(com sono e com saudade, escutando "Loose", de Daniel Caesar)
Cá estou, repleto de pesadelos e despedaçado, em frangalhos. Contando as estrelas, contando as memórias, contando os sentimentos... Cá estou, em demasia de um certo luto que é rejuvenescido pela saudade que sinto, e enormemente retroalimentado pelo vácuo que existe na tua ausência. Caçado, foragido, perdido em sentimentos e palavras que não têm significado. Afogado em mágoas que não tem nome, buscando por pesadelos que se desatam conforme acho que estou acordado. Tenho sono, tenho saudade. O sono passa, a saudade fica. Tudo se resume à cópia da cópia da cópia, parafraseando de forma uníssona o romance de Palahniuk porquê tenho lutado quase que inteiramente contra esta doença que não tem cura. Vez ou outra desisto de lutar e deito-me à cama, resignado, durmo. Oito, nove, dez horas seguidas... Até deparar com teus braços em algum sonho qualquer travestido de pesadelo - acordo, com medo, verificando meus espasmos e calafrios na falta de você. Minha vida urge, meu peito se espalha em bares que não têm nome, minha boca toca bocas que não têm gosto, minhas mãos apertam outras mãos que nem as conhece, como eu não as conheço mais, como ninguém nunca as conheceu tão bem quanto você. Eu durmo com pessoas que não tenho conhecimento, e assim prefiro manter: este sigilo de intimidade, este pouco caso de qualquer corpo que não seja o teu. Prefiro calar minha sede com algum espasmo de nostalgia, com ciúmes do passado distante dos nossos momentos(passados e também distantes). Eu busco tua pele no frio, na preguiça, no cheiro de café quente recém passado pelas manhãs, mesmo que não seja o teu café. Eu aprendi a passar café só para fingir que você ainda passa o café. Ontem - só ontem - não passei o café porquê sonhei com você. Deu preguiça de acordar sem ninguém para pendurar pelos braços e dar bom dia, com o olho ainda pregado de sono, dizer: "eu amo você". Eu adoro sonhar com você porquê nos meus sonhos sempre deu tempo de dizer que te amo. Quando acordado, jamais. Eu esqueci de dizer que te amava e me perdi nesse esquecimento tanto quanto me perco no horário quando sonho com você. Acordo sozinho, atrasado para o serviço, atrasado para o amor. Tenho vivido em atraso também, com ciúmes de um passado que existiu e na esperança de um futuro que nunca irá existir.
Você pode, ao menos, passar o café?