Veio ao mundo - ontem - meu terceiro irmão, e como é lindo o garoto! Olhos claros, beiços carnudos, nariz imponente de árabe, ou talvez de afro descendente - não se dá certeza ainda. Veio Heitor ao mundo. Barriga espichada, três quilos e pouquinho, loiro que só ele - se parece bastante comigo.
Diz minha mãe que Heitor é a minha pessoa em pessoa, exceto pelo seu nariz - diz ser de árabe igual ao do meu irmão Luis, mas insisto: não se dá certeza ainda. Nasceu às vinte horas e meia ou por aí, sei mesmo é que sua primeira fotografia me veio quando já se passavam das vinte e duas horas: bateu à porta - ressabiado de que eu pudera estar dormindo -, trouxe ao quarto o celular e mostrou-me entusiasmado a primeira foto do nosso mais novo irmão - pelado como veio ao mundo, barriga espichada, loiro que só ele!
– David? David! Olha o Heitor! – Mostrou-me a foto.
Mais tarde veio minha mãe, mandou-me fotos e mais fotos do Heitorzinho - apelido que acabo de dar. Veio a coleção inteira desta vez: com chupeta, sem toca e todo embrulhadinho na manta - sem chupeta, com toca e embrulhadinho na manta e no cobertor - sem toca e sem chupeta, embrulhadinho na manta e no colo e outras mais.
Veio Heitorzinho ao mundo - vinte e seis de junho de dois mil e vinte e três. Diz minha mãe que volta já hoje para casa, não vejo a hora de ver o Heitorzinho de perto - trouxe-me alegria à noite de ontem.
Comentava ontem mesmo que não sou muito fã do nome, deixo aqui registrado. Teria colocado Arthur ou Henrique, especialmente Arthur - gosto do nome. Tenho me acostumado, porém, com o apelido que acabo de dar - Heitorzinho.
Heitor Ramos. Não se sabe ainda o sobrenome, não se foi registrado - mas Ramos haverá de ter, certificou minha mãe.
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Heitorzinho Ramos, farei dele o meu projeto de filho. Farei questão de que todo o tempo limitado que houver ao lado dele se limite apenas à duas coisas: Santos Futebol Clube e música.
Farei dele meu projeto de filho: ensinarei a dar o primeiro passe antes mesmo de engatinhar, farei ouvir Getz/Gilberto e vibrar com cada vocal secundário de Daniel Caesar em Never Enough antes mesmo de dizer sua primeira palavra. Terá sobre seu berço sua primeira bandeira do Santos - comprada por mim.
Dia vinte e seis de junho de dois mil e vinte e três - andava triste à noite, por conta de tudo o que não aconteceu e que deveria ter acontecido, retrato o sentimento em SUPERPOWERS - ainda dói bastante. Eu bebia quando me veio ao quarto meu irmão para mostrar a foto do Heitorzinho. Bebia e cantava Superpowers. Também cantava Won't Live Here e também cantava Você Vai Ver e Corcovado. Heitorzinho trouxe-me alegria, trouxe-me um bocado de orgulho também - saudável, forte, de barriga espichada, loiro que só ele e parecido comigo que só eu, trouxe-me alegria.
Pus-me a postar a foto dele para os mais chegados, estava todo embrulhadinho na mantinha azul dele - farei com que azul também seja a cor que ele mais gosta, azul e branco. Não me satisfiz em postar para os mais chegados apenas no status do WhatsApp, mandei-lhes também via mensagem privada.
– Que lindo! Parabéns!
– Ah meu Deus, não aguento! Que fofo!
– Que benção, espero que venha com muita saúde! Parabéns!
– Bem-vindo ao mundo Heitor! -v-
Esta última foi da Beatriz, ainda não sei muito bem o motivo de ela usar esses bonecos de palito para qualquer mensagem, li-ter-al-men-te qualquer mensagem. Diz ela que usa como "carinhas", eu digo que mais se assemelham aos urubus da linha vermelha isto que chama de carinhas - nem mesmo ela sabe descrever as "carinhas" que usa, apenas usa e diz que são carinhas.
É bastante bonita a alegria com que as pessoas encaram a chegada de um recém-nascido. É sempre muito belo, e tornou-se - para mim - mais belo ainda agora, que tenho um novo irmão - meu projeto de filho. Jogará como meia-esquerda como eu, gostará de azul como eu, sofrerá pelo Santos Futebol Clube como eu e será apaixonado por música como eu - eis aqui as pretensões de irmão mais velho.
:) :> ;> -v-
Algumas se parecem com carinhas, até.
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