CAPÍTULO 47

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Pansy nasceu em meio à muita dor, Daisy estava praticamente sem sentidos quando Honest colocou sua enorme filhote sobre seu peito.
Ela gritava e esperneava, Candid tentou fazê-la se calar alisando seu rosto, Pansy o mordeu com tanta força que quase lhe arrancou um dedo. Ele rugiu, Daisy e Honest riram.
"Isso! Eu sou seu padrinho, meu amor, e não é pra dar atenção para esses dois idiotas, tá?" Honor disse, Pansy parou de chorar na hora, e o procurou com os olhinhos de diamante.
"Aqui, meu amorzinho. Vem com o padrinho." Ele disse, a pegou no colo, a beijou e a devolveu para Daisy, dizendo que ela ficasse quietinha, Pansy obedeceu.
"Eu fiquei de olho nesses idiotas e quando ouvi que ligaram o helicóptero, exigi que me trouxessem." Ele tinha dito a Daisy quando ela tinha gritado de dor e as mãos enormes dele lhe acariciaram as costas.
Daisy sorriu para sua filhotinha, Pansy sorriu de volta, Daisy abraçou a escuridão que alguma droga que seus irmãos aplicaram nela proporcionou.
Quando acordou, era Olga que estava no quarto ninando Pansy, Daisy se sentou na cama, Olga a ajudou a se ajeitar para que Pansy mamasse. Sua filhotinha sugou seu seio com muita força de uma vez só, Daisy arregalou os olhos, Olga riu.
Depois que Daisy tinha se acostumado com a incômoda e dolorosa sensação de ter Pansy lhe sugando leite, Olga lhe segurou uma mão, seus olhos mostravam que era a hora da despedida, Daisy sentiu uma ardência detrás de seus olhos.
"Não, não chore, bobinha! Nós ainda iremos nos ver. Eu e Stirling juntamos muita informação, isso será nosso passaporte de fuga. Não precisaremos ficar isolados numa ilha para sempre, eu mesmo quero muito conhecer Cherry e Poppy!"
"Não recomendo." Simple disse entrando no quarto, Olga abriu a boca e se esqueceu de fechar.
"Oh, meu Deus! É você mesmo?" Olga disse, Simple sorriu seu sorriso amistoso, Olga teve de se sentar.
"Stirling disse que você poderia aparecer, eu não acreditei nele! Por que você parece tão abatido?" Ela foi até o irmão de Daisy e lhe tocou as olheiras, Simple a beijou na testa.
"Eu devo as vidas da minha irmã e da sobrinha a vocês, Olga. Muito obrigado. Saiba que manter você e Stirling seguros será uma das minhas prioridades." Simple disse usando seu tom solene, Daisy sentiu o poder naquelas palavras.
"Moses nos pediu ajuda. Não dá pra dizer não a ele, mas eu gostei muito de conhecer Daisy e, sem ofensa, querida, gostei mais ainda de conhecer você." Ela disse, Daisy bufou, Simple riu.
"Não foi nem uma, nem duas vezes que você arruinou aqueles escrotos. Todas as vezes que você fez isso, eu e Stirling comemoramos." Ela disse com um grande sorriso no rosto.
"O helicóptero de vocês está pronto. Nós nos veremos de novo, Olga."
"Da próxima vez então, não encoste nela, ok?" Stirling disse entrando no quarto.
"Eu não sou bom em despedidas, então..." Ele acenou para Daisy e Simple, os dois saíram do quarto abraçados.
Daisy deixou uma lágrima descer pelo seu rosto, triste por ter de se separar deles. Foram poucos dias juntos, mas eles ajudaram muito, Pansy estava viva e bem graças a eles.
Simple se sentou na cama, segurou uma das mãos de Daisy e beijou a cabeça de cabelos vermelhos escuros de Pansy.
"Pode me perdoar? Eu sei que você é durona, você e Violet são muito mais ferozes que todos nós juntos, mas ainda assim, eu peço seu perdão."
Pansy sugou com tanta força, Daisy gemeu e Simple a ajudou a colocar Pansy no outro seio. Assim que a dor passou para o outro seio, Daisy sorriu.
"Eu não sabia que doía tanto."
"Não dói, D. Isso é culpa minha. Você se estressou durante toda a gravidez, isso prejudicou seu corpo na produção de leite. Será só por uns dias."
"Tudo bem então. Não foi sua culpa Moses ter me engravidado. Nem quando ele fez Thea me atrair para a lanchonete."
"Mas você me perdoa? Eu preciso ouvir que você me perdoa, D."
"Sim, seu chato, eu te perdôo."
O sorriso que Simple a brindou a fez sorrir de volta, era seu sorriso de criança, o sorriso que ele lhe dava quando ela lhe fazia pipoca, ou quase vencia Honest numa luta. Simple sempre torcia para Daisy quando ela e Honest se agarravam.
"Tá bom, agora eu cuido dela, Sai, Simple."
Simple o olhou apertando os lábios como Cam fazia, Honor piscou confuso, Daisy riu.
"Vocês nunca param com essa merda! Romulus e Remo pegaram essa mania, eu já desisti de tentar saber quem é quem!" Ele disse e rosnou, Daisy riu.
"Onde já se viu um pai confundir os filhotes? Como você pode ser tão idiota?"
"Espere até você começar a comer a comida de Pansy! Aí eu..."
"Por que eu comeria a comida da minha filhote?"
"Você come tanto que eu não me surpreenderia se fizesse isso." Daisy rosnou, Simple riu.
Eles ficaram ainda mais um dia no tal castelo, Daisy e Pansy foram apresentados aos parentes de Stirling, todos se encantaram com elas.
É claro que Candid fez a festa entre as fêmeas humanas, tanto que na hora da despedida duas começaram a lutar no heliporto, o Conde disse que Cam estava banido das terras dele.
A chegada na Reserva foi alegre e cheia de lágrimas, Daisy passou a próxima semana sendo visitada, todos se encantaram com Pansy.
Duas semanas depois de Daisy ter voltado, Maria, a filhotinha de Ann Sophie e Paul nasceu, Daisy se sentiu feliz por eles e aliviada de que agora a casa a ser invadida por todos os moradores da Reserva seria a do Tio Justice.
Daisy foi vê-la, quando Paul colocou a linda filhotinha negra em seus braços, Daisy chorou pensando em Safira. Maria era igualzinha a ela, não havia nenhum traço de Ann Sophie em suas feições. Ann estava encantada, Paul também, Daisy engoliu a vontade de dizer a ele que Maria não era sua única filhotinha, mas Simple tinha pedido para não revelar que Daisy conviveu com Aruna e Safira.
Ela não entendeu, mas obedeceu, certa de que aquele momento de Ann Sophie e Paul merecia que uma preocupação daquelas, a de se saber da existência de Safira, sem saber onde ela estava e se estava bem, fosse afastada.
Daisy tinha certeza que Ann Sophie e Paul, Niyati e Sanyia a entenderiam quando Simple conseguisse trazer Safira e Aruna para a Reserva em segurança.
Eram esses pensamentos que ocupavam a mente de Daisy quando ela se sentou numa pedra e esperou Romulus se sentar a seu lado.
"Safira. Interessante." Ele disse.
"Simple pediu para não contar, eu concordei."
"É, faz sentido. O Quimera obedece a Moses, elas não vão deixá-lo. Só um acordo com Moses fará com que ele as entregue." Romulus disse olhando para a frente, para a paisagem selvagem da Reserva abaixo.
"Eu sempre me perguntei como eu iria morar numa casa tão alta. Bom, não vou mais." Ele disse, Daisy continuou calada.
A casa que Honor construiu para Daisy era do lado da dele, próximo do cume da montanha. Daisy e Honor eram apaixonados por altura. Assim que Daisy deu sua casa para Violet, Honor começou a construir outra.
"Rom..."
"Ah, agora eu sou Rom? Por que quando fui te ver, você me disse: 'Oi, Romulus'! Sabe como me doeu ouvir você me chamar assim?" Ele disse com a fisionomia triste.
"Eu sinto muito, Romulus, muito mesmo. Eu quero que..." Romulus não a deixou terminar:
"Eu sei. Seu coração é enorme e você sempre vai me amar. Desculpa estar tocando nesse assunto, mas é que dói demais." Ele disse ainda olhando para a frente. Os olhos de diamante dele estavam cheios de lágrimas, os dedos de Daisy coçaram para tocar em seus preciosos olhos, mas algo a impedia.
"Ler mentes sempre foi um fardo, D. Sempre. Eu nunca soube lidar com isso, talvez nunca vá aprender. Há algo dentro de mim, há..."
"Uma maldade. É isso, não é? Possessividade aliada a muita violência, não é assim? E tudo isso veio a tona quando nós nos apaixonamos. O que era para ser uma benção em nossas vidas se tornou uma maldição. E eu também não soube lidar com isso, Rom."
Ele passou as mãos pelos cabelos cortados, Daisy não pôde evitar compará-los aos cabelos compridos de Moses. Aruna e Safira brigavam para fazer tranças nele, ele deixava com o rosto fechado, isso tocava o coração de Daisy.
"Ele usa os cabelos compridos." Romulus disse, ela assentiu.
"Como vai ser daqui para sempre, D? Como? Acha que ele vai te deixar ficar aqui?" Daisy apertou os olhos, olhando para Romulus confusa, do que ele estava falando?
"Você está vinculada. Ele também deve estar. Ele tem poder para declarar guerra a nós se nos negarmos a te entregar, ele tem aliados no mundo inteiro!" As palavras de Rom não a assustaram, esse era um assunto que não falavam com ela, mas que estava na boca de todos.
"Ele está ocupado lutando por sua vida. Não vai nem se lembrar de mim e de Pansy."
"Não, ele já venceu o tal Karim. Hoje de manhã, fomos informados que um corpo Nova Espécie foi encontrado no Texas. Como há uma lei acerca disso, estão mandando o corpo pra cá."
Daisy não soube dizer como ela se sentiu ao ouvir aquela informação. Deixar o corpo para ser entregue aos Novas Espécies era um recado. O de que Moses estava no topo novamente.
"Eu não acho que ele virá atrás de mim. Nós..." Romulus rosnou, Daisy se calou.
"Sabe o que mais estampa a sua mente? Os olhos dele. O amor ali. A posse, a..."
Romulus engoliu em seco, Daisy olhou para as mãos.
"Eu vim te dizer que estou do seu lado. Que vou te proteger dele com a minha vida, eu te devo isso. E que te levo se você quiser ir."
Daisy ficou de pé, o choque da declaração de Romulus fez seu coração disparar. Porque era o que ela queria. Sua mente e seu coração eram tão transparentes a Romulus que ele tinha subido a montanha para dizer aquilo a ela, para mostrar que ainda a amava.
"Só quando eu senti que te perdi que eu pude te entender. Amar você cegou meu entendimento, ver seu amor por ele me devolveu a razão. E tudo bem, D. Vengeance se apaixonou muitas vezes até que conhecesse mamãe. Ele sofreu muito por Ann, por Mariah, até pela idiota da Fiona!" Daisy riu, mas uma lágrima lhe desceu pelo rosto.
"Ninguém vai te oferecer isso, é loucura! Mas eu farei essa loucura por você se você quiser. Por que eu sei que ele te ama também e ele é mau o suficiente para arrasar esse lugar por você. Existem lutas que já nascem perdidas e essa é uma delas. Ele quase morreu por simplesmente ter te levado para perto dele, acha que ele terá pena de nós?"
Daisy assentiu. Moses poderia mesmo machucar muitos ali. Ela pensou nos filhotinhos, nos machos da Zona Selvagem que viviam suas vidas isoladas, tranquilas.
"Quando você me leva?" Ela perguntou. Romulus suspirou.
"Devemos esperar o próximo movimento dele. A esperança geral é que haja algum tipo de acordo, talvez..."
"Ele firme um acordo de paz em troca de mim e de Pansy." Daisy disse. Ela se lembrou do quartinho de Pansy, da pintura na parede. Moses tinha feito tudo com muito carinho e ele via o futuro. Nada que ele fazia era por acaso.
"Sim. Ele não entende que se tivermos certeza de que vocês estarão seguras e que se você quiser ir, nunca iríamos te segurar. Ele não sabe que confiamos em você, não sabe que o Vínculo vai impedir que ele te machuque, ou te exponha ao perigo. Ele entende de posse e vingança, não sabe nada sobre confiança e amor."
"Eu posso ensiná-lo." Daisy disse.
Romulus acenou e sorriu.
"Sim, você pode."
Ele se levantou e desceu a montanha, suas costas curvadas com o peso de sua tristeza doeram profundamente em Daisy, mas ela sentiu alívio.
Ela estava vinculada. Esse fato mudava tudo. A partir de assumir isso, Daisy poderia traçar um plano de vida para dali em diante. Suas alternativas eram ir atrás de Moses, ou passar o resto de sua vida sozinha, criando Pansy e sentindo a falta dele.
Daisy chegou à casa de Honor, inspirou e sentiu o cheiro de seu irmão, sua cunhada, de Pansy, dos seis filhotes deles, de Sheer, de...
Daisy ergueu as sobrancelhas enquanto abria a porta, então Noah tinha voltado? Poderia ser Adam, claro, mas algo lhe dizia que era Noah.
Um prato voou na direção dela, Daisy se abaixou, o prato se espatifou na parede, Honor era quem tinha lançado o prato.
"Está doido?" Daisy perguntou, Honor sorriu.
"Você ganhou, Pólux, sua tia realmente desviou." Honor disse tocando sua mão na de seu filhote mais velho, Livie amamentava Aquiles sentada no sofá e balançou a cabeça perplexa.
"Você jogou um prato em mim para fazerem uma aposta?" Daisy disse rosnando.
"Bate nele, bate nele!" Heitor, Romulus e Remo começaram a cantar. Até Livie os acompanhou. Devia ser outra aposta, claro.
"Eu vou bater, vou sim,mas não agora. Meus seios estão transbordando de leite, vou amamentar Pansy e aí sim, Honor! Vou fazer você comer terra."
Daisy disse, os filhotinhos gêmeos rugiram e começaram a entoar para Honor que ele iria comer terra.
"Pansy está com Noah no telhado?" Daisy perguntou, Livie sorriu.
"Sim. Honor a levou lá, ela não quis descer. Noah veio conhecê-la e subiu morrendo de medo, foi engraçado! Agora está lá com ela." Livie disse.
"Faz muito tempo que ele voltou?" Ela e Noah eram amigos de certa forma. É claro que Romulus tinha muito ciúme dele, mas mesmo assim Daisy sempre sentiu admiração e carinho por Noah.
"Ele chegou ontem. Só conseguiu vir ver a gente hoje." Livie explicou.
Daisy entrou no quarto de Pólux e Castor, pois a varanda do quarto deles tinha uma escada que levava para o telhado. Ela subiu a escada, chegou no telhado, na plataforma que Honor tinha criado e viu Noah sentado bem na beirada com Pansy nos braços. Ele a sentiu, se virou e sorriu, Daisy parou, estática. Ele se levantou, ajeitou Pansy adormecida nos braços, os olhos de Daisy mergulharam nos dele e ela perdeu os sentidos.

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