Daisy acordou saltando da cama. Ela olhou em volta e percebeu que ainda estava num dos quartos da casa de Honor, o de Heitor, que também era de Romulus e Remo. Sua filhotinha...
É claro! Pansy estava com Honor na área de lazer. Daisy suspirou, puxou os cabelos e ia descer para lá quando os olhos frios de Noah estamparam sua mente e sua cabeça girou.
Ela não ficou desmaiada por muito tempo, lógico, Daisy não era uma donzela confusa em apuros, não era mesmo, mas ela passou grande parte da noite acordada pensando furiosamente em Noah, em Moses e, que Deus a perdoasse, em uma forma de esfolar Simple.
Por que aquela história ridícula só poderia ter saído da cabeça idiota dele, do super cérebro mais imbecil que ela conhecia. Ela dormiu apenas quando a madrugada chegou.
Sim, Simple, Candid e Honest passaram toda a infância enganando todo mundo e Daisy era uma das que mais era enganada na família deles. Depois de James, mas James era racional demais, sua cabeça era muito dura e não havia uma razão lógica para os trigêmeos fazerem aquilo, então, como nunca se importou com isso, era impossível saber se os pestes o enganaram ou não. E também havia Honor que era enganado ainda nos dias de hoje, mas o faro dele sempre foi pífio.
Violet. Ela sabia quase sempre quem era quem. O pai deles também com certeza nunca foi enganado. Joe? Ah, Joe era um dissimulado de marca maior, ele devia fingir que não sabia distinguir cada um dos três idiotas.
Daisy tomou um banho revigorante, ela sabia que estava ocupando sua mente com essa besteira que seus irmãos fizeram para se forçar a esquecer sua descoberta.
Noah era Moses. Ou aquele Noah que ninava Pansy no telhado era Moses se fingindo de Noah.
Daisy vestiu um conjunto de moletom de Heitor sorrindo com o fato de que ele já estivesse tão grande, trançou os cabelos e ia sair do quarto quando seu nariz captou aquela sensação incômoda a direita de onde ela estava. Valeriana.
Alguém estava usando valeriana. Daisy atravessou o quarto, saiu para a varanda e se espreguiçou fazendo bastante barulho, Honor, Pansy, Livie e os filhotes sorriram e lhe deram bom dia, Daisy retribuiu o aceno e subiu as escadas para o telhado. Pansy estava agarrada aos cabelos de Honor e só sorriu de longe para ela, Daisy entendeu que sim, sua filhotinha teria de ser dividida com Honor e Livie.
No alto do telhado, Daisy ergueu o rosto para o sol deixando os raios solares aquecerem seu rosto, era algo que ela como felina adorava fazer. Sol e alturas, esses eram os tesouros dela.
Ela inspirou fortemente enchendo os pulmões com o ar fresco do alto da montanha e localizou exatamente o ponto de onde o não cheiro de valeriana vinha.
Daisy sorriu se lembrando das anotações de Simple.
"Valeriana.
pode ocultar o cheiro da superfície onde for aspergida ou aplicada. É um potente antisséptico, o melhor conhecido, já que mata cem por cento dos microorganismos a que entra em contato. Esse é o seu poder de ação,valeriana quebra as moléculas que compõem os odores, fazendo com que nossos órgãos olfativos tenham dificuldade de captar o odor do ser ou objeto coberto por ela.
Ainda que sua ação seja potente, não é imperceptível, pois onde não houver contato com a valeriana ainda estará desprendendo odor o que faz com que o lugar ou ser ou objeto embebido em valeriana seja facilmente detectado, já que um nariz sensível pode diferenciar os diferentes cheiros do ambiente e facilmente pode perceber que há algo encoberto."
Ela sorriu, Simple era só um filhotinho quando escreveu aquilo, ele nem tinha posse da fórmula da valeriana. Agora, ele, ou melhor, Candid, produzia sua própria valeriana e a passava em todas as suas coisas.
Ela se sentou na direção oposta a que percebeu o lugar onde quem usava valeriana estava. Seria Noah? Moses?
Essa era sua principal dúvida. Ela tinha em seu coração a certeza de que quem estava no dia anterior na casa de Honor era o mesmo macho que... Daisy engoliu em seco e se forçou a expulsar de sua mente os momentos que passou com Moses. Pensar em seu toque, pensar no modo selvagem com que ele a tocou não era recomendado, ela poderia simplesmente esquecer que foi enganada, que foi sequestrada, que foi seduzida...
Não, seduzida não! Não, não, mil vezes não! Ela não foi seduzida, ela não estava vinculada!
"NÃO!!!"
Daisy rugiu a palavra, a dor de ter sido coagida, os horrores que ela presenciou naquele lugar, tudo veio sobre ela e ela rugiu novamente. Em meio a raiva e a ânsia por fazer quem quer que estivesse observando-a escondido em pedaços, ela se virou para a direita, mas não o viu. Não, afinal ele era um covarde que ficava à espreita.
"Tia Daisy?" Sheer se aproximou, Daisy voltou a se sentar na beirada da plataforma e jogou a cabeça para trás, para que o sol a queimasse no rosto. Ela já estava sendo consumida pelas chamas de seu ódio, aquele calor do sol não era páreo para o calor que a queimava por dentro.
"Está sentindo, Sheer? Alguém está nos observando. À direita." Daisy disse, Sheer, que tinha se sentado, se levantou.
Daisy inspirou e o incômodo foi diminuindo até que seu nariz foi inundado com o cheiro de tudo o que havia naquele lugar. Tudo. Nada mais estava encoberto.
"O que quer que você sentiu eu não senti, Tia." Sheer disse se sentando novamente.
Daisy empurrou uma mecha de cabelos vermelhos escuros para trás da orelha dele, ele sorriu, Daisy sentiu vontade de chorar. Porque os cabelos dele eram exatamente da cor dos cabelinhos de Pansy. Vermelhos escuros, uma mistura dos cabelos vermelhos de Valiant e dos cabelos negros de Tammy, já no caso de Pansy o tom escuro de seus cabelos veio dos cabelos negros do pai dela. De Moses.
Ou melhor, de Vengeance. Exatamente como os cabelos de Noah.
"O que foi, Tia? Tanto papai quanto Tio Honor disseram que nunca te viram desmaiar, na verdade, há até uma aposta." Ele disse e riu, Daisy riu também.
"Eu achei que Noah era Moses." Daisy disse simplesmente, Sheer assentiu.
"Você o odeia, Tia?" Sheer perguntou, Daisy encostou sua cabeça no ombro forte de seu sobrinho e suspirou.
"Sim e não. Ele me deu Pansy e..."
"Ele não te deu Pansy! Nunca diga isso, Tia!" Daisy se assustou com a ferocidade com que Sheer disse aquelas palavras e afastou seu rosto do ombro dele.
"Sheer?" Ela não entendia por que aquele acesso de fúria repentina, Sheer era doce, tão doce! O que teria mudado?
"Desculpa. Eu vou descer, eu só vim ver se você está bem."
"Sheer... Pansy é também dele, eu não posso fingir que não é. Eu sei que isso é terrível, eu já me entristeço por ter um dia de contar a ela o lixo que o pai dela é, ou foi, mas eu sei que ela será como eu, Pansy nunca irá fugir das coisas que a farão sofrer, ou da dor, ou... Ou do amor. Ela é filhote de um clone malvado, fingido, insensível, depravado e tudo o mais, mas ela também é minha. Ela é neta de Valiant, o grande Leão, prima de Sheer, o leão do coração doce. Isso terá de bastar. Ela não é a primeira pessoa que veio ao mundo sem planejamento, ou pior, através de uma manobra trágica."
"Sim, Tia. Eu também vim ao mundo através de um acordo horrível. E eu sou feliz, Lily é ainda mais feliz que eu, Pansy será mais feliz que todos nós, eu te garanto isso."
Daisy assentiu, Sheer tinha sido gerado por ordem de Evan Graham, o monstro que criou Livie, sua concepção veio de um ato de amor, mas também de um acordo.
"Eu sei. É só que..." Daisy parou de falar, ela não queria abrir seu coração para Sheer, ou para qualquer um que fosse. Ela tinha que tomar uma linha de ação, mas se sentia paralisada, impotente. E isso era tão estranho para ela! Ela não era uma fêmea de pensar muito em como agir, mas ela sentia que tinha de conter seu lado impulsivo e selvagem.
"É só que seu coração está no comando e isso nunca aconteceu, não é?" Sheer disse olhando para longe, Daisy não entendeu o que ele disse, então pediu:
"Me explica isso, Sheer. Como assim? Se existe alguém que age com o coração essa sou eu." Sheer riu de leve, Daisy ficou a espera.
"Agir com o coração é diferente de ser guiado por ele, tia. Cuidar de uma pessoa doente com todo carinho é diferente de doar suas córneas a ela, por exemplo."
Sheer não era de falar muito. Ele estava sempre sorrindo, sempre pronto a fazer o que quer que fosse preciso, era amável, gentil e isso não exigia palavras. Seus olhos azuis eram doces e calmos, seu corpo gigante e forte não representava uma ameaça. E só naquele momento Daisy percebeu que ele estava falando pouco, mas estava tocando algo bem no fundo do coração dela.
"Você está dizendo que cuidar de alguém, ou protegê-lo, ou alimentá-lo, ou ainda seguí-lo é agir com o coração, mas sacrificar sua visão, ou talvez a própria vida..."
"É ser guiado pelo coração, ou pelo amor, se você preferir. Significa que estamos prontos a entregar o que temos de mais precioso. Entregar tudo o que temos e somos." Ele disse cravando os olhos azuis em Daisy, mostrando a ela o que lhe ia na alma. Daisy viu o que havia por trás daquela doçura e bondade e seu coração chorou.
"E o resultado pode..." Ele parou de falar por um segundo e sua voz estava triste, muito triste quando concluiu:
"O resultado pode ser nossa ruína."
"Sheer... Você está falando de Missy?"
Daisy e ele nunca tinham conversado sobre Missy, sobre sua morte. Ela não teve forças antes para consolá-lo, ela se sentia fraca e inútil sempre que pensava que não tinha conversado com seu sobrinho sobre aquela tragédia, não tinha tido palavras para ajudá-lo a superar aquela dor.
"Não." Ele sorriu. Um lindo sorriso mostrando suas presas poderosas, Daisy se sentiu melhor.
"Minha história com Missy teve começo, meio e nunca terá fim, tia. Eu me vinculei a ela, ela foi e sempre será a melhor coisa que eu vivi e que viverei. Não acho que alguém possa tocar meu coração como ela tocou e ainda toca. E isso me basta."
Daisy arregalou os olhos, como assim? Como Sheer podia ter se vinculado, ele ainda era pouco mais que uma criança!
"Você não pode ter se vinculado, querido. Com o tempo, você vai encontrar..."
"Tempo? O que entendemos do tempo, tia? Falamos de tempo como se ele fosse uma linha a qual trilhamos, sempre em frente, sempre avançando, até que morramos e ele cesse, mas isso não é o que o tempo é." Ele disse, Daisy balançou a cabeça. Ela não era tão inteligente para acompanhar aquele tipo de conversa.
"O tempo que eu e Missy passamos juntos valeu para uma vida inteira. Cada dia que nasce, cada vez que o sol se levanta no horizonte, é um dia para celebrar o que eu e ela tivemos, para me lembrar de nossas conversas, lembrar do sorriso dela! Está por toda parte, tia!" Ele disse e se levantou.
"Ela ainda beija meu rosto usando a brisa. Quando estou distraído, Missy usa o vento para bagunçar o meu cabelo. Ela usa Aquiles para sorrir para mim, usa Cupcake para lamber meu rosto, Bean para morder minhas canelas. Missy usa a água do lago para envolver meu corpo, usa o calor das chamas para me aquecer no inverno. Ela nunca se foi."
Uma lágrima caiu no colo de Daisy e ela percebeu que estava chorando apenas quando isso aconteceu.
"Sheer..." Ela disse, mas as palavras dele fizeram tanto sentido dentro dela que Daisy não achou palavras.
Por que era exatamente isso que ela sentia. Toda a raiva, toda a mágoa, todo seu senso de justiça, nada se comparava a vontade de correr para os braços de Moses e apertá-lo entre os dela.
Nada tinha importância, tudo parecia tão pequeno, vazio, ante o simples fato de receber aquele sorriso de lado dele.
"Eu me vinculei..." Ela sussurrou.
"E tudo parece tão distante, não é? Só estar com ele é que importa, estou certo?"
Daisy sorriu, Sheer sorriu.
"Ele não sabe..." Daisy não terminou o que ia dizer porque se Noah tivesse se passado por Moses, se quem estava naquela mansão com ela foi Noah e não Moses, isso mudava tudo.
"E quem sabe amar, tia? Qualquer um que não sinta como eu me sinto acerca de Missy não é capaz de me entender. Para todas as outras pessoas do mundo só é possível amar alguém vivo. Muitos vêm o amor como uma parceria, uma vida conjunta, onde a morte está fora da equação. Mas eu amo Missy e sempre vou amar. Eu vou viver muito, eu quero fazer tantas coisas! Cada conquista minha será para ela. Cada vez que o ar entra pelos meus pulmões eu sinto o cheiro dela." Sheer sussurrou as últimas palavras com os olhos fechados, como se estivesse rezando.
"Obrigada, meu querido. Obrigada por me fazer ver que o amor é muito mais do que pensamos que é."
"Eu só disse isso para que você se liberte dos seus preconceitos, tia. Moses não é páreo para você, já pensou nisso? Ele é mau? Dê uma surra nele todo dia, até ele se tornar bom." Eles riram, Sheer colou sua testa a de Daisy e disse:
"É só falar e eu o trago." Daisy olhou nos olhos dele, estavam violetas, uma lágrima vermelha desceu pelo cantinho do olho esquerdo.
"Vou... Vou pensar nisso."
Sheer beijou a testa de Daisy e saltou do telhado, pousando seus dois metros e oito centímetros de puro músculo no chão sem fazer nenhum barulho. Ele se virou acenou e correu, Daisy riu quando Livie gritou que ele tinha de ajudá-la a dar banho nos gêmeos e Sheer aumentou a velocidade praticamente sumindo no ar.
Daisy ergueu seu rosto para o sol contente por ter uma linha de ação.
Se o macho a qual ela se vinculou fosse realmente Moses se passando por Noah, bem debaixo do nariz de todo mundo, ou melhor de alguns narizes, afinal, não era possível enganar Simple, ela faria como Sheer sugeriu, iria esperar que com todo o amor de seu coração e talvez com a força de seus punhos ele mudasse. Até porque se ele estava ali, era com a benção de Simple.
Daisy travou os dentes de raiva, ela tinha que dar um sacode em Simple, ela tinha de quebrar pelo menos uma perna daquele idiota!
Daisy saltou para o chão, revirando os olhos quando fez barulho ao pousar, e entrou na casa.
Quando Pansy saltou para os braços dela e quase rasgou a camiseta que ela vestia procurando seu seio, Daisy sorriu, alisou os cabelinhos vermelhos escuros pensando no que faria se fosse Noah que tivesse ido para a mansão de Oswald. Se fosse ele que esteve ao lado dela naquela aventura e agora simplesmente tivesse voltado para a Reserva, o que ela faria?
VOCÊ ESTÁ LENDO
FILHOTES - LIVRO 3
Fiksi PenggemarQue tal não dizer o nome da protagonista dessa nossa nova história? Não vai demorar para saberem, mas até lá vou tentar escrever um pouquinho do dia a dia da Reserva, foi uma dica de uma leitora querida e sim, acho que vai ser divertido ver vocês te...