𝙰 𝙲𝚊𝚙𝚎𝚕𝚊 𝙳𝚎 𝚂𝚊𝚗𝚝𝚊 𝙲𝚎𝚌í𝚕𝚒𝚊 𝙼𝚊𝚗𝚍𝚘𝚞 𝙾 𝙰𝚖𝚘𝚛 𝙴𝚖𝚋𝚘𝚛𝚊

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𝒜 𝒞𝒶𝓅ℯ𝓁𝒶 𝒟ℯ 𝒮𝒶𝓃𝓉𝒶 𝒞ℯ𝒸í𝓁𝒾𝒶 ℳ𝒶𝓃𝒹ℴ𝓊 𝒪 𝒜𝓂ℴ𝓇 ℰ𝓂𝒷ℴ𝓇𝒶

– Bi! – Bi! – Bi! – Os carros cuspiam rusgas e enfrentavam os ônibus ao meio dia. Os pássaros repousavam quietos, observando – compelidamente – as ultrapassagens dos veículos. Primeiro: a moto vermelha ultrapassando a bicicleta. Depois: o carro sedan ultrapassando a moto vermelha. Depois: a bicicleta ultrapassando os dois no sinal vermelho. A tarde nascia, o sol começava a trabalhar. O trabalho era interrompido pelo almoço, a vida urgia. Nas escolas, as crianças mais novas saíam primeiro: uma delas(a primeira) deu a mão à mãe e tornaram a caminhar. Outra, mais tarde, entregou a mochila à tia da van e colocou os fones de ouvido cor-de-rosa-choque, antes mesmo de sentar num dos bancos. Meio dia: cemitério dos sozinhos, repouso dos inocentes.

– Biiii! – O carro afrontava a van. A menina nem ouvia, nem ligava, nem queria. Os fones cor-de-rosa-choque trataram e tratarão de silenciar a vida. Muito embora nós – muitas vezes – nem precisemos de fones de ouvido cor-de-rosa-choque para silenciar a vida.

– Des-gra... – Ca-ram-ba! – completou o tio da van. Meio dia: cemitério dos sozinhos.

– Táxi! – Hey! – Aqui! – Tá livre?

– Pode entrar, meu senhor.

As meias do passageiro estavam trocadas, cada pé com um par diferente. O relógio estava de ponta cabeça, a gravata? Nem havia trazido. Suando frio, tossindo o calor do meio dia, o homem, resignado, ao menos, de que a hora já havia vencido, mesmo que passando mal, entrou no táxi.

– Opa. – Bom dia!

– Boa tar-de, sen-... – é interrompido.

– Boa tarde, né? – Perdão! – Às vezes a gente fica per-di...– interrompido.

– E não é, meu senhor? – Esse mundo deixa a gente doido. – Qualé mesmo o destino?

– Pro Galeão.

Foram rumo ao aeroporto do Galeão, mas o destino mesmo era outro: Recife, Pernambuco: capela de Santa Cecília – consagração divina do amor (também divino) sobre a presença do altíssimo: dois sonhos, dois olhares, um abraço, duas vidas, se unindo num só destino. Um casamento.

Foram rumo ao Galeão, e eu, pobre cronista que vos escreve, mal sabia o que o destino iria me aprontar.

– Pronto senhor, entregue. – Deu... – Quarentinha.

O sol do meio dia fervia os olhos de qualquer um que se atrevia a mirar o céu, o calor se estendia por dentre os interiores do aeroporto. O calor dos interiores do aeroporto urgia os interiores dos passageiros. As músicas de fundo não ajudavam muito, os ritmos passeavam – quase que exclusivamente – à Bossa Nova dos anos 60 e Jazz Instrumental no piano. E não que a Bossa e o Jazz sejam ruins, não, por Deus!!! Eu amo você, aliás, minha Bossa, nossa Bossa, mas você e calor excessivo não dá! E tem música que é assim mesmo, como Jazz no piano: já se imaginaram escutando piano na praia? É lindo, mas... no calor? Bossa Nova pede chocolate quente e sobretudo, clama incessantemente por sereno de outono e duas voltas de cachecol no pescoço! Passeio de mãos dadas sobre as luzes do inverno. Abraço quente na brisa fria, sopro no fondue com chocolate branco, noite de fondue com chocolate branco, noite!

𝙸𝚗𝚝𝚒𝚖𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora