As folhas secas caídas por de frente da calçada concretada em cinza-claro da casa do Igor traziam consigo o contrataste perfeito para esta crônica.
Concreto cinza-claro em volto de alguns pares de faixas horizontais de grama verde. A grama dava a impressão de ser regularmente aparada e perfeitamente - e estranhamente - alinhada ao concreto cinza-claro, que em meio a tanto mato, trouxera a lembrança sórdida e cor tônica da minha cidade, trouxera também a lembrança e cor dos céus nublados de outono: cinza-claro.
Fosse ao amanhecer, as folhas secas haveriam de cair ao som dos bem-te-vi e das outras aves do amanhecer. Sei disto porque naquela manhã estive lá por perto, nossa escola ficara a menos de quatro quadras do lugar. Mesmo que de noite, eu olhava as folhas caídas ao chão - só eu as observava. Lembro-me, - mais claramente, ao menos - do som dos bem-te-vi. Lembro-me do som dos bem-te-vi porque era tempo de outono e lembro-me também porque era este o som que haveria de me despertar do sono nos tempos da casa de minha avó. Haveria despertar mais encantador que o canto dos bem-te-vi?
Acredito eu, que a felicidade esteja presente nessas poucas coisas da nossa vida. Seja numa conversa, seja numa manhã observando o canto dos bem-te-vi. Haverá, no entanto, aquele que colocará a felicidade sobre os bens e posses da vida. Eu haverei de discordar deste, no momento em que me encontro - ou desencontro - acredito que a verdadeira felicidade sobrevoe voos mais altos do que tão somente o tamanho de uma carteira. Felicidade verdadeira faz-se nos momentos excelentes da vida, nos momentos que - de tão bons - fazem com que nos desabroche o desejo de que eles nunca venham a acabar. Felicidade verdadeira, não aquela que se busca como ilusão. Não nos esqueçamos, porém, dos momentos de fraqueza, que de tão ruins e abundantes, fazem com que alguns de nós coloquemo-nos aos pensamentos e reflexões dos homens:
- Há de se existir o momento de fraqueza para que haja o momento de felicidade? Para que fujamos do momento de fraqueza e de altos e baixos - sobretudo os baixos - da vida, quereríamos que a vida fosse regada apenas de mera constância da mediocridade?
Rumo à Casa do Igor. Cheguei lá já quando noite. Ainda sim caíam as folhas, era de se esperar. O evento - aniversário do Igor- exigia que se passasse em meio à noite. Observo ainda as folhas secas. Elas ainda caem quando noite, pude notar. E por qual motivo não haveriam de cair quando em noite?
Caíam mais depressa ainda, com o desleixo da pressa e a calmaria do silêncio noturno. Caíam mais depressa meio à carona do vento frio que cobrira aquela noite. Caíam depressa, sem mais o som dos bem-te-vi, é claro. Caíam desta vez ao som dos morcegos que pairavam sobre as árvores, coitados destes. O outono também haveria de trazer aos morcegos a busca por outro lugar para se esconder do sol - embora este não aparecera com alguma constância no outono.