tom de desafio, Paulo inspirou e só então notou que não, não estava sentindo o cheiro dela.
Silas franziu as sobrancelhas, os trigêmeos se olharam com os olhos apertados, mas a mãe de Paulo, que tinha muito tato ao lidar com crianças, riu e disse:
"Baunilha! Quem liga para seu cheiro se eu posso sentir meu cheiro preferido quando te abraço, hã?" Ela disse se abaixando pegando Safira em seu colo e a abraçando com força.
Safira a abraçou de volta, mas não havia muito carinho em seus olhos, coisa que fez Paulo olhar novamente para Anna.
"Você ficou sabendo de sua irmãzinha?" Anna perguntou, Paulo, que tinha acomodado Maria em seu ombro, se abaixou quando Safira se aproximou dele depois que a mãe de Paulo a colocou no chão.
Safira tocou os cachinhos negros da cabecinha de Maria bem levemente, Anna também se abaixou e perguntou com voz doce:
"Você gosta de bebês?"
Safira a encarou, Paulo se sentiu incomodado com o brilho frio nos olhos dela ao olhar para Anna.
"Não necessariamente. Eu e Aruna estávamos ansiosas para que a filhotinha de Moses nascesse, mas eu particularmente não iria querer ter de trocar as fraldas ou dar-lhe banho. Talvez escolher as roupinhas que..." Ela piscou, pois Maria só usava uma fralda.
"...Que ela poderia vestir." Ela completou dando um passo para trás.
"Filhotinhas bem novinhas não gostam muito de roupas." Anna disse com um sorriso meio sem graça no rosto.
"Ela é muito nova para escolher, já pensou nisso? Bastava que você a vestisse, eu duvido que ela iria tirar a roupa ou um enfeite bem bonito que você colocasse em sua cabeça. Mas, tudo bem, bebês devem ser cansativos."
Mild e Sweet riram, Safira as olhou com uma sobrancelha arqueada, Sweet, tinha de ser ela, retrucou:
"Você não sabe nada sobre bebês, sua metida! Maria não gosta de roupas e sim, ela é esperta o suficiente para tirar qualquer roupa ou enfeite idiota que ela não quiser vestir ou usar."
Safira sorriu de forma condescendente e disse:
"Claro, claro... Talvez Maria seja mesmo assim. Por enquanto. Como estou aqui, agora ela terá alguém para se inspirar."
Ela disse olhando para todas as mulheres que estavam no saguão.
"Que tal nos apresentarmos?" John disse, Paulo ia sorrir a ele agradecendo quando Safira respondeu:
"Não precisa. É muita gente e muitos nomes para lembrar, acho melhor ir conhecendo vocês aos poucos. Vovó e Vovô, Tio e Tia mais velhos, papai e irmãos..." Ela disse distribuindo lindos sorrisos a quem ela ia se referindo.
"... Eu sei seus nomes e acho que para começar está muito bom. Ah, eu também sei seu nome e quem é você." Ela disse para Anna sem sorrir.
"Na verdade seu tio John estava falando do ato educado de se cumprimentar a todos. De trocar gentilezas e de mostrarmos nossa intenção de que você se sinta bem recebida entre nós. Mas, sendo criada por quem você foi, não me surpreende que..." A mãe de Anna não a deixou terminar:
"Que tal irmos para o refeitório? Safira, querida, preparamos um ótimo café da manhã de boas vindas para você e Aruna." Ela disse, Safira sorriu para ela, aceitou sua mão e saiu do saguão andando com um porte régio.
Aruna riu e sussurrou para Niyati que Paulo e Anna iriam se arrepender de terem trazido Safira para a Reserva, Shanti deu um cascudo nela, as duas saíram abraçadas, Aruna já estava até com a filhotinha de John no colo.
Anna o olhou, ele lhe beijou a testa se sentindo meio bobo por não ter falado quase nada com Safira.
"Ela é..." Ele começou a dizer, Anna bufou.
"Não se preocupe, não vai demorar muito para que eu e Safira estejamos penteando o cabelo uma da outra." Ela sorriu, mas Paulo viu um pequeno brilho de indecisão em seus olhos.
"Sim, eu sei, meu amor. É só que... Ela..." Anna o beijou nos lábios, um beijo que fez todo o medo de Paulo de que Safira não gostasse dele se evaporasse.
"Ela é senhora de si, convencida, extrovertida, um pouco mal educada, mas que Deus me perdoe, eu estou a ponto de sair voando de tanto orgulho dela! Isso é horrível, não é?" Ele disse segurando o rosto de Anna com sua mão livre, Anna riu.
"E você viu como ela colocou Sweet em seu lugar?" Anna disse com um sorriso ainda maior que o de Paulo.
"Nós vamos precisar de ajuda, Anna. Devemos ter algum problema se estamos felizes com o comportamento de Safira." Paulo disse passando Maria para Anna.
"Ela só precisa ser tratada com rédea curta. E só vamos nos orgulhar dela quando estivermos sozinhos, ok?"
Paulo olhou para Anna segurando Maria nos braços e sorriu.
"Eu te amo tanto, sabia? Amo demais, amo com loucura! Eu sinto que posso fazer qualquer coisa com você ao meu lado, até mesmo educar uma menininha voluntariosa, que tem uma resposta na ponta da língua para tudo."
"Se continuar falando essas bobagens e Maria continuar dormindo..." Ela insinuou, Paulo a pegou nos braços com Maria e tudo, logo eles chegavam no refeitório.
Lá, a mãe de Kit levava Safira de grupo em grupo e Paulo a viu ser respeitosa e encantadora com todos. Talvez a reprimenda que Anna passou nela tinha surtido efeito, já que ela até repetia os nomes das pessoas que ela achava estranho ou não entendia.
Ele e Anna se sentaram à mesa a qual seus pais já estavam sentados, a mãe dele amamentava Tanure, seu pai estava com Hold no colo, seu irmãozinho sugava uma grande mamadeira de leite.
"Você terá de ter muita paciência com ela, Ann. E principalmente afastá-la de Kit." Sophia disse, Anna riu.
"Ah, não, Madrinha! Não me diga que está com ciúmes da mamãe!"
"Kit, não é o problema, Robert e sua carteira sem fundos que são. Acredita que ele prometeu a Safira um cachorro robô?" O pai de Paulo disse com sua cara fechada, Anna gargalhou.
E assim o dia passou com muitas risadas e brigas entre os pais de Paulo e os de Anna.
Quando levaram Safira para a casa de Justice, ela olhou para a decoração e assentiu com a cabeça, mostrando admiração, Silas perguntou se ela esperava uma cabana de um quarto só, Safira disse que não, disse que esperava que fossem dormir numa árvore, os trigêmeos riram, Silas a ignorou, deu boa noite e se retirou puxando os pestinhas pelos cabelos.
Anna também deu boa noite e foi para o quarto, Paulo se viu sozinho com Safira na sala.
"Nós não conversamos muito." Paulo disse, Safira foi até a estante e pegou um vaso muito bonito que enfeitava uma das prateleiras.
"É." Ela se afastou indo até uma mesinha estreita que ficava perto da porta de entrada, retirou o grande porta retratos que estava sobre a mesa, colocou o vaso no lugar e olhou em volta com o porta retratos nas mãos.
"Querida, essa casa não é nossa e..."
"Sim, eu sei. É deles, não é? Você não acha meio esquisito entrar aqui e dar de cara com eles? É como se não quisessem que esquecéssemos que a casa é deles."
Paulo nunca tinha pensado nisso, sempre que ele passava pela porta e via os rostos sorridentes de Jessie, Virtue e Justice, ele se sentia grato pela gentileza deles.
"Não vejo por esse lado. Eu sempre me sinto grato ao entrar e vê-los no retrato."
"Sim, eu te entendo. Você tem um coração bom, eu sinto isso e me alegro. Silas e os trigêmeos também herdaram sua bondade. Já eu... Eu não sei. Quando vi a beleza e modernidade da decoração daqui, eu só quis fingir que essa casa era sua, não que era uma casa emprestada. Acha que sou má?"
Paulo se ajoelhou ante ela, Safira o olhou os olhos, Paulo viu que ela não era tão segura de si como parecia, na verdade, Paulo viu medo nas profundezas azuis daqueles lindos olhos. Medo de ser rejeitada, de ser ridicularizada.
"Não. Eu te acho muito bonita e inteligente. Acho talvez que não precisava ser tão..."
"Desagradável?" Ela completou por ele, Paulo lhe segurou o rostinho.
"Não! Você não foi desagradável, querida! Acho que você nunca poderia ser desagradável, nem se você quisesse!" Ela riu e Paulo se sentiu feliz por ver o brilhinho levado nos olhos dela novamente.
"Não aposte seu dinheiro nisso, você parece ser bem pobre. Eu e Aruna tivemos de ser fortes e sim, eu não tenho muito tato, mas por você e até pela Ann Sophie eu vou tentar ser educada."
"Está bom pra mim." Paulo disse.
Ele a guiou para o quarto que Anna separou para ela, Safira novamente mudou algumas coisas de lugar.
"Tio John pintou isso?" Ela apontou para um grande quadro que mostrava uma casa no alto de uma colina. Havia uma menina ruiva na janela, Paulo não tinha visto o quadro antes, então, foi até ele e tocou no rosto da menina.
"Jessie." Ele disse.
"Sim. Eu a conheci, sabia? Ela fazia parte do grupo que nos trouxe da casa em que estávamos até Homeland. Essa casa deve ser dos avós dela."
Paulo sorriu, Safira sorriu de volta.
"Você é muito habilidosa."
"Sou. Tudo bem que Tio John assinou seu nome no cantinho da pintura, mas os olhos de Jessie mostram que ela está voltando a essa casa depois de um longo tempo longe. As cores que Tio John usou também evocam nostalgia, saudade e carinho, além do olhar travesso de Jessie. Eu teria um olhar assim se estivesse na casa de meus avós."
"Acho que você vai gostar bastante da casa de sua avó Kit. Já a casa da minha mãe..." Paulo disse enquanto a observava entrar no banheiro.
Ela tomou banho, saiu com uma enorme toalha enrolada nos cabelos e outra em volta de seu corpo, pegou o pijama que estava sobre a cama, voltou ao banheiro, o vestiu e saiu secando os cabelos com um secador.
"Posso?" Paulo perguntou apontando para o secador, ela se sentou na beirada da cama e o entregou a Paulo.
Ele secou os lindos cabelos cacheados dela em silêncio, Safira também não disse nada. Era um silêncio confortável, tanto que quando os cachos negros estavam secos, Paulo desligou o secador com um suspiro de pesar.
"A casa de Vovó Sophia deve ser mais divertida que a casa da Vovó Kit, assim como a casa da Vovó Kit deve ser mais bonita e chique. Eu fico feliz por ter duas casas de vovó bem distintas. Só não vou deixar barato se uma das gêmeas sibilarem para mim."
Paulo riu, ela torceu os lábios delicados.
"E não vou deixar que fiquem muito tempo perto de Maria. Já pensou se Maria acha legal se vestir como elas? Ah, e por falar nisso, como Noah é rico, eu já encomendei alguns lindos vestidos para ela, tudo bem?"
Paulo ficou confuso, Safira riu dessa vez.
"Eu demorei um pouco, mas descobri que quem estava na nossa casa não era o Moses. Eu o chantageei, ele me deu uma de suas senhas de banco. Minha roupa foi toda encomendada pela internet, sabia?"
Paulo mais uma vez não soube o que dizer. Ele devia repreendê-la, claro que devia, onde já se viu, uma menininha como ela fazer chantagem! Mas ele estava tão feliz!
E Paulo não disse nada sobre a tal chantagem enquanto via sua filha arrumar a cama para dormir. Ela retirou as almofadas da cama, o cobre leito e só então se deitou. Paulo lhe tocou o rosto, ela fechou os olhos, ele suspirou e ia saindo do quarto quando ela o chamou:
"Pai..."
O coração de Paulo pulou em seu peito, ouví-la chamá-lo de pai foi tão ou mais maravilhoso do que quando a viu pela primeira vez.
"Sim, querida?"
"Você poderia dormir comigo hoje? Ann Sophie está deitada com Maria, ela não vai ficar sozinha."
"Claro que sim, minha filha." Paulo disse se deitando na cama, de lado, de frente para Safira que também tinha se deitado de lado.
"Você é tão bonito! Anna Sophie também é bonita, mas..."
"Mas..." Paulo ergueu uma sobrancelha, Safira suspirou.
"Acho que é verdade que quando amamos alguém, ninguém parece estar à altura desse alguém. Mas os pais dela são ricos, então..."
"Safira!"
"Eu gostei dela, pai! Ela até se veste melhor que as mulheres daqui. Eu só talvez esteja com um pouquinho de ciúmes."
Paulo acabou rindo, ela riu também.
O cheiro dela, aquele cheiro delicioso que só ela poderia ter, encheu as narinas de Paulo, ele quase chorou quando disse:
"Estou sentindo seu cheiro e é muito bom."
"Eu sei. O seu também não é dos piores." Safira disse e fechou os olhos.
Paulo se preparou para mais uma noite sem dormir. Como fechar os olhos se sua filha preciosa estava diante deles?Desculpa, gente!!!!
Eu fiquei muito tempo sem escrever, tanto que as idéias foram sumindo. Mas estou de volta, viu?
Essa história está chegando ao fim e estou cheia de possibilidades para a próxima, então se quiserem dar sugestões esse é o momento!
❤️
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FILHOTES - LIVRO 3
FanfictionQue tal não dizer o nome da protagonista dessa nossa nova história? Não vai demorar para saberem, mas até lá vou tentar escrever um pouquinho do dia a dia da Reserva, foi uma dica de uma leitora querida e sim, acho que vai ser divertido ver vocês te...