A Morte da Crônica | #06

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Escrever mais uma página: liberdade ou sujeição?

Sujeição não é, não comigo.

Escrever uma ou duas páginas por semana pode se transformar em um sentimento de sujeição por vezes - mas não é (não comigo). Não tenho de prestar contas a ninguém. Não tenho de escrever semanalmente por objetivo colocado por qualquer pessoa que não eu, o que é o suficiente para anular o que seria a sujeição do cronista - ao menos comigo.

Não sou obrigado a escrever páginas e páginas a cada dia, muito menos a cada semana. Não tenho de prestar contas para redator de jornal ou diretor de revistas. Minhas palavras nunca nem foram medidas pelos quês ou porquês de quaisquer outras pessoas - amigos, família, pessoas no geral. Minhas palavras nunca foram medidas por alguém, ou ninguém. Fato é que eu não me deixo submeter aos pitacos dos aspirantes à críticos de crônica e nem aos pitacos dos aspirantes à cronista - e então proponho: que sentido haverá colocar-me na posição daquele se submete aos diretores de jornais e revistas? Não o faço, e não o farei - este discurso é muito belo, mas simboliza o que eu chamo de a morte da crônica. A liberdade de poder publicar em qualquer lugar também traz consigo a morte da mídia antiga, uma vez que a descentralização do monopólio que os jornais e revistas tinham - que sustentavam as crônicas - tenha feito com que esses locais de postagem tenham perdido seu espaço com o passar do tempo. Uma matemática bem simples: você ganha seu espaço próprio com as redes - todos ganham seu próprio espaço - os jornais perdem espaço - a crônica perde espaço. Você consegue postar suas palavras e textos em qualquer mídia social sua(até mesmo uma rede social para leitores), mas não terá o mesmo espaço que houveram tido os jornais e revistas da época áurea da crônica brasileira - não terá o mesmo impacto, ao menos.

A morte da crônica. Qualquer texto coeso que houver o objetivo de defender tese ou expor argumentos - dissertação argumentativa - sobre o a morte da crônica, haverá de contextualizar os passados, antepassados, passados distantes, passados-passados, origem dos antepassados, origem dos passados distantes e coisas do tipo. Não escrevo textos dissertativos, tão pouco conto com a pretensão de conquistar a ideia e ponto de vista de qualquer leitor que não seja eu mesmo. Aos outros, cabe a mim apenas expor minhas ideias - aqui estão.

Escrevo crônicas, escrevo sobre o meu cotidiano e escrevo sobre o que penso sobre o meu cotidiano

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Escrevo crônicas, escrevo sobre o meu cotidiano e escrevo sobre o que penso sobre o meu cotidiano. Minha pretensão é pouca o suficiente para não procurar justificativas tão minuciosas - ou sustentadas - para as minhas ideias, e é grande o suficiente para encarar isso como algo útil - o meu papel. Cabe a mim apenas expor minhas palavras. Por vezes desleixado pela pressa, por vezes esquentado pela lentidão - é isto, porém, que cabe a mim: expor minhas palavras - com concordância verbal, com controle de orações, com algumas pontuações bastante específicas, com palavras das quais as pessoas conheçam ou não, com palavras que eu reconheça e com palavras que eu saiba usar e entender - escrevo para mim, sou o meu próprio leitor. Aí está o meu papel, pretensões de vassalo estas minhas - achar que não escrevo bem e achar que escrevo só para mim. Autoestima enorme a que tenho, autoestima tamanha que tão somente ela - sozinha por vezes - é capaz de ilustrar minha pretensão de rei.

𝙸𝚗𝚝𝚒𝚖𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora