𝙳𝚒𝚊 𝚍𝚊𝚜 𝙼𝚘ç𝚊𝚜 | #28

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A vi passando, hoje cedinho. Calada, aflita, encantada talvez. Caminhou e passou por todos os homens da praça e, mesmo que calada ouviu, quase que despretenciosamente, alguma bobagem que algum homem ou outro sussurrou à ela, de fininho. Alguma bobagem que os homens dizem, há milênios, às moças bonitas, numa feroz tentativa de qualquer objetivo sem sentido ou encoberto pelo prazer animal, pelo sentir ferozmente, a atração momentânea que sentem - há milênios - pelas moças bonitas.

Carregava um buquê de rosas brancas e, - talvez - alguns girassóis. As rosas, também caladas, combinavam enormemente com seu sorriso que, aflito e ansioso - e calado - , reluzia confortavelmente o encanto das moças bonitas, que num fim de tarde do dia das moças, carregam - entre sorrisos-sem-graça e olhares de lado - algumas rosas, alguns girassóis... Algum chocolate ou outro, convite ou outro, presente ou outro, agrado ou outro. Alguma felicidade ou outra de, apesar das bobagens dos homens, sentir-se moça no dia das moças, caber confortavelmente na alegria de ser moça e agradável, diferentemente dos homens, que - como há milênios sussurram bobagens - há milênios são desagradavelmente desnecessários, inconvenientes e, sobretudo homens - desnecessários e inconvenientes.

Passou-me de fronte, assustada. Talvez por não ter me visto carinhosamente e, confusa, ter me confundido com qualquer outro dos homens, desagradavelmente inconvenientes. O susto poderia ter vindo do medo - ou receio - de eu, desajeitado e sem rumo, derrubar ou não, mesmo que sem querer, as rosas brancas e os girassóis. É bastante genuína a preocupação com as rosas e com os girassóis porquê, na ausência dos homens agradáveis, resta-se, quase que exclusivamente as rosas brancas e os girassóis. Um alecrim ou outro, uma petúnia ou outra... O homem, tolo que é, sempre afastou, desuniu e abandonou. As flores, jamais!

Eu, desajeitado e sem rumo

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Eu, desajeitado e sem rumo. Exilado, sozinho, tolo - sem rumo. Mesmo assim olhou-me nos olhos, e, quase que querendo pedir licença, não pediu. Foi-se embora, com as rosas brancas, com os girassóis. Penso eu, que os girassóis são bastante agradáveis e decentes, companheiros, gentis... Com certeza mais do que nós homens, tolos e escassos de conveniência.

Olhei-a a boca, que dizia tudo sem sequer fazer sussurros ou suspiros, não precisava e, por vezes não precisamos falar para dizer coisas com a boca. A boca, diferentemente do olhar, do toque, do aconchego, não precisa de nenhuma frase ou gesto para trazer sentido às coisas. Não necessita que usemos ela de forma tão pouco razoável, trazendo à ela palavras, frases... quanta indelicadeza! Reduzir à boca as frases e palavras, os sussurros às moças, as bobagens... A palavra - como o homem e com o homem - sempre afastou, desuniu e abandonou. A boca - como as flores - jamais!

Como uma criança, como um abraço. Fez algum certo abrigo com a boca, tocou-me o coração. Algum certo sentimento que fica, com a saudade, na esperança de encontrar o abrigo que há na felicidade, de fazer com que este abrigo se reduza enormemente e, tão somente, na eternidade, apenas. De modo que não precise dos homens nem das rosas brancas e dos girassóis! Este gesto verossimilmente sutil e inocente, que fazem as crianças. Que esquecemos e reduzimos à desmoralização tola e elucidamos como "fazer biquinho".

Foi-se embora, de fato. E agora, que sumiu por dentre os homens tolos e os girassóis, não a vejo mais. Não consigo encontrar mais maneiras de, tentando reverter a tolice e indelicadeza que fiz, desejar-lhe - depois de pedir perdão pela indelicadeza e com algum certo receio da resposta - feliz dia das moças. Não a vejo mais e, calada que veio - e calada que foi - merecia algum desejo de felicidade, ou até mesmo algum simples afeto, mesmo que por educação.

Que complicada a simplicidade! Merecia algo de algum homem - tolo que sou - que fosse diferente dos sussurros e das bobagens que nós, há milênios dizemos e fazemos às mulheres.

Para o dom de retratamento, moça dos cabelos pretos, olhos castanhos e vestido cor-de-rosa, venho aqui desejar-lhe, com nenhuma pretensão que não seja o retratamento pela indelicadeza deste que vos escreve, um feliz dia das moças!

E para as outras moças, não obstante, deixo aqui registrado. Que a vida vos traga mais rosas brancas e girassóis do que homens tolos, daqui para frente.

Feliz dia das moças!

Feliz dia das moças!

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𝙸𝚗𝚝𝚒𝚖𝚒𝚍𝚊𝚍𝚎Onde histórias criam vida. Descubra agora